Jacob Gorender (1923-2013) deixou duas contribuições fundamentais à historiografia brasileira. Lançado em 1978, sete anos após sua saída do presídio Tiradentes, “O Escravismo Colonial” abriu novo caminho para a interpretação do período colonial.
Distanciando-se das concepções dominantes, que tratavam o escravismo como uma modalidade de capitalismo atrasado (como Caio Prado Jr.) ou de feudalismo incompleto (Alberto Passos Guimarães), Gorender passou a considerá-lo como um modo de produção autônomo.
Com isso, ele permitiu uma compreensão mais profunda de algumas de suas características –como a dinâmica da população escrava– e dissolveu mitos que ainda persistiam na época –como a impossibilidade do emprego de escravos na pecuária.
A segunda grande obra de Gorender foi “Combate nas Trevas”. Publicada em 1987, tornou-se rapidamente uma das principais fontes de referência sobre a luta armada no Brasil. Sua imparcialidade como historiador era atestada inclusive por expoentes da própria ditadura militar. O ex-ministro Jarbas Passarinho sempre o considerou um “historiador honesto”, a “quem leio sempre com o cuidado de não me deixar convencer”.
Honoris causa
O último grande estudo de Gorender foi “Marxismo sem Utopia” (1999), no qual defendia a necessidade de uma atualização do marxismo. O livro rendeu ao autor, no ano seguinte, o Troféu Juca Pato de “Intelectual do Ano”.
Tendo dedicado sua vida à militância política, Gorender não conseguiu concluir sua formação acadêmica, o que dificultou a absorção de seus trabalhos pela academia. Começou a estudar direito em 1941, mas interrompeu o curso em 1943 para se alistar voluntariamente na Força Expedicionária Brasileira.
Só em 1994 ele recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal da Bahia. De 1994 a 1996 foi professor visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP. Ainda em 1996, recebeu o título de especialista de notório saber da USP, o que lhe permitiu integrar bancas de mestrado e doutorado e lecionar na pós-graduação da mesma universidade.
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Mauricio Puls, da Folha de S. Paulo