Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A repórter das perguntas duras

Helen Thomas, que morreu anteontem aos 92 anos em Washington, era uma repórter de curiosidade aguda, garra irrefreável e persistência que fizeram dela não só uma jornalista famosa, mas uma vanguardista quando os correspondentes da Casa Branca eram, na maioria, homens.

Cobriu todos os presidentes dos EUA de John Kennedy a Barack Obama, primeiro para a United Press International e, depois, para a cadeia de jornais Hearst.

Entre os colegas, era uma chefe informal, mas inconteste, cujo status era ratificado pelo bordão com que encerrava entrevistas coletivas: “Obrigada, sr. presidente”.

“Helen foi pioneira, abriu caminhos e rompeu barreiras para as mulheres”, disse Obama em nota. “Nunca deixou de manter os presidentes –inclusive eu– na linha.”

Suas perguntas diretas a tornaram conhecida em todo o país, e presidentes aprenderam a respeitar e até a gostar da franqueza e da energia que a mantiveram ativa muito além da idade em que a maioria se aposenta.

Em sua primeira entrevista coletiva, Obama a chamou: “Helen, estou animado. Esta é minha posse real”.

Mas, 16 meses depois, Thomas anunciou sua aposentadoria, em meio a um alarido após ela dizer, em um evento, que “os judeus deviam cair fora da Palestina”.

Ao fazer o anúncio, a repórter, cujos pais vieram do Líbano, lamentou e disse que esperava a chegada da paz com “respeito e tolerância mútuos” no Oriente Médio.

A carreira de Thomas começou em 1943, um ano após graduar-se em letras na atual Wayne State University de Detroit, como redatora de rádio da United Press (depois UPI).

Quando a maioria das jornalistas estava limitada ao colunismo social e aos cadernos femininos, no meio dos anos 50 ela já cobria as intrincadas agências do governo.

Seguiu a campanha de Kennedy em 1960 e, quando ele foi eleito presidente, virou a primeira mulher a cobrir a Casa Branca em tempo integral para uma agência.

Conhecida por trabalhar muito, conquistou entrevistas exclusivas e fontes. Foi a única mulher, na imprensa escrita, a acompanhar Richard Nixon à China em 1972.

Em 1971, casou-se com o colega Douglas Cornell, 14 anos mais velho, que morreria em 1982. Publicou cinco livros, além de um infantil.

Em 2000, deixou a UPI e pouco depois se tornou colunista da Hearst, onde era uma crítica do governo de George W. Bush e permaneceu até a aposentadoria. Em entrevista ao Times, em 2006, concluiu, sobre seu estilo: “Não existem perguntas ríspidas.”

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Do New York Times