Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Uma fotografia que virou monumento

Joe Rosenthal nasceu em Washington DC (9/10/1911) e logo mudou-se para São Francisco, Califórnia. Seu gosto por fotografias começou durante a Grande Depressão. Aos 19 anos foi trabalhar como profissional na Newspaper Interprise e, em 1932, no San Francisco News.

Com a chegada da Segunda Guerra, por deficiência na visão foi recusado para o serviço militar, mas empregou-se na Associated Press (AP) e, como fotógrafo, embarcou para o teatro de operações no Pacífico seguindo as tropas estadunidenses.

No inverno de 1945, por cinco semanas 30 mil marines combatiam os japoneses para conquistar Iwo Jima, ilha do Pacífico e fortificação das tropas imperiais do Sol Nascente. Uma batalha sangrenta e feroz, em que os soldados dos Estados Unidos deixaram 6,8 mil mortos (mais 20 mil japoneses). Na manhã de 23 de fevereiro o fim parecia próximo, os soldados do Mikado estavam derrotados e os marines prontos a tomar de assalto o monte Suribachi, o ponto mais alto da ilha.

Rosenthal estava indeciso, as notícias eram desencontradas: havia a informação de que um punhado de marines havia chegado ao cimo da colina e fincado a bandeira americana. A batalha já teria terminado. Era verdade, mas não de todo, e o instinto do repórter fotográfico convenceu Joe a tentar a breve escalada. Não teria se arrependido nunca. Vencendo próprio fôlego e o medo, chegou ao alto no momento em que seis marines da ‘Easy Company’ estavam levantando uma enorme bandeira com ‘estrelas e listras’ no topo do monte – a segunda, pois a primeira bandeira parecera muito pequena de ser vista das faldas do morro.

A mágoa maior

Rosenthal enquadrou a cena, abriu o diafragma entre 8 e 11, velocidade de quatro centésimos de segundo e começou a fotografar. Neste momento ele sequer imaginava que estava obtendo uma imagem histórica, uma das fotografias mais famosas do mundo e seguramente a mais célebre da epopéia americana. Ele disse depois: ‘Foi como fotografar uma partida de futebol, não se sabe nunca o que ficará registrado no filme’.

Com essa foto ele ganhou o prêmio Pulitzer de 1945 e a fama eterna entre os grandes foto-repórteres de guerra, como Robert Capa pelo miliciano espanhol durante a Guerra Civil e Pavel Morozov, pela bandeira soviética no Reichstag.

A foto foi recentemente classificada em 68° lugar entre os 100 melhores exemplos do jornalismo de século 20. Foram e ainda continuam sendo impressos milhões de pôsteres com essa imagem. No pós-guerra não havia um rapaz americano que não a tivesse em seu quarto, foi até selo dos correios. Serviu de inspiração para outros fotógrafos e artistas, para belicistas e pacifistas.

Em uma das tantas entrevistas que deu, Joe Rosenthal definiu seu trabalho máximo: ‘O que vejo naquela foto é a força que era necessária para subir naquela altura, um tipo de devoção pelo próprio país que os jovens tinham e os sacrifícios que fizeram’.

Rosenthal morreu na segunda-feira (21/8), pouco antes de completar 95 anos. De sua glória profissional carregou uma enorme mágoa: foi acusado mais de uma vez, sem provas, de ter pedido aos marines para posar. Em compensação, sua foto serviu como modelo para o memorial de Iwo Jima no cemitério militar de Arlington – uma das raríssimas fotografias no mundo que virou monumento.

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Jornalista