O artista gráfico Jayme Leãomorreu no início da tarde de 10/3, aos 67 anos (faria 68 na próxima 3ª.feira, 18), de uma série de complicações que resultaram num quadro de insuficiência renal. Ele havia sofrido traumatismo craniano em meados de janeiro, após cair aparentemente sozinho em sua casa, na zona norte de São Paulo. Submetido a uma cirurgia considerada bem-sucedida pelos médicos, teve alta dez dias depois, mas passou a apresentar quadro de desidratação após fazer fisioterapia em uma clínica. Novamente internado, no hospital Mandaqui, ficou em estado grave por cinco dias até morrer.
Mais velha de seus sete filhos (de três casamentos), a jornalista Lídice Leão disse ao UOL que o pai era relapso quanto à saúde: fumava e bebia muito – embora se alimentasse bem e se exercitasse com regularidade: “Acho que o mundo perde, primeiro, um gênio, um ilustrador, um dos últimos a trabalhar com pincel e tinta, embora ele operasse bem o computador. Segundo, um militante que acreditava realmente que as coisas poderiam melhorar e que as pessoas tinham o direito de lutar”.
Embora tenha nascido em Recife, Jayme mudou-se para o Rio de Janeiro aos dois anos de idade. Mas escolheu São Paulo para morar, onde ficou por mais de 20 anos e pôde colaborar com importantes publicações do País como ilustrador e cartunista.
Ficou conhecido nacionalmente pelas capas de livros da Coleção Vagalume, sucesso entre o público infanto-juvenil nas décadas de 1970 a 1990. Teve passagens por Folha de S.Paulo, Estadão, Jornal da Tarde, Veja, Playboy e, mais recentemente, Você S/A. Era considerado um dos cérebros da imprensa alternativa no Brasil, tendo participado da criação dos jornais Opinião e Movimento, que faziam oposição à ditadura. Esteve também no Hora do Povo e na Retratos do Brasil. Na década 1970, chegou a viver com a família no Chile, do presidente socialista Salvador Allende, numa espécie de autoexílio.
O corpo dele foi sepultado no início da tarde desta 3ª.feira (11/3), no Cemitério Parque da Cantareira, zona norte de São Paulo. (Com informações do UOL)
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Lídice postou no Facebook o texto que reproduzimos a seguir:
“Sou Lídice por causa dele (que queria que eu tivesse uma história sobre o meu nome pra contar). Leão por causa dele. Jornalista por causa dele (que me levava para passear nas redações quando eu era criança). Devoradora de livros por causa dele (que me presenteava com livros e álbuns do Asterix desde que comecei a ler as primeiras sílabas). Esquerdista por causa dele (que fazia pôsteres sobre as guerrilhas da Nicarágua e El Salvador e nos levava para ajudar a vendê-los nos atos políticos para enviar o dinheiro para as guerrilhas). Rigorosa com alguns gostos culturais por causa dele (que não nos deixava assistir aos filmes dos Trapalhões e nos levava para assistir aos do Akira Kurosawa).
Louca por uma cerveja e uma conversa de bar por causa dele (que nos levava para os bares do Bexiga e juntava as cadeiras para dormirmos quando o sono nos derrubava). Enfim, cresci ouvindo minha mãe dizer: ‘Essa menina tem o temperamento igualzinho ao do pai dela. Quando está lendo um livro, o mundo pode desabar que ela não vê nada’. Pois é. A culpa é dele. Do Jayme Leão. O maior ilustrador deste País e um dos maiores do mundo. O melhor, mais louco e mais autêntico de todos os pais. Nunca mais vamos tomar cerveja juntos, ouvindo Noel Rosa, Vinícius ou Cartola. Vai fazer falta, pai. Muita falta”.