Tatiana Belinky foi uma figura ímpar na literatura infantil brasileira.
Meio alheia aos percursos institucionais dos livros para crianças, a obra de Tatiana Belinky impôs-se para o público e para a crítica pela alta qualidade, que vinca seus textos com marcas muito especiais.
Ecoam particularmente em seus livros algumas das mais fortes tradições do gênero infantil, como o humor e a musicalidade.
Primeira voz a difundir por terras verde-amarelas, como tradutora, os “limericks”, ela marcou sua produção literária pelo abrasileiramento do tom poético do tradicional gênero inglês, caracterizado por versos curtos e pelo humor.
No conjunto de sua obra, suas raízes russas e judaicas também se fizeram importantes na construção de suas muitas e belas histórias, por vezes recontadas a partir destas matrizes culturais.
Figuras fantásticas, camponeses, cenários ora rurais, ora urbanos, envolventes enredos sentimentais, discussões de fundo ético temperadas de humor são a espinha dorsal de seus livros.
Na atual voga de vampiros e similares criaturas, ganham especial atualidade seus versos de um quase “t 'esconjuro”: “Vampiros dentuços,/Viscosos e ruços,/Querendo assustar/A você e a mim;/()/Porque meu segredo/É nunca ter medo /São eles que tremem/Com medo de mim!”.
Chegando a centenas de títulos, espalhados em diversas editoras, a obra de Tatiana Belinky cumpre a função maior da literatura para qualquer idade: a fantasia, o reforço da identidade e a solidariedade com o diferente, como tão bem ilustram seus versos que proclamam (com razão): “Tudo é humano,/Bem diferente/Assim, assado/todos são gente/Cada um na sua /E não faz mal/Di-ver-si-da-de /É que é legal”.
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Marisa Lajolo é professora de teoria literária da Unicamp e do Mackenzie