Nos anos 1940, época de ouro da radiofonia, a jovem Hebe, morena de olhos fundos e sensuais, venceu programa de calouros na Rádio Paulista, integrou o conjunto As Três Américas e criou (com irmã e duas primas) o quarteto Dó, Ré, Mi, Fá, que imitava as Andrews Sisters.
Em 1950, estreou em disco pela Odeon, gravando na velha bolacha (78 RPM) os sambas “Oh José” (de Esmeraldinho Salles e Ribeiro Filho) e “Quem Foi que Disse” (de G. de Aguiar e Valadares do Lago). No mesmo ano, subiu de patamar artístico registrando Denis Brean (“Sem Amor e Sem Corneta”).
Ainda em 1950, abraçou o ritmo da moda, o baião, e lança, de Hervê Cordovil, o “Seu Quelemente”.
O destino de Hebe na TV ficaria selado por um fato ligado à música: nos anos 1950, ela substituiu na TV Paulista o compositor Ary Barroso. Daí seu passo para a glória.
Ela foi uma absoluta originalidade, porque, mesmo à frente de programas de auditório, gravava seu repertório a cada mês.
E gravava, como as demais cantoras da época, coisas boas e ruins. Até hoje,algumas de suas pepitas soam bem. Como “Caçula” (de Mario Genari Filho), “Índia” (de Flores e Guerreiro) e “Nem Eu” (de Dorival Caymmi).
História valiosa
Apaixonada por São Paulo, gravou “São Paulo Quatrocentão” (de Garoto e Chiquinho) e “Pauliceia em Festa” (de Avaré), no 4º centenário da cidade, em 1954.
No mesmo ano, registrou dois sambas do cronista Antonio Maria, com quem, consta, teve brevíssimo affair: “Aconteceu em São Paulo” e “Vou para Paris”.
Em 1966, totalmente voltada para a TV que estava, gravou o que seria por muito tempo seu último LP.
Retornou, por vezes fugazes, aos discos: em 1999 gravou o CD “Pra Você”. E, em 2001, pela Universal, vem a lume “Como É Grande o Meu Amor por Você”
Em resumo: a longa história, e quase sempre valiosa, de Hebe no disco, singrou por mais de 60 anos.
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[Ricardo Cravo Albin é pesquisador de MPB e presidente do Instituto Cravo Albin]