Morreu na madrugada de quinta-feira (26/3), aos 86 anos, o escritor baiano Hélio Pólvora, que ocupava a cadeira 29 da Academia de Letras da Bahia (ALB) desde 1994. Além de escritor, ele também era jornalista, cronista e atuava como editorialista e articulista do Jornal A TARDE – no Caderno 2 e na coluna Opinião – tendo trabalhado ativamente até esta quarta-feira, 25, na produção do editorial.
Hélio lutava contra um câncer de pulmão e sofreu uma parada cardiorrespiratória, vindo a falecer em casa. O corpo do jornalista será cremado no cemitério Jardim da Saudade na tarde desta quinta, às 17h30.
Para o escritor Luís Antonio Cajazeira, que ocupa a cadeira 35 da Academia de Letras da Bahia e também era amigo de Hélio, a Bahia perde um importante expoente da literatura.
“Ele era, sem dúvida, a maior expressão das Letras da Bahia na atualidade e nosso maior contista brasileiro. Desde Machado de Assis, o Brasil não tinha um contista com tamanho rigor como o dele. Lançou romances mesmo em idade já avançada, além de ter sido um grande jornalista, crítico e cronista. Eu era amigo e também um grande admirador dele”, ressalta o escritor.
O jornalista, escritor e poeta Florisvaldo Mattos, ex-editor-chefe do Jornal A TARDE, lembra que Hélio foi um dos mais criativos e competentes colaboradores do extinto Caderno Cultural, “com textos de alta qualidade, sempre enriquecedores”. “Era um bom amigo, um dos mais cultos intelectuais baianos e a melhor escrita da Bahia, na minha opinião”.
Mattos também publicou um poema (veja abaixo) e uma mensagem em homenagem ao amigo, em que lembra sua trajetória profissional e se diz “orgulhoso, pois, além disso, fui seu colega, por bastante tempo, no quadro de jornalistas do célebre e saudoso Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. Com sua morte, perdem o jornal e seus leitores, como também a Bahia um grande intelectual e escritor”.
O editor-coordenador da página de Opinão de A TARDE, Jary Cardoso, onde Hélio semanalmente publicava seus artigos falou do seu compromisso profissional. “Na semana retrasada, uma quinta-feira, recebi recado da esposa de Hélio, dizendo que ele estava sendo levado ao Hospital São Rafael e que queria falar comigo. Liguei, Hélio ainda estava a caminho da internação e apesar da fraqueza e a voz embargada, manifestou, como um profissional responsável, a preocupação com o artiguete que ele escrevia aos domingos.”
Ciente de seu compromisso profissional, Hélio previu que não conseguiria entregar o texto. “Sosseguei-o dizendo que encontraria um bom artigo para substituir o dele e que colocaria no rodapé a informação aos leitores de que excepcionalmente Hélio Pólvora não escreveria naquele domingo. Infelizmente, nesta quinta-feira, novamente no dia de ele enviar o artigo de domingo, Hélio faleceu. Ao contar aquele episódio a seu conterrâneo, o poeta e jornalista Florisvaldo Mattos, este comentou que a atitude dele era própria de um profissional da escrita: ‘Hélio Pólvora é sobretudo um escritor’”.
Nascido no município de Itabuna, Hélio Pólvora era um dos nomes mais destacados de escritores oriundos da região cacaueira da Bahia. Ele deixa a esposa, Maria, e dois filhos, Raquel e Helinho.
Luto
A Academia de Letras da Bahia decretou luto de três dias pela morte do escritor e suspendeu os eventos que aconteceriam nesta quinta: a seção de transmissão do cargo de presidente e o lançamento da revista institucional, que só serão realizados daqui a duas semanas.
“Hélio é um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. É uma glória para a literatura nacional. O patrimônio literário que ele nos deixa é de um valor inestimável. Além de um homem que se dedicou à familia e à literatura, era um intelectual brilhante e possuía uma cultura extraordinária. E escreveu até o último minuto, pois até ontem (quarta) escreveu para o A TARDE”, revela Aramis Ribeiro Costa, presidente da ALB.
Em nota, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult) lamentou o falecimento do escritor e transmitiu pesar aos familiares e amigos.
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Biografia
Hélio Pólvora de Almeida é natural de Itabuna, Bahia, onde nasceu em 1928, em fazenda de cacau. Fez estudos secundários em Salvador, no Colégio Dois de Julho, Colégio Carneiro Ribeiro e Colégio da Bahia. Iniciou-se no jornalismo como colaborador e editor do semanário Voz de Itabuna, e mais adiante foi correspondente em sua cidade de jornais de Salvador. Em janeiro de 1953 fixou-se no Rio de Janeiro, para curso universitário, onde morou por cerca de 30 anos. Foi lá que ele iniciou sua carreira literária e uma atividade jornalística intensa, que prosseguiram na Bahia após 1984, nas cidades de Itabuna, Ilhéus e Salvador.
Seu primeiro livro públicado foi “Os Galos da Aurora” (1958, reeditado em 2002, com texto definitivo). Depois dele, seguiram-se cerca de 25 títulos de obras de ficção e crítica literária, além de participação em dezenas de antologias nacionais e estrangeiras. Seus contos estão traduzidos em espanhol, inglês, francês, italiano, alemão e holandês.
A partir de 1990, passou a residir em Salvador. Eleito para a Cadeira 29 da Academia de Letras da Bahia, faz parte também da Academia de Letras do Brasil (com sede em Brasília), onde ocupa a cadeira 13, que tem como patrono Graciliano Ramos. Pertence ainda à Academia de Letras de Ilhéus.
É Doutor honoris causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz .Fez parte da Comissão Machado de Assis, instituída pelo Ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho, para reconstituir os textos e reeditar a obra do Mestre, e integrou a Comissão Selo Bahia, criada pela Secretaria da Cultura e do Turismo, no âmbito da Fundação Cultural do Estado da Bahia.
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Thaís Seixas, de A Tarde