Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. E bem-vindos à história. Em 1999, há cinco anos, dedicamos uma de nossas edições ao papel desempenhado pela mídia no suicídio de Getúlio Vargas. Hoje, no quinqüagésimo aniversário do episódio mais trágico da nossa vida política, voltamos ao assunto.
A história escreve-se em camadas, sem ponto final, cada página pede complementações. E, por coincidência, Getúlio Vargas volta à ordem do dia. Em primeiro lugar como inspirador do debate sobre o papel do Estado no desenvolvimento nacional. Mas Getúlio Vargas também volta como vilão. Com o lançamento do filme Olga, reaparece com toda a sua força a violência do Estado Novo, a proximidade do Brasil com o nazi-fascismo. O terror dos campos de concentração na longínqua Europa chega perto de nós no exato momento em que o homem que aceitou a entrega de Olga Prestes à Gestapo é lembrado junto com o seu trágico fim.
Apesar das atualizações esta edição do Observatório não pode esquecer o mote do programa exibido em 1999. Entre 5 de agosto, quando pistoleiros tentaram calar o jornalista Carlos Lacerda e mataram um oficial da Aeronáutica, e 24 de agosto, quando Getúlio Vargas deu um tiro no peito, naqueles 19 dias a imprensa brasileira desempenhou um triste papel.
Quando mostramos o perigo do denuncismo e os riscos dos prejulgamentos, não podemos esquecer o linchamento a que foi submetido o presidente Vargas. Quando insistimos em lembrar que jornais e jornalistas devem resistir à tentação de se transformarem em atores da cena política, não podemos esquecer que naquele agosto de 1954 assistimos à maior exibição de prepotência da história do nosso jornalismo.
Ao combinar jornalismo e história é nossa intenção mostrar que jornalismo é história. Pequenas irresponsabilidades da mídia podem provocar traumas irreparáveis. Indignações e endeusamentos só contribuem para prejudicar a busca da verdade. Todos os personagens que participaram da tragédia de 24 de agosto de 1954 já desapareceram, mas as lições do episódio estão quentes. E vivas.
A história precisa ser conhecida para não ser repetida. A história precisa ser conhecida para não se manipulada. Mas a história não está apenas nos compêndios de história, está nos jornais de todos os dias. Atenção para eles.