Fábrica de ídolos, potente ferramenta política e uma das mais significativas referências da história das comunicações no Brasil. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro tem muita história para contar, cantar e encantar.
Inaugurada em setembro de 1936, durante as décadas de 1940 e 1950 a emissora foi líder absoluta de audiência e mania nacional. Sediada na Praça Mauá, zona portuária do Rio de Janeiro, a Rádio Nacional fazia transmissões em ondas curtas e, depois de algum tempo, passou a ter sua programação transmitida para todo o país, tornando-se símbolo de integração e fortalecimento da identidade brasileira.
É difícil traçar um paralelo entre o que representava a Nacional há 60 anos e o que são as estações de rádio hoje para o público. Fica mais fácil se a compararmos com o papel desempenhado pela televisão nos nossos dias. O fascínio e a devoção dos ouvintes à Rádio Nacional equivalem ao poder e influência que a TV exerce hoje sobre os telespectadores no Brasil e no resto do mundo.
Foi a televisão, inclusive, a causadora do início do declínio da Nacional. O aparecimento da telinha desbancou o veículo desprovido de imagens e pôs fim à chamada ‘era do rádio’, época em que, mais do que passividade, exigia-se do público imaginação e criatividade. Neste contexto, a Nacional era o veículo completo. Reunia centenas de cantores, maestros, atores, instrumentistas, comediantes, repórteres e locutores em programas musicais, jornalísticos, de humor, esportivos e radionovelas.
As transmissões de alguns programas, assim como a apresentação dos cantores, podiam ser assistidas pelo público no auditório da emissora, com capacidade para quase 486 lugares, no 21º andar de sua sede. A Rádio Nacional foi responsável por uma grande transformação no cenário da música popular brasileira. Foi na emissora que simples músicos tornaram-se ídolos populares e concursos como ‘A Rainha do Rádio’ consagraram as cantoras Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira e Ângela Maria.
As radionovelas encenadas no auditório da Nacional também marcaram época. Em busca da felicidade, a primeira a ser transmitida, durou três anos. O direito de nascer e Jerônimo, o herói do sertão, dois dos maiores sucessos, foram depois adaptados para a televisão. A febre era tanta que nas duas décadas de maior sucesso foram feitas mais de 800 novelas.
Pioneirismo jornalístico
Em 1940, em pleno Estado Novo, Getúlio Vargas percebeu o poder do rádio e decidiu investir no veículo como forma de atingir um maior número de pessoas e fortalecer o sentimento nacionalista dos brasileiros. Assim, transforma a emissora em patrimônio nacional com o objetivo de torná-la a transmissora oficial das políticas do governo. Mas, diferente de outras empresas estatais, a Nacional continuou a ser tratada como um empreendimento privado, com receita proveniente de anúncios publicitários – o que lhe proporcionava uma certa liberdade.
Em 1941, durante a II Guerra Mundial, estréia o Repórter Esso, noticiário que viria a se tornar o mais importante do país. Além dele, a Nacional também se destacou por ser a primeira emissora brasileira de rádio a ter uma divisão de jornalismo, além de uma seção de divulgação e outra de esportes.
Luz no fim do túnel
Com o fim da era de grandeza do rádio, a Nacional experimentou um longo período de deterioração e decadência. Mas nunca fechou. Continuou funcionando, embora sem o brilho e o glamour que a caracterizavam. Com equipamentos danificados, programação inexpressiva e conceito indefinido, a emissora estava prestes a ver sua longa história terminar. Até que em maio de 2003 foi salva pela assinatura de um convênio entre a Petrobras e a Radiobrás, com a promessa de sua revitalização. Pouco mais de um ano depois, aí está a nova Rádio Nacional, com a promessa de um longo futuro de histórias para contar.