Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Binômio, jornalismo e história

No começo, Binômio era apenas uma brincadeira entre estudantes que a polícia levou a sério. Eles também. Cansados de viver de sombra e água fresca, começaram a fazer jornalismo e história, na arcaica Belo Horizonte dos venturosos anos 1950, divisada entre Juscelinos, Bias Fortes, Lucianos e tantos outros mais. O jornalismo vinha das fileiras históricas de Campos Gerais, no centroeste mineiro, na figura genial de José Maria Rabelo; a história vinha das frondosas árvores da Zona da Mata mineira, da musical Ubá, na figura generosa de Euro Arantes, que a partir dos tipos móveis de Gutenberg criaram uma terceira arte, apelidada de imprensa alternativa, que depois emprestaria sua fórmula e seu caminho a O Pasquim, Opinião, Movimento, entre tantos outros.

Já no primeiro número do jornal, saído no domingo do dia 17 de fevereiro de 1952, composto manualmente e rodado em papel de péssima qualidade, com quatro páginas tablóide, selou-se um caso de amor incondicional entre a capital mineira e o semanário-jornal. Era amor verdadeiro, nutrido pelos editoriais inspirados de José Maria Rabêlo e Euro Arantes, pelas matérias de Roberto Drummond e Ponce de Leon, pelas fotos de Antônio Cocenza, pelas charges de Ziraldo, Raf, Borjalo, pelas colunas do General da Banda e General Legal, pela diagramação de Oséas de Carvalho, entre tantas estrelas que começavam a brilhar, como José Aparecido de Oliveira, Alberico Souza Cruz, Fernando Gabeira, Paulo Mendes Campos, Afonso Romano de Sant´Anna, Cyro Siqueira, Fábio Lucas, Mauro Santayanna, entre tantos outros nomes em 12 anos de jornalismo e escola.

Pregando a boa nova

Pioneiro, destemido, debochado, ousado, irônico, criativo, cívico, irreverente, contundente, heróico, inovador e genial, loucamente genial… profundamente genial… que saudade… que saudade. Assim foi o Binômio, uma perfeita interação entre o jornalismo, o jornalista e o seu tempo.

Como era um caso de amor verdadeiro entre a cidade e o jornal, e isso havia virado Minas de cabeça para baixo, ele teria que ser interrompido pelos medíocres, por aqueles que não entendem que a história se faz a partir dos sonhos dos homens. Após o dia 30 de março de 1964, depois de vários Punaros Bleys, a ditadura caduca impediu a circulação do Binômio e passou a perseguir aqueles que o faziam. José Maria exilou-se mundo afora. Euro, assistia a tudo, indignado, lá do céu.

A minha revolta é que não ouvi falar do Binômio durante os meus quatro anos de faculdade de Jornalismo. Um profundo desrespeito ao jornalismo, à história do jornalismo, à história da cidade de Belo Horizonte e, principalmente, àquele que recorre a uma faculdade para aprender um pouco sobre as coisas deste mundo e do seu tempo. Aprendi que a nossa história se faz mais nas ruas que nas bancadas das universidades. Pena!

Agora, depois de ler nas páginas do tempo as glórias do Binômio, sigo por aí afora pregando a boa nova que nunca se perdeu de nós. Sigo como o velho jornaleiro anunciando aqui, ali e acolá, a grande ‘velhice que chegou’.

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Jornalista e escritor