A imprensa brasileira perde um dos seus mais nobres representantes e nós, um grande amigo. A impressão é a de que Eduardo Martins já nasceu para o jornalismo; era sua vida e ele a exerceu até seus últimos dias. Intransigente e ranzinza, principalmente quando se tratava da língua portuguesa. Obstinado pela perfeição, não admitia erros e não fazia questão de esconder quando notava algum deslize por parte de um jornalista –mesmo dos demais companheiros de redação, até mesmo dos contínuos.
Compartilhei por 32 anos com o Eduardo duas grandes paixões: a editoria do Interior do Estado de S.Paulo e a Sociedade Esportiva Palmeiras. Passávamos horas e horas falando desses dois assuntos. Em meados dos anos 1980, quando ele editava Interior e eu era responsável pela rede de sucursais e correspondentes, trocávamos idéias para pautas e edições do material do dia seguinte. Quanto ao nosso querido ‘verdão’, resolvíamos lá, no dia-a-dia, todas as questões de táticas e contratações de jogadores, mesmo porque nessa época éramos uma ‘academia de futebol’.
Durante a elaboração do Manual de Redação e Estilo do Estadão, Eduardo era um obstinado, levava às últimas conseqüências o seu trabalho, coletava informações aqui e ali para incluir na sua grande obra, que se transformou em uma espécie de bíblia para todos os estudantes, jornalistas e mesmo para as pessoas que queiram escrever textos corretamente.
Vida e jornalismo
Nos seus mais de 40 anos na Redação do Estadão, sempre foi uma referência e um porto seguro para aqueles que tinham alguma dúvida. Lembro-me que nas reuniões de pauta discutíamos sempre a edição do dia e o Eduardo aparecia com o jornal todo rabiscado em vermelho, com sugestões e correções. Era o ‘chato’ que todos respeitavam, pois suas intervenções eram sempre pertinentes e todo dia tínhamos alguma coisa a aprender com o ‘mestre’ Eduardo.
A morte ceifou uma das mentes mais brilhantes do jornalismo. Aos 17 anos de idade Eduardo compartilhava do ‘mesão’ que elaborava a primeira página do O Estado de S.Paulo e, já naquela época, se destacava para uma carreira de sucesso. Passou por todas as editorias do jornal, inclusive como editor de Nacional à época da ditadura militar, quando o Estadão marcou presença ao publicar versos de Camões para substituir as matérias censuradas. Uma época terrível e heróica para os jornalistas que queriam a plena democracia e a liberdade de imprensa.
Eduardo soube superar todas as adversidades da profissão e sempre conseguiu amealhar o respeito de todos que encontravam nele o mestre que os ajudaria a escrever o texto correto.
O amigo Eduardo morreu como sempre viveu: ‘reclamão’, não deixava por menos, mas muitos jornalistas, inclusive eu, agradecem a intransigência do velho companheiro. Graças a ele aprendemos um pouco mais sobre a vida e o jornalismo. Que os serviços prestados pelo Eduardo sirvam de exemplo para todos nós.
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Jornalista