Mesmo antes do assassinato, John F. Kennedy era uma figura icônica para muitos. Jovem, impetuoso e carismático, ele prometeu um futuro melhor para os Estados Unidos. Parecia que tinha conseguido muito em seus dois anos e dez meses na Casa Branca: desarmar as crises da Guerra Fria sobre Berlim e Cuba, definir direitos civis como meta nacional e introduzir o Peace Corps. Pesquisas de opinião mostram que os americanos classificam Kennedy como um dos maiores líderes da História dos EUA, firme no panteão presidencial ao lado de Abraham Lincoln e Franklin Roosevelt.
É provavelmente preocupante para o público, em ambos os lados do Atlântico, saber que muitos historiadores veem Kennedy diferentemente. Nas pesquisas acadêmicas, Kennedy tende a ser avaliado apenas como um presidente “acima da média”. Ele é classificado abaixo de Harry Truman, por exemplo. Este ponto de vista mais crítico é devido ao fato de que desde 1970, uma narrativa diferente dos anos Kennedy emergiu. Ele não conseguiu garantir a aprovação no Congresso de seus projetos em educação, saúde dos idosos e direitos civis.
Apesar de ser venerado por muitos afro-americanos, a passagem do projeto de direitos civis para acabar com a segregação racial no Sul exigiu a genialidade de Lyndon Johnson para convencer o Congresso. Além disso, Kennedy autorizou a invasão da Baía dos Porcos – a tentativa fracassada de usar imigrantes cubanos para iniciar uma revolta anti-Castro. E aumentou o envolvimento no Vietnã, subindo o número de militares americanos de cerca de 800 para mais de 16.000.
Então, por que tantos americanos ainda admiram Kennedy? A resposta é, em parte, pela tragédia de sua morte – um jovem presidente abatido por um terrível ato de violência – e necessidade de lembra-se dela. Mas a reverência contínua a Kennedy é devido mais fundamentalmente ao poder de sua imagem construída em vida.
Desde então, nenhum líder em ambos os lados do Atlântico se aproxima da idolatria gerada por Kennedy. Barack Obama inspirou as pessoas com uma mensagem similar de esperança para um curto período de tempo em 2008, mas desapareceu rapidamente. No Reino Unido, Tony Blair tinha ampla popularidade, mas não tão profundamente enraizada. Na Rússia, Vladimir Putin parece um pastiche bruto do líder como herói. Mas com Kennedy, a criação de imagem provou ser uma conquista genuína e duradoura.
Papel crucial
Nas duas décadas antes de concorrer à Presidência, ele criou, com a ajuda do pai, Joseph P. Kennedy, uma série de ideias sobre si na mente do público. A publicação, em 1940, de seu primeiro livro, “Por que a Inglaterra dormiu”, uma reformulação de sua tese de graduação em Harvard, sobre o enfraquecimento britânico diante da Alemanha, sugeriu que era um homem de letras. Sua conduta corajosa na resposta ao ataque de um destróier japonês na Segunda Guerra foi amplamente divulgada, levou a honras militares, e criou a ideia de Kennedy como herói de guerra.
A publicidade dada à sua grande família cresceu com o casamento, em 1953, com Jacqueline Bouvier, e construiu-se uma imagem de JFK como representante de uma dinastia. E sua boa aparência jovem fez dele um símbolo sexual, o que foi logo notado em 1946, quando fazia campanha para o Congresso.
Desde os anos 1970, uma série de revelações sobre a vida pessoal de Kennedy ameaçou manchar sua reputação, como o fato de que era um conquistador de proporções espetaculares, usou drogas e tinha alegadas relações com a máfia. Essas não são questões triviais: poderiam ter destruído sua Presidência potencialmente. Mas nem isso diminuiu a adoração americana por ele.
Outro fato crucial é o papel de Jackie Kennedy, que, apesar do horror do assassinato e das teorias de conspiração, se preocupou em como os americanos lembrariam dele. Ela buscou o mito para conter a História.
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Mark White é professor de História da Mark White, Queen Mary, University of London, e escreveu este artigo para o Independent