Ah, admirável mundo novo! As redes sociais são aquele ambiente em que mesmo para os críticos há lugares cativos e de constante visitação. Já faz parte do cotidiano esse local de casais felizes, de análises perspicazes, dos mais estimados analistas políticos, de jornalistas da mais alta estirpe e, principalmente, de donos da razão que postam a cada minuto as últimas versões do que é tido por verdades. É um caminho sem volta!
Contudo, a problemática na comunicação surge quando há indícios de que as informações que cirandam na órbita das redes sociais são tratadas como de outra natureza. Explico. O que se percebe e vê nas redes sociais carrega em si a natureza de seu ambiente. Assim, cuidados com apuração, checagem de informação e até mesmo de fontes se tornam secundários, pois a rede social tem como foco a socialização em rede e que cabe aos usuários apenas postar, curtir ou compartilhar. Aliás, o espaço para posts traz a sugestão: “Escreva aqui o que você está pensando”. Com isso, é natural a produção maior de material baseado em “achismo” do que em técnica.
Há o espaço para comentários, mas que não propiciam um debate, ou mesmo diálogo, já que tais comentaristas na verdade estão desabafando seus pontos de vista e não apresentam qualquer disposição para mudar de opinião, ou reconhecer que o outro possa estar com a razão.
Considerar as redes sociais como fonte para conhecimento pode ser um erro. Isso porque as redes podem também cumprir tal papel, mas não é seu compromisso primário. E isso faz a diferença. O contrário também é verdadeiro. Considerar os veículos tradicionais de imprensa apenas como mais um personagem que tem conta nas redes sociais pode ser algo que venha a comprometer não apenas a informação, mas também o modo como o receptor compreende a mesma informação.
Tempo e humildade
Vivemos em dias plurais. Uma mídia tradicional pode se manifestar e até ocupar seu espaço nas redes sociais, como também personagens apenas virtuais podem cumprir o papel de reportar. Mas entender a natureza estrutural de cada um e seu compromisso primeiro tem reflexos também na assimilação do que é dito.
Registra-se aqui não haver necessidade de demonização de um ambiente ou outro. Nem mesmo a divinização de um em detrimento de outro. Afinal, vivemos em dias plurais. Não há mais espaço e tempo para dicotomias. O comunicador contemporâneo traz em si a característica justamente de transitar pelos mundos existentes, real e virtual. O receio é se o foca de hoje terá o cuidado e a malandragem daquele jornalista antigo, tido até por rabugento, que desconfia até de uma informação passada pela mãe.
Neste cenário, dois elementos estão em falta: tempo e humildade. A extinção no mercado desses elementos revela que não há muito tempo para apuração, ou mesmo sequer para fazer uma matéria investigativa com investigação. A redundância se torna ironia. Em paralelo, também não há humildade para reconhecer e assumir erros ou para admitir que um outro (até mesmo um opositor ideológico) possa ter tido uma ideia melhor, e estar certo.
Pode até parecer piegas, mas não é muito difícil perceber que a falta de tempo e a falta de humildade de muitos veículos e de alguns profissionais podem trazer distorções nas matérias publicadas. Seja em um jornal, blog ou mesmo no Facebook. A produção se torna tendenciosa e seu compromisso passar a ser com o orgulho pessoal, não mais com a informação.
Um jornalista deve considerar os novos ambientes e plataformas como novas áreas de exposição de seu trabalho, que não mudou. Colher, apurar, checar e publicar (ou postar se preferir) é um processo antigo, mas seguro para o trato com a informação.
Devemos escrever para informar, ou mesmo para induzir à reflexão. Mas esse admirável mundo novo, que assim como o romance de 1932 exibe um futuro onde a sociedade está pré-condicionada a viver o politicamente correto e segmentada, traz a sensação de que muitos escrevem não para informar, mas para no final perguntar: você curte, ou compartilha?
*Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista