Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Ao repórter, ao amigo, adeus

Não escrevo este texto para enterrar o amigo e mestre Ewaldo Dantas Ferreira, mas para louvá-lo. Como não louvar o repórter que levou um amigo judeu não praticante a colaborar no jornal O São Paulo, da Arquidiocese de São Paulo, mantido pelo cardeal d. Paulo Evaristo Arns como local de apoio aos direitos humanos e resistência à ditadura? E que, pouco depois, convenceu o amigo judeu a levar uma freira aos jogos finais do Campeonato Paulista de 1977, com 150 mil pessoas no Morumbi festejando a vitória do Corinthians contra a Ponte Preta e gritando, aos ouvidos pouco experientes da religiosa, “um, dois, três/ quatro, cinco, mil/ Queremos que a Ponte vá (…)” – e frase que segue.

Todos nós, jornalistas, conhecemos o Ewaldo repórter, presidente do Sindicato, jornalista full-time – uma de suas facetas mais estranhas, já que havia tempo no full-time para muitas outras coisas. Por exemplo, dialogar com o indialogável ministro da Justiça da ditadura, professor Gama e Silva, sobre a proibição do filme A Compadecida, obra-prima de George Jonas, com Zózimo Bulbul e Regina Duarte. O filme tinha sido proibido porque Bulbul, negro, fazia o papel de Jesus; e Regina Duarte, numa magnífica interpretação, fugia ao estereótipo da Virgem Maria diáfana, aquela que parece rezar o tempo inteiro, para representar Maria como a grande mulher que foi. Onde já se viu exibir tamanhos sacrilégios? E o Ewaldo, amigo dos amigos, amigo de Jonas, foi negociar com os demônios da ditadura a liberação da Virgem e de seu filho Jesus.

Quais as áreas de interesse do Ewaldo?

Todas: do pescador de Ubatuba que, por saber ler e escrever, foi enquadrado como subversivo por um delegado desconfiadíssimo desses intelectuais, ao político americano Nelson Rockefeller, que o considerava seu amigo pessoal e com quem se encontrava sempre que vinha ao Brasil.

Interessava-se por educação – não apenas como tema jornalístico, mas convencendo o empresário Octavio Frias de Oliveira e professor J. Reis, o notável intelectual que dirigia a redação da Folha de S.Paulo, a apoiar uma profunda reforma educacional no Litoral Norte paulista (o pessoal da ditadura acabou matando a proposta). E arranjava tempo para mostrar aos colegas do jornal certos desvios educacionais e jornalísticos, comuns na época, mas que não deixavam de ser desvios: por exemplo, uma mulher que tinha vários homens era prostituta, e o homem que tinha várias mulheres era herói. Ou que a frase “fulano foi assaltado por três negros” tem forte carga de preconceito.

Informações confiáveis

Trabalhar com o Ewaldo era fácil e difícil, tudo ao mesmo tempo. Um grande repórter, uma garantia de excelentes matérias; mas cheio de segredos, que deixavam a Redação na incerteza. Certa vez, no Jornal da Tarde, sumiu umas duas semanas (e, fosse outra a empresa, não fosse a presença forte e amiga de Ruy Mesquita, estaria na rua). Voltou com uma reportagem sensacional: a demonstração de que o Serviço Nacional de Informações (SNI), até então encarado apenas como um órgão de espionagem interna, era na verdade o principal instrumento político da ditadura, envolvido em todos os ministérios e em todas as decisões tomadas pelo governo.

E por que o segredo? Ewaldo sempre temeu os vazamentos de informação. Confiava em pouquíssima gente, no quesito discrição. E achava – mais tarde lhe daríamos razão – que os serviços de espionagem interna do país se informavam sobre pautas e se preparavam para evitar que os repórteres encontrassem o que procuravam.

Mas como trabalhar com um repórter muito bem informado, mas agitado a ponto de não ter tempo para escrever e, ainda por cima, chegado a um segredo?

Uma das coberturas jornalísticas mais bem-feitas do Jornal da Tarde envolveu o derrame que vitimou o presidente Costa e Silva, a consequente prisão do vice, a ascensão dos ministros militares, a escolha pelos quartéis do novo presidente (que seria o então comandante do 3º Exército, general Emílio Garrastazu Médici), tudo mesclado ao sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick e à libertação de prisioneiros pelo governo em troca de sua liberdade.

O Ewaldo conseguiu se colocar no meio das articulações e trazer, o tempo todo, informações de primeira linha. Escrevê-las, não dava tempo: ia de uma reunião para outra. A solução JT: Fernando Morais e eu, juntos, entrevistávamos o Ewaldo e, a quatro mãos, redigíamos sua matéria. E como lidar com informações explosivas cuja fonte ele não revelava de jeito nenhum? Simples: com aval de Ruy Mesquita, informações que o Ewaldo trouxesse eram verdadeiras, sem necessidade de confirmações ulteriores. Se estivessem erradas, o jornal se corrigiria; e ele sofreria as consequências. Simples assim.

Transplante acelerado

Às vezes, as coisas não eram tão simples assim. Um dia, o Ewaldo me ligou e, no habitual tom de voz conspiratório, informou onde estava e o que fazia: “Estou na onça esperando o macaco”.

Não se discute com doido. Se ele disse que está na onça esperando o macaco, é porque está na onça esperando o macaco. Alguns jornalistas de outra Redação, curiosíssimos para descobrir de onde o Ewaldo estava tirando tantas informações exclusivas, me perguntaram onde é que ele estava. Fui sincero: “Ele disse que está na onça esperando o macaco”.

O Ewaldo chega, alguém brinca: “Então, o macaco esteve lá na onça?”

Ele me olhou furioso. Mais tarde, cobrou: “Nós não tínhamos combinado que não haveria informação?” Tínhamos, Ewaldo. Mas você faria a gentileza de me explicar o que é estar na onça esperando o macaco?

Ele tinha a certeza de ter sido claro. Vamos traduzir: “na onça” significa estar no centro dos acontecimentos, no lugar em que as coisas acontecem. O macaco é uma referência ao macaco do realejo, que entrega o papel da sorte preparado por seu dono. Traduzindo melhor: estava no centro dos acontecimentos (talvez alguma reunião de empresários com militares), aguardando um emissário que lhe traria uma informação exclusiva de uma fonte importante.

Funcionava? Funcionava. Alguns anos depois, Fernando Morais fez para Visão uma grande reportagem sobre Cuba (que se transformaria no livro A Ilha, seu primeiro best-seller). Mas, com o passaporte carimbado pelos cubanos, não poderia voltar ao Brasil sem ser preso. Foi Ewaldo, que dirigia a revista, que negociou a volta de Morais com os ministros Golbery do Couto e Silva e Armando Falcão. Demorou – é preciso lembrar que, numa ditadura, muita gente tem autoridade para prender, e frequentemente ninguém a tem para soltar. No final, tudo combinadinho, Fernando Morais recebeu na Argentina a ordem de cortar o cabelo, raspar a barba e tirar nova foto para passaporte. O passaporte velho deveria ser picado em pedacinhos e jogado na privada. O novo documento foi enviado ao consulado brasileiro em Buenos Aires, que colocou a foto. Com a nova foto, diferente da que constava no arquivo policial, e o novo passaporte, cujo número não batia com os do perigoso subversivo que deveria ser preso tão logo tentasse entrar no país, Fernando Morais retornou ao Brasil.

Funcionou muitas outras vezes. Ewaldo soube que o Hospital das Clínicas de São Paulo estava se preparando para realizar o primeiro transplante de coração no país, pouco depois da operação pioneira do cirurgião Christiaan Barnard, na África do Sul. Mas havia alguns entraves. Ewaldo convenceu o Jornal da Tarde a colaborar com a equipe do cirurgião Euryclides de Jesus Zerbini – o que incluiu o envio de médicos à África do Sul, a importação de algum equipamento, a colocação do projeto em ponto de bala. O JT, com a equipe liderada por Ewaldo, fez de longe a melhor cobertura do transplante, das biografias do paciente João Ferreira da Cunha, o João Boiadeiro, e do doador, Luís Ferreira Barros, vítima de acidente de trânsito, à explicação técnica do que havia ocorrido e ao acompanhamento do caso até a morte do transplantado, por rejeição do organismo (ainda não havia remédios que a combatessem). Com Ewaldo ou sem Ewaldo, com JT ou sem JT, a brilhante equipe do Hospital das Clínicas acabaria fazendo o transplante. Mas, com o trabalho do jornal e do jornalista, o projeto se realizou mais cedo.

História notável

Ewaldo Dantas Ferreira conseguiu destacar-se no jornalismo numa época em que os notáveis eram monumentos como Nahum Sirosky, Alberto Dines, José Hamilton Ribeiro, Carlos Castello Branco, Janio de Freitas, Reynaldo Jardim, Evandro Carlos de Andrade, Luís Edgar de Andrade, Fernando Gabeira, Luiz Orlando Carneiro; e também mais tarde, quando surgiram Ricardo Kotscho, Fernando Portela, Raymundo Pereira, Ricardo A. Setti, Augusto Nunes, José Nêumanne Pinto, Moisés Rabinovici. Havia talentos em quantidade; e, entre os mais talentosos, Ewaldo Dantas Ferreira.

Cinema, educação, política, segurança nacional, muitas reportagens. E muitas extravagâncias. Certa vez, Ewaldo viu na rua um caminhão fazendo as maiores barbeiragens. Fechou o caminhão com seu carro, pulou nos degraus e tentou abrir a porta. O motorista, cuidadoso, tinha travado a cabine. Ewaldo então começou a socá-lo (segundo explicou mais tarde, queria livrar o mundo dos malucos). O motorista, talvez com o mesmo objetivo, reagiu acelerando o caminhão e tentando derrubar o passageiro em algum poste. O caminhão ficou bem arranhado, o Ewaldo se feriu e teve de levar alguns pontos no rosto. Os colegas que o levaram para casa quiseram primeiro avisar sua primeira esposa de que ele estava machucado, mas ele os tranquilizou: ela já estava acostumada. Assim que ela abriu a porta e viu o marido coberto de curativos, pontos e iodo, desmaiou.

Mas extravagâncias, quem nunca as fez? Talvez ele tenha feito mais do que o habitual, apenas isso. Temperam uma história profissional absolutamente notável. Coisas do Tião Medonho. (Tião Medonho? Mas esta é uma outra história, que fica para outra vez.)

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Prefácio de C.B. para o livro O Depoimento do SS Barbie = Altmann, de Ewaldo Dantas Ferreira; intertítulos do OI

Há alguns anos, nem tantos anos assim, reportagem e bico eram sinônimos: praticamente não havia o repórter profissional, dedicado exclusivamente à profissão. Havia gente que trabalhava em outras profissões e reforçava o orçamento passando noites na redação; havia o repórter que vivia nos gabinetes dos governantes, e, numa associação perfeita, promovia os governantes pelo jornal em troca de um bom emprego público.

Em grande parte, quem mudou tudo isso foi Ewaldo Dantas Ferreira. Ele foi provavelmente o primeiro repórter brasileiro a viver exclusivamente de sua profissão e, dentro dos baixos níveis vigentes, sempre recebeu os mais altos salários pagos pelas empresas. No começo de sua carreira profissional, Ewaldo aceitou cargos de chefia, já que não havia outro jeito de ganhar um pouco mais: foi chefe de reportagem ou redator-chefe nos Diários Associados, TV Tupi, Folhas (era o nome da época, em que a empresa editava a Folha da Manhã, Folha da Tarde e Folha da Noite), Organização Vitor Costa (rádio Nacional, rádio Excelsior, TV Paulista, Canal 5). Todo esse tempo lutou pela valorização da carreira de repórter. E, quando conseguiu valorizá-la, voltou à reportagem.

Em 1961, depois de cobrir a Guerra de Suez, a queda de Perón, o desembarque americano no Líbano, de atravessar a terra-de-ninguém entre a Jerusalém jordaniana e a Jerusalém israelense, Ewaldo pela primeira vez em sua vida de jornalista deixou as redações. A ala que tradicionalmente controlava o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo se cindiu, e Ewaldo conseguiu, pela oposição, eleger-se presidente. O Sindicato, até então distante da classe, sem qualquer atuação, mobilizou os jornalistas e acabou organizando uma grande greve, em 1961.

Antes da greve liderada pelo Ewaldo, o jornalismo era um; depois da greve, outro. Foi a primeira vez que se conseguiu, no Brasil, a instituição do salário profissional. Foi nesta greve que o jornalismo se transformou, de verdade, em profissão.

Com Ewaldo, os jornalistas lutaram contra os falsos privilégios que mantinham baixos os salários da classe (como a isenção do imposto de renda, pagamento de meia passagem nas viagens aéreas a serviço, e outras vantagens que não serviam a ninguém – afinal, com os salários que ganhavam, jornalista estava isento de Imposto de Renda, e a meia passagem aérea, a serviço, só beneficiava a empresa), e venceram: o jornalismo é hoje uma profissão como qualquer outra, sem privilégios ou tratamentos especiais. E, mesmo com salários ainda baixos, tornou-se possível viver exclusivamente do trabalho jornalístico.

Repórter audaz

A rápida e brilhante carreira de Ewaldo: nasceu em Catanduva, em 9 de fevereiro de 1926. Sua mãe vem de famílias tradicionais, os Dantas e os Ramalho; seu pai, índio legítimo da tribo Maku (Alto Rio Negro, a noroeste de Manaus), foi para o Rio, passou pela Politécnica e fez carreira no Banco do Brasil. De vez em quando, Ewaldo recebe visitas de parentes mais jovens (aliás, sem maldade, hoje em dia quase todos os seus parentes são mais jovens) que vêm para São Paulo e Rio falando línguas indígenas.

Ewaldo estudou no Seminário Jesuíta de Nova Friburgo, e saiu de lá para trabalhar como revisor no jornal A Vanguarda, do Rio. De repente, mudaram a direção e a ideologia do jornal e Ewaldo saiu de lá. Começou a frequentar o primeiro curso de jornalismo do Brasil, o da Faculdade Nacional de Filosofia. Em seguida, transferiu-se para São Paulo, para a Escola de Jornalismo da Fundação Cásper Libero, e abandonou o curso no ultimo semestre do ultimo ano. De lá para cá, só entrou em faculdades para dar aulas. Nunca se formou.

A carreira verdadeiramente profissional de Ewaldo começou em São Paulo, nos Diários Associados, em 1950. Entrou com o menor salário da redação daí a um ano tinha o maior. Explica-se: para ele, jornalismo não era bico, não era reforço de salário, não era um passatempo. Para ele, o jornalismo era a vida. Um dos repórteres mais versáteis da impressa brasileira, foi capaz, por exemplo, de revelar em 1972 os novos rumos de internacionalização econômica do Brasil, um ano depois de comer mutum moqueado com os antropófagos Pacaás-Novos. Foi o primeiro repórter brasileiro de TV, voltou ao jornalismo impresso, esteve no ponto mais avançado da Amazônia até então atingido pelos civilizados, passou quatro dias no Harlem, acompanhado por lideres panteras-negras, numa das explosões raciais dos EUA.

Por varias vezes Ewaldo inovou a reportagem. Lá por 1958, na Folha e no Jornal do Brasil, criou aqui a reportagem abrangente, que aborda os vários aspectos de um assunto, sob diversos títulos. Logo depois, numa campanha de educação de base, promoveu a Operação Ubatuba, a primeira experiência brasileira de mobilização de estudantes, que mais tarde inspiraria o Projeto Rondon.

Ewaldo foi convidado, em 1953, para ser correspondente da revista Oggi, com apreciável salário. Foi informante (“stringer”, no jargão jornalístico) do Time e do Life na década de 60. Dirigiu o telejornalismo da Rede Bandeirantes, ganhando os prêmios da APCA, Associação Paulista de Críticos de Arte, em todos os programas, todos os anos.

Furo mundial

Em sua carreira no Jornal da Tarde e no Estado de S. Paulo, onde foram publicadas as reportagens que deram base a este livro, Ewaldo cobriu os mais importantes acontecimentos brasileiros. No dia em que o presidente Costa e Silva ficou doente – teve o derrame que o inutilizaria e posteriormente o mataria – ele avisou vários ministros, altos chefes políticos e um general sobre a crise que estava começando. Na segunda-feira seguinte, enquanto todos os jornais se limitavam a algumas linhas de especulações, o Jornal da Tarde publicava toda a história da crise, e o processo de sucessão.

Nos tempos do primeiro presidente militar, o marechal Castello Branco, Ewaldo publicou uma reportagem revelando o sistema de exercício de poder no Brasil (foi a primeira vez que se falou em “segurança nacional” como motivação e ideologia de Governo), com gráficos, nomes, endereços. Quando o terceiro presidente militar, general Emílio Médici, viajou aos Estados Unidos, revelou a parte secreta dos entendimentos havidos na Casa Branca, e além disso publicou, com 24 horas de antecedência, a essência do comunicado conjunto brasileiro-americano. Enquanto isso, os cinqüenta jornalistas da comitiva presidencial descreviam o programa oficial e especulavam sobre o que estaria acontecendo. Uma semana depois, Ewaldo estava na Irlanda do Norte, na guerra entre protestantes e católicos.

Para o Jornal da Tarde, Ewaldo cobriu também o lançamento da Apolo-11, que levou o primeiro homem à Lua).

Essa movimentação toda não era novidade para Ewaldo: viu o bombardeio da Casa Rosada, na Argentina, pela frota do almirante Isaac Rojas, na revolta que culminaria com a deposição do ditador Juan Domingo Perón; o general Alfredo Stroessner, recém-chegado à presidência do Paraguai, fez poses especiais para sua [câmera] Leica. O filho de Mussolini, o ditador que levou a Itália a se aliar aos nazistas, lhe deu uma entrevista exclusiva, que obteve a contracapa da revista italiana Época. Quando trezentos presos armados da Ilha Anchieta se revoltaram, Ewaldo e o fotógrafo Henri Ballot entraram lá, no meio das balas.

Há outras histórias de reportagens, em duas oportunidades, mostrando as condições de vida dos internados no Hospício do Juqueri (a opinião pública se levantou, revoltada). Também esteve nos campos de refugiados palestinos, mostrou o que ocorrera nas Universidades logo após o movimento militar de 1964.

E conseguiu, com exclusividade internacional, entrevistar o criminoso de guerra nazista Klaus Altman, codinome Klaus Barbie, o carrasco da França na Segunda Guerra Mundial, foragido na Bolivia – este é o livro que você lerá a seguir.

(São Paulo, novembro de 2003)

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Depoimento de Ewaldo Dantas Ferreira a Cecília Prada # revista Brasileiros, 2009

Ewaldo Dantas Ferreira é um dos mais importantes repórteres brasileiros. Em 1972 descobriu e colheu o depoimento do carrasco nazista Klaus Barbie na Bolívia – onde vivia como um comerciante abastado, sob seu verdadeiro nome, Klaus Altmann. Essa reportagem é considerada, até hoje, a matéria jornalística brasileira que obteve maior repercussão internacional. Foi lançada como uma série de dez capítulos diários, a partir de 23 de maio de 1972, simultaneamente em “O Estado de S. Paulo” e por um pool dos maiores jornais europeus e teve repercussões que foram dos Estados Unidos à União Soviética. Sua conseqüência imediata foi o pedido de extradição de Altmann, enviado ao governo boliviano pelo presidente da França, Georges Pompidou. Foi o primeiro passo para um processo que levou o ex-oficial nazista para a França em 1983, para ser julgado e condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade, e onde morreu, na prisão, em 1991.

Nascido em Catanduva (SP) em 1926, Ewaldo fez sua formação no Seminário Jesuíta de Nova Friburgo (RJ). Deixando o seminário aos 18 anos, trabalhou um pouco como revisor de um jornal do Rio de Janeiro. Matriculou-se no primeiro curso de jornalismo do país, na Faculdade Nacional de Filosofia, e mais tarde transferiu-se para a Escola de Jornalismo Cásper Líbero, em São Paulo. Extremamente versátil, grande repórter sempre, senhor de um texto seguro e fluente, ocupou desde cedo cargos de chefia em vários jornais, rádios e TVs, mas quando podia voltava à reportagem – cobriu os mais importantes acontecimentos, nacionais e internacionais, como a Guerra de Suez, a queda de Perón, o desembarque americano no Líbano, o lançamento da Apolo 11, que levou o homem à Lua, conflitos raciais e religiosos no bairro nova-yorkino do Harlem, na Irlanda, no Oriente Médio, e entrevistou as mais destacadas personalidades. Como presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo organizou em 1961 uma greve que mudaria o jornalismo brasileiro – conseguiu, pela primeira vez no Brasil, a instituição do piso salarial, exemplo depois seguido por outros sindicatos. Foi correspondente de diversas revistas estrangeiras e diretor de jornalismo da Rede Bandeirantes. Foi também professor de jornalismo em várias faculdades.

Aos 81 anos, Ewaldo continua ativo e dedica-se à organização de dois livros: um deles abrangerá o conjunto das principais reportagens que realizou, em cinco décadas de vida profissional. O segundo reúne material que utilizou e divulgou durante os vários anos em que se dedicou ao ensino do jornalismo.

Como foi produzida sua matéria sobre Klaus Barbie?

Ewaldo Dantas Ferreira – Em janeiro de 1972 um jornal francês, “L'Aurore”, levantou a suspeita de que o criminoso de guerra conhecido como “o carrasco de Lyon”, Klaus Altmann (Barbie), estaria vivendo na Bolívia, onde tinha grandes negócios e contava com a cumplicidade de membros do governo. A repercussão internacional da notícia foi enorme. Para lá afluíram jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas das maiores redes internacionais, que passaram a segui-lo aonde quer que fosse. Acossado, Barbie só queria fugir, tinha medo de ser assassinado ou seqüestrado.

Como conseguiu descobrir seu refúgio, e por que ele resolveu falar especialmente a você?

E.D.F – Fui enviado em abril, por “O Estado de S. Paulo”. Não posso ainda dizer quais as pessoas que me ajudaram a achar Barbie – há uns velhinhos vivos por aí… Eu me meti em um fusquinha dirigido por ele, um homem que estava sendo caçado para ser assassinado, participando de sua louca fuga pelo altiplano boliviano. Parávamos aqui e ali, para dormir, ou para tomar um prato de sopa que as índias serviam em latas de querosene. Uma grande aventura, trabalhando à noite, fugindo de madrugada e ouvindo as revelações de um homem que matara milhares de pessoas, mas que continuava convicto do trabalho que fizera.

Como conquistou sua confiança?

E.D.F – Àquela altura da vida, Barbie estava ansioso para dar sua própria versão de tudo o que fizera. Via-se como um soldado, um patriota que cumprira seu dever, em uma situação de guerra. E eu encarava meu trabalho como um serviço, e consegui ser bem objetivo, registrando fielmente o que ele me dizia. Fiz questão de fazê-lo autenticar, página por página, tudo o que eu escrevia. Com isso ficou provado, sem dúvida alguma, que sob a identidade de um pacífico comerciante boliviano, de fala mansa e aparência cordial, estava realmente o carrasco nazista.

Qual a repercussão imediata da sua matéria?

E.D.F – No dia seguinte à publicação do primeiro capítulo da série, o governo Pompidou pediu a extradição de Barbie ao governo boliviano. Mas a repercussão da matéria começou mesmo antes dela ser publicada, enquanto eu a fazia. Apesar de todo o sigilo, a notícia de que um repórter brasileiro conseguira entrevistar Barbie transpirou logo para o plano internacional, em primeiro lugar através da agência France Presse. No dia 5 de maio de 1972 entreguei à redação a matéria pronta e fui embora para casa. À uma da madrugada fui acordado por um telefonema de Paris, a radiotelevisão de Luxemburgo pedia confirmação de meu trabalho e queria entrevistar-me. Seguiu-se uma verdadeira avalanche de ligações internacionais. Tive de fugir para o litoral, mas de nada adiantou, na manhã do dia seguinte uma equipe da radiotelevisão francesa estacionava diante de minha casa, em Ubatuba. Nas duas semanas seguintes, enquanto o grupo Estado negociava a publicação simultânea com um pool de jornais internacionais, as notícias foram as mais desencontradas. O governo boliviano negava a autenticidade da entrevista, o jornal francês “L'Aurore” dizia que ela existia, só que fora feita por um conde francês… enquanto o prestigioso “Le Monde” a confirmava, em artigo assinado por seu editor político, bem como o correspondente do “New York Times”. Enfim, no dia 23 de maio de 1972 começou a publicação simultânea – e uma outra inflamada controvérsia…

Como assim?

E.D.F – A imprensa mundial continuou durante os dez dias da publicação da matéria, e muito depois, a discuti-la, enquanto na França velhas tensões entre facções políticas da própria Resistência eram reavivadas. Uma famosa heroína do movimento, Marie-Madeleine Fourcade, disse que ficara indignada com o texto publicado, bem como todos os ex-membros da Resistência. Essa campanha foi liderada pelo jornal “Le Figaro” e duraria muito tempo. Não é difícil saber a razão disso: Barbie contara com detalhes como se dera a prisão e morte do chefe da Resistência, Jean Moulin. Foi um caso de traição, cometida por um dos mais destacados membros do movimento, Didot, que era o chefe da equipe de sabotagem. O próprio “France-Soir”, que comprara os direitos de reprodução, começou a sentir o clima de hostilidade – Barbie falara mesmo que “muitos franceses querem salvar a história, depois de terem perdido a guerra”… e então o jornal resolveu fazer vários cortes no texto integral.

O que, além do relato dessa traição, provocou a ira dos franceses, no depoimento de Barbie?

E.D.F – Quando a guerra terminou, todas as divergências políticas pareciam se dissolver – exceto, é óbvio, para os colaboracionistas declarados do governo de Vichy, que foram fuzilados. Mas dentro da própria Resistência havia lutas internas, que Barbie desvendou. Dizendo, por exemplo, que De Gaulle, que chefiou a libertação a partir da Inglaterra, era tido como “covarde” e chamado até de “Madame Pompadour” pelos que lutavam na frente. E falando sobre as divergências reais e profundas entre comunistas e anticomunistas, dentro da própria Resistência, que atrapalharam muito os esforços do movimento – dizia Barbie que “Jean Moulin (que queria ser presidente da França) era contra os comunistas”, enquanto De Gaulle “tratava com eles”. Outros trechos cortados pelo “France-Soir” foram: referências ao pacto entre a União Soviética de Stálin e a Alemanha de Hitler, em 1939, e a destruição da frota francesa em Mers el Kébir, em junho de 1940, por ordem de Churchill… Todos assuntos muito explosivos.

Está organizando um livro com as principais reportagens que fez. Pode nos dar alguns exemplos ?

E.D.F – Foi uma ideia que tive nos anos em que lecionei em cursos de jornalismo, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Fiz reportagens de todo tipo, das policiais às sociais, econômicas, de guerra, desastres, incêndios. Estou selecionando algumas que poderão ser úteis aos estudantes, são um registro de acontecimentos históricos. Uma que fiz no Harlem, por exemplo, no final dos anos 1960 – eu, repórter branco, pisando em território onde o branco americano não ousava mais entrar, a não ser dentro de um ônibus fechado, turístico, e se possível com a proteção da polícia. A primeira coisa que aconteceu foi levar uma cusparada… mas depois consegui ser aceito. Hospedei-me em um hotel do bairro e minha guia foi uma socióloga mulata, Angela Gillian. Como brasileiro, fui bem recebido, diziam que eu era um soul brother – soul era uma espécie de chave no Harlem, de palavra-símbolo do negro, da vida, da luta, de todo o conjunto de emoções, sentimentos e paixões, e do ódio ao branco opressor. O movimento Black Power assumia todo o ressentimento racial represado, exacerbado pelo assassinato do líder pacifista Martin Luther King. Seus membros diziam: “Estou disposto a morrer, não tenho mais nada a perder; e a matar também, é claro”. Foi a época do black is beautiful. Renegavam toda a cultura branca, a moda, os penteados, diziam: “Branco não tem jeito, para ele entender só queimando a casa dele, só rachando a cabeça dele para meter lá dentro uma idéia de respeito ao negro”. A desigualdade social e econômica entre brancos e negros era gritante; basta dizer que, para 450 mil negros vivendo naquele gueto, havia somente uma escola secundária.

Na Irlanda, esteve em Belfast em uma época muito perigosa…

E.D.F – Eu me encontrava na Inglaterra em 1970, quando o conflito permanente entre Inglaterra e Irlanda, uma guerra fundamentalista, multissecular, entre populações católicas e protestantes, teve um recrudescimento. Uma guinada – a ala radical do IRA, o exército revolucionário irlandês, chamada Provisional, resolveu partir para o terrorismo, a violência total. Basta dizer que, de janeiro a dezembro daquele ano, foram registradas 935 ações terroristas, com cerca de 800 vítimas, civis ou agentes de segurança, entre mortos e feridos gravemente por bombas ou tiros – nos hospitais diziam que era enorme o número dos que ficavam permanentemente desfigurados ou com distúrbios mentais irreversíveis. Eu só tive um ímpeto: “Vou ver de perto”. E atravessei o canal. Só que não tinha uma máquina fotográfica, e o que fui vendo assim que desembarquei, casas, lojas e fábricas, hospitais destruídos, população aterrorizada, grupos de soldados com metralhadora percorrendo a cidade, tudo isso tinha que ser fotografado. A sorte foi que encontrei logo o pintor Antonio Henrique Amaral. Pedi emprestada sua máquina e consegui uma reportagem de impacto.

Como viveu o tempo da ditadura militar no Brasil?

E.D.F – Sofrendo as limitações, a censura, como todos. Cheguei a ser chamado a Brasília, para conversar com o general Golbery. Muita coisa que escrevi nunca pôde ser publicada… Mas houve duas reportagens que fiz, logo após o golpe, que conseguiram passar e tiveram muita repercussão. A primeira contou a história de Joaquim Romão, um pescador de Tabatinga, no litoral paulista, preso logo no dia 19 de abril por um delegado que queria mostrar serviço – seu crime era ser o único que sabia assinar o nome, e como tal ter sido sempre o “representante” dos habitantes do povoado. Ninguém sabia de seu paradeiro, para grande desespero da família – mulher, cinco filhos pequenos. A matéria saiu com muito destaque na “Folha de S. Paulo”, foi um exemplo de toda a violência policial que desabara sobre o país. Íamos dar suíte, e eu já preparara outra extensa matéria, quando veio a ordem, nada mais poderia ser publicado sobre o assunto. O jornal negociou a soltura do homem em troca do silêncio, e Joaquim Romão pôde voltar para a família. Então, usamos um truque: eu escrevi um “recado” ao secretário de redação, na verdade uma pequena matéria, dizendo por que não haveria necessidade de descrever a festa que Joaquim Romão recebera; “após 26 dias de prisão”, seria uma “pieguice desnecessária”, pois “fizemos aquela [matéria] que atingiu tão bem todos os seus objetivos, tocou – e nós sabemos como – a opinião pública, alertou as autoridades, virou símbolo de toda a situação nacional e, principalmente, pôs o homem em liberdade. Agora, que mais?” O meu “recado” foi publicado, e ninguém disse nada.

E a outra matéria?

E.D.F – Na manhã de 9 de setembro de 1964 aconteceu a invasão da Universidade de Brasília, por 900 homens armados de fuzis, baionetas e metralhadoras, do exército e da polícia. Uma verdadeira operação de campanha, com carros de radiopatrulha, carros-prisão e até ambulâncias. Os professores e alunos que foram presos, mais tarde acusados de “crime continuado contra a segurança do Estado”, tiveram de passar entre alas de baionetas caladas e metralhadoras portáteis. Só que por acaso um operador de uma grande rede televisiva dos Estados Unidos estava no campus e filmou tudo – a repercussão internacional foi imediata e enorme. Depois, os presos foram submetidos a toda espécie de humilhação, como revistas no pátio do quartel, todos nus – cena testemunhada por altos funcionários diplomáticos ingleses… No Brasil, esses eventos ficaram ignorados. Então a “Folha” publicou no dia 19 de setembro, na primeira página, com destaque de editorial, uma extensa, minuciosa matéria minha – “Universidade: revolução posta à prova” – que descrevia toda a operação militar desenvolvida na UnB como se esta fosse um “país inimigo”. Eu expunha o verdadeiro desmantelamento do ensino universitário e da pesquisa científica no país, e reproduzia dois documentos: uma carta assinada por 70 professores brasileiros, protestando contra a cassação sumária e a demissão de 28 colegas da UnB, logo no dia 1º de abril de 1964 – carta essa que o presidente Castelo Branco se recusara a receber. E também um telegrama em que cientistas e presidentes de universidades americanas, tendo à frente três detentores do Prêmio Nobel, protestavam contra a prisão do cientista Isaías Raw, de reputação internacional. Essa matéria é um documento histórico, foi afixada nos quadros das universidades. Então a polícia ia lá, proibia, rasgava… os estudantes arranjavam outra cópia, improvisavam lugares para expô-la… Bem, isso foi ainda no início da ditadura. Depois do AI-5, em 1968, com a censura prévia, não foi possível escrever mais nada assim.

Quais as situações de maior envolvimento emocional que viveu, no exercício da sua profissão?

E.D.F – Foram algumas em que vi o sofrimento humano, a morte, mais de perto. Teve um desastre de avião, por exemplo, que não consigo esquecer. Foi em novembro de 1967. Um avião da Sadia caiu, de noite, perto do pico do Marumbi, no Paraná. Um lugar quase inacessível, mas veio uma turma de homens do Serviço de Busca e Salvamento, atletas com treinamento intensivo, formaram cadeias, todos de mãos dadas para a escalada dificílima, e fui junto com eles. A subida era vertical, a mata fechada, meia hora depois já não havia luz, tínhamos de ir de gatinhas, nos arrastando, naquela escuridão. A chuva e o vento não davam descanso, ficamos todos ensopados. Mas, de repente, o vento trouxe um grito: “Socorro!” O espanto foi geral, ninguém esperava encontrar sobreviventes. Continuamos a subida mas só conseguimos chegar ao cume às seis e meia da manhã, para ver um espetáculo quase impossível de descrever – os destroços do avião, os mortos espalhados, havia uns poucos vivos, mas agonizantes. Uma moça bonita, deitada, composta, aparentemente bem, era filha de um milionário. Falava com muita clareza, sem parar, em um tom absolutamente calmo, contava quem era, que o marido e os filhos pequenos que também viajavam estavam mortos. Dizia: “Foi a primeira vez que levei meus filhos para pegar um avião”, depois mudava a voz para continuar: “Acho que estou esperando outro nenê”… O médico pedia que ficasse quieta mas ela não conseguia, e assim, como se contasse uma história que não fosse a sua própria, via sua vida esvair-se… A um dado momento pergunta à equipe de salvamento: “Quem é o chefe de vocês?”, e quando o homem aparece diz: “Olhe, perdi um brilhante de 12 quilates, se por acaso acharem quero que distribuam entre vocês”… Nunca me esqueci dessa cena, foi uma das coisas que mais me impressionou, registrei tudo o que ela dizia, e chamei essa reportagem de “A sobrevivente”.

Algumas de suas reportagens tornaram-se conhecidas pela linguagem um tanto diferente usada, mais “literária”. Pode comentar?

E.D.F – Sim, às vezes é bom fugir do estilo habitual da reportagem. Mesmo sem se afastar dos fatos, o repórter pode contá-los como se fosse uma história – como Truman Capote fez em A sangue frio. Houve um texto meu sobre a tragédia do Joelma, que abordei de um ângulo um tanto diferente, não de quem vê um incêndio, mas de quem trabalha para combatê-lo, do ponto de vista do bombeiro. Colei-me a eles, consegui descrever minuciosamente seu trabalho. Em uma reportagem sobre Porto Seguro, em 1970, fui reproduzindo todo o texto da carta de Pero Vaz de Caminha – estabelecendo uma comparação, literalmente passo a passo, para mostrar que a população estabelecida ali, de caboclos, vivia praticamente como os índios da época de Cabral, no mesmo atraso, como se estivesse à parte da civilização. Chamei essa matéria de “Livro último do descobrimento do Brasil”. Em outras ocasiões, consegui reconstituir de memória certas conversas que tive, usando a primeira pessoa, como se fosse um monólogo. Uma vez eu estava viajando de carro, vindo da Suazilândia, um enclave dentro da África do Sul. No percurso um soldado português foi contando como era sua vida, o que se passava na cabeça de um militar estacionado em Moçambique, o tempo todo enfrentando terroristas. Seu apelido era Turra, e me parecia um verdadeiro personagem de romance. Procurei memorizar o que me dizia, cheguei ao hotel e escrevi tudo de uma assentada. Eu gostava muito de fazer esse tipo de matéria.

Última pergunta: acha que o diploma de jornalismo é supérfluo, ou deveria ser obrigatório?

E.D.F – Nem obrigatório nem supérfluo. Por exemplo, nos Estados Unidos não é obrigatório, mas, quando se entra nas redações dos grandes jornais, não há ninguém que não seja diplomado por uma grande faculdade. Na Universidade de Columbia, por exemplo, há cursos especiais, de longa duração, com grande exigência curricular e treinamento prático diário em matérias jornalísticas e televisivas. Quando sai da faculdade, o aluno está plenamente habilitado para ocupar cargos importantes e bem remunerados.

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Carlos Brickmann é jornalista