Começamos praticamente juntos no “Caderno 2” no início dos anos 1990, sob a batuta do grande editor José Onofre. Com sua cultura letrada precoce, Piza estreou no caderno escrevendo sobre assuntos em geral reservados aos mais experientes. Lembro que um dos seus primeiros textos foi uma resenha da coletânea 11 Ensaios, de Edmund Wilson, tarefa complicada da qual se saiu muito bem. Dessa e de outras. Daniel escrevia, e bem, sobre vários assuntos. Pensada, de início, como lugar de decantação do vasto consumo cultural do seu titular, a coluna “Sinopse”, que o Estado de S.Paulo passou a publicar em 2000, reservava espaço também para o futebol, cinema, análise política, econômica ou comportamental. Nela cabia de tudo, pois, se havia uma convicção de seu autor era de que tudo se comunicava com tudo e uma disciplina ilumina a outra, como não percebem os que têm apego à especialização.
Quem lia seus textos, repletos de referências eruditas, alfinetadas políticas, ironias e potenciais polêmicas, não poderia adivinhar o papo ameno que mantinha no contato pessoal. Era informal, gozador e ouvia o que o outro tinha a dizer. Debatia – marca, aliás, das pessoas intelectualmente seguras de si.
Escrevo isso tentando evitar o tom piegas dos obituários, que Daniel abominava. Como todos nós, tinha seus defeitos e também inúmeras qualidades. Entre elas, para mim, as maiores que um jornalista pode ter: por um lado, a prosa límpida que expressava sua cultura de base e a diversidade de seus interesses, texto esculpido na leitura do seu autor predileto, Machado de Assis; por outro, o respeito ao interlocutor, em especial se dele divergia por completo.
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[Luiz Zanin Oricchio é jornalista, repórter especial do Estado de S.Paulo]