O jornalista Sérgio Fleury morreu hoje [quarta-feira, 19/11] à tarde aos 73 anos de idade, vítima de infecção hospitalar após sofrer uma isquemia. Ele será sepultado neste dia 20, às 16h, no Cemitério São João Batista, no Rio.
Fleury, que não tinha qualquer parentesco com o temido torturador Sérgio Paranhos Fleury, foi um dos jornalistas mais criativos de sua geração. Em 2015, ele iria completar 50 anos de bons serviços prestados ao jornalismo. Começou a batucar as pretinhas em 1965, o ano do quarto centenário do Rio de Janeiro. Foi foca, repórter, chefe de reportagem, pauteiro, editor, blogueiro, tuiteiro, cronista de Facebook, assessor de imprensa. Trabalhou no Globo, Jornal do Brasil, O Dia, TV Globo, foi um dos fundadores da TV Manchete. Foi assessor de imprensa do procurador-geral de Justiça Antônio Carlos Biscaia e do prefeito Saturnino Braga. Seu último emprego foi o de redator da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
Fleury fez história na época áurea do Jornal do Brasil, nos anos 60, contemporâneo de uma geração de notáveis jornalistas como Fritz Utzeri, Heraldo Dias e Israel Tabak. Este relembra que Fleury era um grande contador de histórias a partir de personagens praticamente anônimos da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, mendigos, motoristas de táxi, de ônibus, camelôs, gente de toda espécie, achada ou perdida.
– Fleury era um grande repórter que valorizava os personagens, o contato pessoal com as fontes, bem diferente dos nossos dias, em que se faz quase tudo por telefone. Ele gostava de ir às ruas, um apaixonado pela reportagem de cidade e pelo patrimônio histórico do Rio – conta Israel Tabak, puxando pela memória sobre um curioso episódio no qual Fleury driblou a resistência dos participantes de um encontro de contar o que havia ocorrido. Ele foi buscar nas cestas de lixo anotações dos personagens, reconstituindo a história.
Sábio conselho
Além de grande jornalista, daqueles com faro apurado, que sabia distinguir com facilidade uma nota de pé de página de uma manchete, Fleury era de uma alegria inigualável, um piadista incansável, capaz de rir do próprio velório. Seu amor pelo Jornal do Brasil, onde trabalhou por 17 anos, levou-o a ser um dos organizadores dos encontros dos coleguinhas do JB, a partir de 2006. Com Vera Perfeito, ele organizava os almoços e disparava os convites.
– Sem ele não vou conseguir mais fazer essas festas. Vou ter que passar o bastão – diz Vera que ontem ficou pequena diante do anúncio da morte de Fleury.
Fleury deixou um filho, Rogério, médico que acompanhou o drama do pai, entre a vida e a morte. A viúva, Regina, se diz consolada pela enorme energia devolvida a Fleury pelos companheiros de jornada. Eles criaram um WhatsApp, o Amigos do Fefeu, pelo qual diariamente enviam mensagens de apoio à família. Regina se lembra do início da profissão do marido, quando o casal morava em Laranjeiras e nem tinha telefone em casa.
– De repente aparecia o carro do jornal lá em casa, convocando o Fleury para alguma cobertura. Só ficava sabendo dele quando o via pela TV preta e branca na cena da notícia. Certa vez ele apareceu numa foto publicada no Dia atrás de uma árvore, assim como o Israel Tabak, enquanto o tiro comia – lembra Regina.
Uma das grandes reportagens de Fleury foi um perfil com uma das últimas cangaceiras do sertão, dona Serja. Além do jornalismo, Fleury era apaixonado por fotografia. Em 2010, ele criou o blog “Álbum Jotabeniano” com fotografias antigas de gente que passou pelo Jornal do Brasil. O blog, como tudo o que Fleury fazia, foi um sucesso. Seu grande conselho procuro seguir até hoje. Quando mandava um texto para publicação, ele educadamente o devolvia, pedindo: “Burila, burila”.
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Jorge Antonio Barros é jornalista