A história de Petrônio Corrêa é a própria história da propaganda brasileira. Meses depois de fundar a agência MPM, em 1957, participou do I Congresso Brasileiro da Propaganda, que criou o código de ética e as normas-padrão das agências.
Numa época de rivalidade entre os mercados paulista e carioca, foi o gaúcho Petrônio que, em 1964, assumiu a presidência da Febrasp (Federação Brasileira de Publicidade) e teve papel fundamental para a aprovação, em 1965, da lei nº 4.680.
Essa lei criou as bases para a remuneração das agências de publicidade na sua parceria com os veículos de comunicação, permitindo que o critério de diferenciação passasse a ser o da qualidade criativa, o que contribuiu para o alto nível técnico da nossa propaganda.
Com os sócios Luiz Macedo e Antonio Mafuz, Petrônio fez da MPM uma agência nacional, com escritórios em mais de dez mercados, líder por 15 anos seguidos. Desbravador, mudou-se para São Paulo para comandar a MPM no principal mercado do país. Com seu inseparável cachimbo, tinha um estilo bonachão e gozador, que propiciava uma atmosfera produtiva para a criação.
A MPM se tornou um celeiro de grandes profissionais, revelando talentos em todo o Brasil.
Cultura popular
Petrônio se tornou presidente da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) articulando, em plena censura na ditadura militar, a criação do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. O Conar representou um enorme avanço institucional para garantir a liberdade criativa e, ao mesmo tempo, atender às demandas cidadãs, retirando do ar campanhas mentirosas, preconceituosas ou de concorrência desleal.
Outro exemplo de autorregulamentação promovido por Petrônio foi o Cenp (Conselho Executivo das Normas-Padrão), criado em 1998 para harmonizar os interesses legítimos de agências, anunciantes e veículos de comunicação, garantindo práticas saudáveis de concorrência.
Ele dizia que o consumidor bem informado tem mais poder de decisão de compra e que a propaganda, mais do que emular o consumo, estimula a concorrência.
Petrônio ajudou a criar o IAP (Instituto para Acompanhamento da Publicidade), visando a dar maior transparência e incentivar o profissionalismo no desenvolvimento das contas públicas de empresas estatais e da administração direta.
A seriedade na aplicação desses recursos só reafirmava seu compromisso de termos um mercado publicitário forte, com clientes privados e públicos pautados por um trabalho relevante, interativo e que respeite os direitos cabais do cidadão.
Ouvinte paciente, articulador habilidoso, Petrônio era carinhosamente chamado de Coronel, uma alusão à sua liderança bem-humorada, mesmo em tempos de turbulência. Foi o maior representante de uma geração empreendedora, que construiu as bases para a indústria da propaganda, abrindo o caminho para novos profissionais e estudantes.
Petrônio foi o grande engenheiro da nossa indústria nas últimas seis décadas. Todos perguntam onde nascem as grandes ideias que viram bordões, fazem as marcas darem um salto e entram na cultura popular. Petrônio foi o maior criador delas de todos os tempos.
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Luiz Lara, 51, ex-presidente nacional da ABAP (Associação Brasileira de Agências de Publicidade), é sócio da agência Lew’Lara/TBWA