Não foram poucas as vezes que Jorge saiu da redação do jornal no início da madrugada e chamou os colegas para o Choppão, um dos mais tradicionais bares de Cuiabá.
Muitas foram as vezes em que a primeira cerveja foi aberta por volta das 2h e a saideira servida depois das 5h, quando Alguindes, o fiel garçom, gentilmente expulsava o grupo de jornalistas.
Nas longas noites de calor, Jorge debatia com os colegas de forma sempre perspicaz e crítica. Um tipo de humor muito particular fazia com que seus colegas não soubessem bem se ele estava brincando ou se falava sério.
Assim, o amazonense Jorge Estêvão conquistou a fama em Cuiabá de ser um jornalista linha dura. Foi também apelidado de “o pai da matéria”.
Nem sua filha, que também escolheu ser jornalista, escapava do aparente mau humor de Jorge. Quando Tássia pedia ao pai que revisasse algum texto seu, escutava um curto “Estou ocupado, agora não dá!”.
Mas ela sabia que, em instantes, receberia um e-mail dele com as correções e alguma mensagem de carinho.
Sempre que viajava para o litoral, fazia questão de enviar fotos de seu descanso aos amigos no trabalho.
Morreu na terça-feira (9/9), de falência de múltiplos órgãos, aos 54 anos. Sua morte prematura o impediu de ver seu clube do coração, o Flamengo, que jogou na Arena Pantanal, em Cuiabá, na última quarta-feira.
Deixa a filha, muitos amigos e sua afilhada, filha do garçom Alguindes, de quem, com os anos, tornou-se um grande amigo.
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Fabrício Lobel, da Folha de S.Paulo