Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O adeus a Luiz Cláudio Marigo

O fotógrafo Luiz Cláudio Marigo morreu na 2ª feira (2/6), aos 63 anos, de infarto, dentro de um ônibus. Assim que começou a passar mal e a sentir fortes no peito, o motorista da linha Grajaú-Cosme Velho levou o ônibus para o Instituto Nacional de Cardiologia, unidade federal de atendimento em Laranjeiras. Ali, passageiros que desceram para pedir ajuda foram informados por funcionários que a unidade estava em greve e não tinha emergência. O motorista chamou, então, os bombeiros que, ao chegar, tentaram reanimá-lo, mas sem sucesso. O caso teve grande repercussão esta semana no Rio, e o hospital está sendo acusado de negligência e omissão de socorro.

Pioneiro da fotografia de natureza no Brasil, Marigo notabilizou-se nos anos 1980, pelas belas imagens de animais estampadas nas embalagens colecionáveis do chocolate Surpresa. Articulista da revista Fotografe Melhor desde 2005, ganhou, com o diretor de Redação Sérgio Branco, em 2011, um Prêmio Jabuti na categoria Fotografia. Branco diz dele: “Dono de um texto poético e, ao mesmo tempo, informativo, Marigo era muito cuidadoso. Enviava duas ou três fotos para cada situação que comentava em seus artigos e todas devidamente legendadas. Era uma pessoa alegre, gentil e sempre disposta a ajudar qualquer leitor que o procurasse. Além de grande profissional, era um defensor da natureza que dividia seus vastos conhecimentos em fotografia nas páginas de Fotografe. Perdemos um amigo, uma referência, um mestre”.

E a jornalista ambiental Liana John prestou a ele uma homenagem, que transcrevemos a seguir:

Morre Marigo, fotógrafo da natureza brasileira

Quem foi criança ou adolescente nos anos 1980 e colecionou as belas imagens de animais contidas nas embalagens do chocolate Surpresa, hoje está de luto. Quem considera a biodiversidade brasileira uma riqueza inestimável para ser compartilhada por todo o mundo por meio de fotografias, hoje está de luto.

Quem admira a paciência, a persistência, a resistência necessária aos fotógrafos de natureza para registrar cenas exclusivas de nossa fauna e nossa flora, hoje está de luto.

Quem luta contra a bur(r)ocracia das nossas unidades de conservação, cujos administradores são incapazes de entender a importância do trabalho dos fotógrafos de natureza para a conservação da biodiversidade, hoje está de luto.

Morreu Luiz Cláudio Marigo, 63 anos, pioneiro da fotografia de natureza no Brasil, premiado aqui e no Exterior, um dos mais teimosos, consistentes e conscientes profissionais do País.

Não era fácil trabalhar com ele, dado os seus grau de exigência e habilidade em negociar espaços. Mas era um prazer editar suas fotos, em meio a eternas dúvidas sobre qual era o melhor clic entre os melhores.

Morreu Luiz Cláudio Marigo, mas não foi de onça ou jacaré-açu, como os muitos dos quais ele se aproximou para capturar com suas lentes. Tampouco foi queda do alto de uma árvore ou plataforma, como as muitas nas quais ele subiu para chegar mais perto das aves. Foi o coração, um infarto, num ônibus do Rio de Janeiro, à espera de um atendimento que não chegou a tempo apesar de ele estar diante de um hospital de referência em cardiologia.

O fotógrafo dos animais silvestres morreu vítima da indiferente selvageria urbana.

Fica o desconsolo de uma homenagem virtual, com as palavras dele mesmo, escolhidas como apresentação de seu trabalho, em seu site:

“A conservação da biodiversidade depende do conhecimento e do amor. O papel dos fotógrafos de natureza é despertar a consciência do homem para a incrível riqueza da vida na Terra, sua beleza e valor Espiritual.” (Luiz Claudio Marigo)

Descanse em paz.