A mídia brasileira claudicou na rememoração sobre a Segunda Guerra Mundial e o dia V-E – dia em que a guerra terminou na Europa. Falou-se na invasão da Polônia no dia 1º de setembro de 1939, mas não se lembrou que, pela primeira vez na história militar, um ataque de um país contra outro começou com o bombardeio da população civil.
A invasão da Polônia mostrou que aquela não seria uma guerra ‘convencional’, o campo de batalha ultrapassou as fronteiras entre os beligerantes e estendeu-se às grandes cidades.
Iniciava-se naquele momento um novo tipo de conflito bélico, a guerra total (as primeiras experiências foram feitas em 1936, na Espanha, pelos assessores alemães que atuavam a serviço das tropas de Francisco Franco). Estava decretado o fim das diferenças entre civis e soldados, entre linha de frente e retaguarda. Mesmo que Hitler tenha sido derrotado no dia 8 de maio de 1945, a verdade é que, 60 anos depois, triunfou a sua concepção da guerra absoluta. Basta olhar o que está acontecendo no Iraque.
Detalhe? Pode ser. Mas se a mídia impressa pretende enfrentar a internet – e apresentar-se como alternativa qualitativa – precisará cuidar destes detalhes capazes de oferecer aos leitores uma perspectiva real dos acontecimentos.
Faltam em nossas redações os especialistas capazes de alimentar os repórteres e os enviados especiais com as referências sobre as quais montarão as suas coberturas. Para convocar estes especialistas é preciso que, antes, haja um empenho efetivamente qualitativo em matéria noticiosa.
‘Linha justa’ e conivência
Mais importante do que aquela mudança conceitual na forma de guerrear é o panorama político sobre o qual desenrolou-se: 17 dias depois da invasão alemã, a URSS abocanhou a sua parte da Polônia. O país deixou de existir.
Isto não aconteceu por acaso: um mês antes, no Kremlin, diante de um Stalin sorridente, o chanceler alemão von Ribbentrop e o seu colega soviético Molotov assinavam um pacto de não-agressão que praticamente antecipou a guerra.
Este fato é extremamente relevante para a nossa história política porque, a partir do pacto nazi-soviético, os comunistas brasileiros e os seus simpatizantes calaram-se diante das barbaridades hitleristas. Raros foram os jornalistas de esquerda que se revoltaram contra a ‘linha justa’ – Samuel Wainer foi um deles.
Com o Estado Novo deixando-se seduzir pelas tentadoras ofertas de Berlim e a esquerda pró-soviética silenciada pelo pacto de Moscou, a resistência antinazista no Brasil ficou por conta dos liberais que não estavam presos ou no exílio.
A situação só se reverteu em 30 de junho de 1941, quando os nazistas invadiram a então União Soviética e os comunistas brasileiros finalmente voltaram à linha de frente da luta antinazista.