Ufa !!!! A festa dos 90 anos do “Globo”, felizmente, encerrou-se nesta quarta feira, 29 de Julho. Dos três jornalões sobreviventes — ditos nacionais — o antigo vespertino carioca é o caçula. E os caçulas são geralmente mimados, impertinentes, abusados. Acham que podem tudo, principalmente quando sozinhos em casa. O jornal fundado por Irineu Marinho em 1925 é praticamente dono da praça do Rio (acompanhado pelo valente “O Dia”, o “Expresso” além do engraçado “Meia Hora”) e o carro-chefe de um dos maiores grupos midiáticos do ocidente.
A festança durou uma eternidade e embaralhou completamente o noticiário. O jornal ficou irreconhecível, chatíssimo, ególatra, absolutamente autocentrado e, como sói acontecer, mais manipulado do que o normal.
O interminável retrospecto confundiu-se com a rememoração dos 450 anos da fundação da cidade e passou ao leitorado a impressão de que o “Globo” é o centro do mundo, espelho da cidade e, de certa forma do Brasil, já que até meados dos anos 70 o Rio ainda vivia a fantasia de ser capital da República.
Em grandes ocasiões, grandes jornais brindam os leitores com caprichados cadernos especiais — um convite para guarda-los como lembrança. A infeliz opção de dispersar os textos festeiros ao longo do jornal por tantos dias (30 ? 40 ? 50?) banalizou-os, tirou-lhes qualquer importância e credibilidade.
Quando em 1991 o JB completou um século de existência, ou quando, há pouco, o “Estadão” comemorou os seus gloriosos 140 anos e a “Folha” os seus 90 (agora está com 94) as lantejoulas foram exibidas com mais discrição e compostura. Com mais classe.
O “Globo” excedeu-se nas libações retro-festivas, esbanjou poderio, ostentou o pouco que tem e misturou-o com o que não tem. Confrontou o próprio estilo austero de Roberto Marinho. Se tivesse um concorrente no mesmo segmento e de igual porte teria sido mais contido e reservado — por vontade própria ou forçado pela inevitável zombaria.
No último embate jornalístico com o “Jornal do Brasil” quando decidiu romper a praxe e invadiu o apetitoso domingo reservado aos matutinos, o “Globo” foi fragorosamente batido. Mesmo usando e abusando do rolo compressor da TV.
Sozinho em campo, “The Globe” perdeu o senso de medida, inebriado consigo mesmo. Assim não se faz gol, perguntem lá em cima ao Armando Nogueira. Dirá ele que a festinha dos 90 anos foi gol contra, goleada no estilo alemão. Tantas foram as lambanças historiográficas cometidas durante esta temporada que em breve nas escolas de jornalismo será fácil pinçar a manipulação perfeita, o factoide padrão FIFA, a mentira em estado puro.
Isso não impede que este observador lembre aos amigos e camaradas da redação do “Globo” o sábio bordão do inesquecível Ibrahim Sued: os cães ladram, a caravana passa. Bola pra frente, a demã !