Ewaldo Dantas Ferreira foi um agente especial do fluxo da informação. Era assim que ele definia o papel do repórter.
“Da informação depende a organização da sociedade”, disse certa vez numa entrevista. “A sociedade espera que ele [jornalista] entre no fluxo sem outro interesse que o do seu serviço de informação.”
Natural de Catanduva (SP), estudou no Rio, onde começou a cursar jornalismo. Depois, transferiu-se para a capital paulista e deu início à carreira nos Diários Associados.
No Grupo Folha, trabalhou de 1958 a 1965. Em 1964, denunciou a violência policial que marcaria a ditadura militar. Contou a história de um pescador do litoral paulista preso só porque sabia escrever (e, por isso, fora considerado um perigoso líder camponês).
O governo proibiu mais reportagens sobre o assunto. “O jornal negociou a soltura do homem em troca do silêncio”, lembrou depois em entrevista.
Cobriria, entre outros, a Guerra de Suez, a queda de Perón e conflitos na Irlanda e no Oriente Médio. Em 1973, publicou em “O Estado de S. Paulo” e no “Jornal da Tarde” a primeira entrevista do oficial nazista Klaus Barbie, conhecido como o “carniceiro de Lyon”, após encontrá-lo na Bolívia.
Presidiu o Sindicato dos Jornalistas e organizou uma greve em 1961 que terminaria com a fixação do piso da categoria.
Era cativante e inteligente, como o descreve a filha Arany.
Brincava que poderia constar em seu epitáfio a frase: “Quinze minutos antes de morrer, ainda estava vivo”. Seus últimos 15 minutos foram no sábado (22), quando morreu aos 87. A causa não foi divulgada pela família. Deixa três filhas, três netos e quatro bisnetos.
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Estêvão Bertoni, da Folha de S.Paulo