Poucas empresas têm a identidade tão ligada ao seu fundador quanto a Apple. Uma demonstração fácil disso foram os anos em que Steve Jobs ficou fora da companhia – e ela quase quebrou. Outra foi o lançamento do iPhone 4S, na quarta-feira (5/10). A estreia do sucessor de Jobs, Tim Cook, em um lançamento da empresa foi mal recebida por fãs e pelos investidores.
Num mundo em que revolucionar um mercado já é um grande feito, ele conseguiu revolucionar vários. O Apple II (criado pelo sócio Steve Wozniak) transformou o microcomputador num produto de massa. O Macintosh popularizou janelas, ícones e mouse bem antes do Windows, da Microsoft. O iPod detonou a revolução da música digital portátil, o iPhone tornou o celular inteligente um aparelho que todos podem usar e o iPad criou um novo mercado, decretando a decadência do computador pessoal e o início, nas palavras de Jobs, da “Era pós-PC”. Fora da Apple, transformou a indústria da animação com a Pixar, tornando a computação gráfica o padrão para desenhos animados. Com isso, acabou se transformando no maior acionista individual da Disney, quando a Pixar foi comprada pela tradicional casa de animação.
Steve Jobs fundou a Apple numa garagem, aos 21 anos de idade, com Steve Wozniak. Filho adotivo do operador de máquinas Paul Jobs e da contabilista Clara Jobs, de Mount View, na Califórnia, Jobs nasceu em Los Altos, no Vale do Silício, em 24 de fevereiro de 1955. Terminou o curso colegial em 1972 e chegou a matricular-se numa universidade, o Reed College, de Portland, em Oregon, focada essencialmente em humanidades, cultura geral e artes. Steve abandonou a faculdade depois de apenas um semestre.
O microcomputador mais revolucionário do mundo
Jobs estreou no mercado de tecnologia em 1974, quando foi trabalhar na Atari, em Sunnyvale, no Vale do Silício, de onde saiu logo para uma viagem à Índia. Ali, viveu por algum tempo numa comunidade rural e converteu-se ao budismo, que adotou como filosofia de vida, embora se confessasse ateu. Ao retornar da Índia, no ano seguinte, associou-se ao Homebrew Computer Club, que tinha Wozniak como presidente, do qual se tornara amigo quatro anos antes. Juntos, trabalham no projeto de uma placa lógica de computador, de que resultou o Apple I em 1976.
Para fundar a própria empresa, Jobs e Wozniak venderam uma velha Kombi e uma calculadora HP 65. A Apple nasceu no final de 1976, quando seus fundadores começaram a trabalhar no Apple II. Com os recursos da venda de 500 computadores Apple I, Wozniak começou a trabalhar no projeto do Apple II – que não foi um simples aperfeiçoamento do primeiro, mas um conceito totalmente novo e mais avançado. Lançado no ano seguinte, o Apple II alcança um sucesso que supera o de todos os concorrentes. Milhões de pessoas no mundo descobriram o computador pessoal, usando essa máquina.
A empresa passou, então, a crescer rapidamente e faz sua oferta pública de ações em 1980 atraindo só no primeiro dia a impressionante quantia de US$ 1,2 bilhão. Com apenas 25 anos, Jobs já acumulava uma fortuna de US$ 239 milhões. A grande prova da genialidade de Steve Jobs vem no ano seguinte, com o lançamento do Macintosh, em 24 de janeiro. Foi o microcomputador mais revolucionário do mundo, com os ícones atraentes de sua interface gráfica e o mouse.
O mundo sentirá sua falta
Em 1985, Steve Jobs pediu demissão da Apple, numa queda de braço com John Sculley, executivo que havia sido trazido da Pepsi dois anos antes. Logo em seguida, lançou a empresa NeXT, na tentativa de criar um microcomputador ainda mais sofisticado do que o Macintosh. Na metade da década de 90, a situação econômica da Apple era preocupante. Sem perspectivas, a empresa corria o risco de quebrar. Sua decisão estratégica e salvadora em 1996 foi comprar a NeXT por US$ 400 milhões e recontratar Steve Jobs, como conselheiro. O executivo assumiu o cargo de presidente interino no ano seguinte. Em 1998, a Apple lançou o iMac, o computador de venda mais rápida da história. Em 2000, Jobs assumiu o cargo de presidente permanente. O lançamento do iPod, em 2001, marcou o início de uma revolução na indústria da música digital.
Num e-mail enviado aos empregados da Apple em 2004, Steve Jobs anunciou que seria submetido a uma cirurgia para tratar de um câncer raro, no pâncreas.
Em 2007, a Apple decide entrar no mercado de telefonia celular com o iPhone. Sem teclado, com apenas uma tela sensível ao toque e ícones, o celular se transformou no smartphone de maior sucesso em todo o mundo. A saúde de Steve Jobs se agravou em 2009, levando-o a afastar-se por seis meses da Apple, para fazer um transplante de fígado.
Em janeiro de 2010, a Apple lançou o iPad. O tablet criou uma nova categoria de produtos e Steve Jobs revolucionou o mercado de tecnologia, mais um vez. O mundo sentirá sua falta.
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[Renato Cruz e Ethevaldo Siqueira são jornalistas do Estado de S.Paulo]