Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A morte da documentação jornalística

Uma das características mais fortes do jornalismo que é feito hoje em dia é o que se pode chamar de imprensa da ansiedade e do autoconsumismo. Ele vive da antecipação doentia dos fatos e seu abandono no dia mesmo em que eles acontecem. Uma das consequências é que não há tempo para o jornalismo virar documento antes de ser descartado como “velho”; outra é que não gera reflexão nos leitores que deixaram de procurá-la no dia seguinte.

A desculpa atual é que com os meios de redes sociais a circulação de informações se tornou muito mais rápida até mesmo do que o ato de pensar. E que na verdade é uma resposta ao público consumidor de notícias.

De há muito tempo, antes da internet, a sopa de letrinhas dos colegas dá a impressão de um caldo ralo que não tem a substância antiga e não que eu seja um nostálgico, na pior acepção deste termo, mas apenas um praticante realista do noticiário.

Isso não ocorre apenas com as modalidades de jornalismo mais rápidas e pouco duradouras como a internet, o rádio, a TV, mas também com o jornal que tem que esperar algumas horas pela caducidade do fato.

A falsa sensação de que o que é divulgado na internet vira arquivo é na verdade a morte da documentação jornalística que hoje não mais existe principalmente com o advento do motor de buscas do Google e seu aperfeiçoamento. A crise neste campo em cidades menores como a que eu vivo é muito grande e sem um incentivo dos governantes locais os jornais antigos, mesmo os encadernados, vão sendo comidos pelas traças e tendendo a desaparecer coma humidade.

Morte da documentação de texto

Uma parte da minha vida profissional fiz como jornalista de arquivo e tenho muito orgulho disso. Aprendi ser arquivista que era como estar numa ponte na beira de um rio vendo o fluxo das ideias passando.

Uma das qualidades do velho e revolucionário Jornal do Brasil foi ser construído nos anos 60 com o seu arquivo que somava o acervo desde a fundação no século passado. Todos os grandes jornais, revistas e emissoras possuíam um.

Agora, a não ser a TV Cultura, cujo arquivo de texto resiste bravamente, o que se vê é uma situação de esterilidade desértica em toda parte. Isso traz como consequência também uma seca de ideias e criatividade imensa no jornalismo pátrio.

Dá pra reverter a situação? É claro que dá. Pergunte ao Alberto Dines o que acha disto e ele dirá claramente que não se pode confiar totalmente na capacidade da internet arquivar fatos e dá-los de novo ao repórter, este sim, ansioso por fatos. Ou não, caro mestre?

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Fausto José de Macedo é jornalista e radialista