De João Ubaldo Ribeiro, morto de uma embolia pulmonar aos 73 anos, li, em especial, Sargento Getúlio e Viva o Povo Brasileiro. Obras mais díspares não poderia haver. Sargento era muito conciso, de linguagem inventiva, o que levou parte da crítica a aproximá-lo de Guimarães Rosa. Trabalhava com o falar popular. Viva o Povo Brasileiro foi o seu grande épico, talvez seu maior projeto. Um livro fluvial, romance sobre a formação de toda uma nacionalidade.
Sargento Getúlio virou um belíssimo filme em 1983, sob a batuta do cineasta Hermano Penna. É, até hoje, seu (dele, Hermano) melhor trabalho. E ninguém que o conheça vai jamais esquecer a atuação de Lima Duarte no papel do truculento sargento que conduz um prisioneiro de uma prisão a outra.
Há também Deus É Brasileiro (2002), de Cacá Diegues, inspirado no conto de Ubaldo, O Santo que Acredita em Deus. Antonio Fagundes interpreta o Criador. Wagner Moura faz Taoca, um pescador espertalhão que ajuda Deus a encontrar um substituto para poder tirar umas férias, cansado que está da sua criação.
Viva o Povo Brasileiro também deveria virar filme, a ser dirigido pelo cineasta baiano André Luis de Oliveira. Mas, de produção complicada, não chegou a sair do papel. No momento em que havia essa ideia, o cinema brasileiro estava completamente em baixa e não comportava a produção complicada (e cara) de um épico desse porte.
Convivi uma única vez com João Ubaldo, quando fomos debater justamente o Sargento Getúlio, o filme, que comemorava alguma data redonda, possivelmente seus dez anos de existência. O debate foi no atual Espaço Itaú, na rua Augusta. Depois fomos jantar num restaurante que o tempo levou, o Longchamps, que ficava do outro lado da rua. Guardo uma boa memória daquele encontro.
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Luiz Zanin, do Estado de S.Paulo