O ano de 2013 evoca não apenas os 50 anos do golpe militar de 1964, aniversário que alguns brasileiros comemorarão em 1º de abril, dia da mentira, como também os 25 anos da morte do cantor e compositor Raul Seixas, cujas canções tocam em pontos nevrálgicos dos problemas políticos, sociais e culturais do Brasil das décadas de 1970 e 1980, contribuindo para a construção de uma memória contra o esquecimento da ditadura civil-militar de 1964-1985.
As canções de Raul Seixas revelam uma memória das tensões que ocorriam no Brasil dos anos de chumbo, além de abordar uma discussão premente e indispensável sobre as causas e os efeitos do golpe militar e do processo de redemocratização, com a nova forma de capitalismo que então surgia.
Nos anos 1970, a discografia do artista foi marcada por composições utópicas e afirmativas, cantando em nome de liberdade, mudança e emancipação. Diante do autoritarismo, o maluco beleza se apropriou da ideia de Novo Aeon apresentada pelo ocultista inglês Aleister Crowley para formular o seu próprio projeto de uma Sociedade Alternativa.
A década de 1980 jogou para escanteio a insatisfação radical que existia por trás do desejo utópico presente nas sociedades capitalistas durante as décadas de 1960 e 70. Nesse contexto, a obra de Raul Seixas passou a apresentar um caráter melancólico, de certo modo resignado, marcando o aspecto traumático das suas experiências. Ele passou a abordar temas como frustração, internação, doença e alcoolismo. Entre o tom melancólico e o irônico, a obra do compositor produzida nos anos 1980, apesar de manter acesa a quase apagada chama da utopia, projeta um mundo dilacerado e de valores degradados, manifestando instabilidades, como tudo que é reprimido ou contestado.
Sofrendo com o caos vigente e frente a um mundo esvaziado de sentidos, Raul Seixas foi impelido a recriar novos mecanismos de significação, sonhando com outra ordem, vislumbrando horizontes onde aparecem novas possibilidades – no caso, a utopia de uma Sociedade Alternativa inserida em novos valores socioculturais.
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Vitor Cei é doutorando em Estudos Literários pela UFMG, autor do livro Novo Aeon: Raul Seixas no torvelinho de seu tempo