O dinheiro do lanche não ia para o lanche. Ficava no bolso. Nelson Elias pegava o que o pai lhe dava e guardava para comprar uma câmera. Sua primeira era feita de plástico.
Ele aprendeu o ofício mesmo durante o período em que serviu à Aeronáutica. Varria o chão da sala onde as fotos eram reveladas e assim acompanhava todos os processos.
Quando aprendeu a fotografar, deixou a Aeronáutica para trabalhar de manhã como repórter fotográfico e à tarde como perito da polícia.
Passaria pelos jornais “A Hora”, “Última Hora” e por esta Folha. Foi um dos primeiros a registrar imagens do ex-presidente Jânio Quadros após sua renúncia, em 1961, e cobriu os incêndios dos edifícios Joelma e Andraus, em São Paulo, na década de 70.
Foi premiado pelas fotografias que tirou no telhado do Joelma. Captou cenas do resgate realizado por helicóptero e de corpos queimados.
Em 1976, passou-se por fotógrafo de uma revista médica e conseguiu imagens exclusivas de dentro da sala de cirurgia do hospital Albert Einstein da primeira operação a laser feita no Brasil.
Segundo a filha, Carmen, Nelson fotografava o dia inteiro, o tempo todo. Ela lembra que era comum o pai voltar para a casa sem sapato ou casaco, por ter ajudado alguém.
Iria fazer 58 anos de casamento com Joannina, que ele conheceu numa passagem dela por São Paulo. Ela era de Bebedouro (SP), e Nelson foi até o interior procurá-la sem ao menos saber seu endereço.
Em 2009, foi homenageado na Câmara Municipal.
Morreu na quarta (19/6), aos 82 anos, devido a um câncer. Teve uma filha e dois netos.
******
Estêvão Bertoni, da Folha de S.Paulo