Dom José Ivo Lorscheiter, bispo emérito da diocese de Santa Maria (RS), ex-secretário-geral e ex-presidente da CNBB, por 16 anos, faleceu no dia 5/3/2007. Pastor dedicado ao povo, ele doou sua vida pela Igreja e pelo Brasil em momentos difíceis da nossa história recente.
Assistimos nestes dias, após sua morte, a uma apresentação de sua memória através dos meios de comunicação; o livro de sua vida vem mostrando páginas que o dignificam. Seus méritos são confirmados por todos aqueles que o conheceram de perto e privaram de sua amizade; por aqueles que têm senso de justiça e verdade.
Dom Ivo contribuiu para a solidificação da colegialidade episcopal e valorizou a missão dos colegas bispos. Naquela hora do Brasil, foi a pessoa certa para a defesa dos direitos humanos e da dignidade da pessoa; seu testemunho de vida confirmou a certeza evangélica de que o maior é aquele que serve.
Dor e repúdio
No entanto, como acontece geralmente na biografia dos grandes pastores, não faltaram incompreensões e injustiças contra o seu testemunho. Não é justo dizer, como faz a revista Veja (edição 1999, de 14/3/2007, pág. 84), que Dom Ivo ‘politizou o Evangelho para o bem e para o mal’ [ver abaixo a íntegra da nota].
Sem meias palavras, a referida revista acusa o bispo de um crime: ‘O bispo também apoiou a criação de bandos armados que, a pretexto de lutar pela reforma agrária, deram origem ao MST.’
Onde estão esses ‘bandos armados’? Qual foi o nome deles? Como se explica que o sistema de segurança da época não denunciou nem processou Dom Ivo? A quem interessa uma segunda morte de Dom Ivo Lorscheiter?
A CNBB sente profunda dor e manifesta seu firme repúdio às acusações infundadas contra Dom Ivo, exigindo da revista a justa reparação ao mal feito. [Brasília, 14 de março de 2007]
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O texto da Veja [nº 1999, pág. 84]
Morreram: Dom Ivo Lorscheiter, bispo de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Durante o regime militar, à frente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ele denunciou as torturas e os assassinatos de esquerdistas nos porões dos quartéis. Lorscheiter foi um dos principais defensores da Teologia da Libertação, uma excrescência saída da cabeça de padres ideólogos latino-americanos que tentava conciliar cristianismo e marxismo. O suporte à Teologia da Libertação lhe valeu uma admoestação do papa João Paulo II, que o alertou, na qualidade de presidente da CNBB, para os riscos da politização do Evangelho. O bispo também apoiou a criação de bandos armados que, a pretexto de lutar pela reforma agrária, deram origem ao MST. Dia 5, aos 79 anos, de falência de múltiplos órgãos, em Santa Maria.
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Nota da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná
Jamil Ibrahim Iskandar (*)
Vimos, por meio desta, manifestar nossa solidariedade à alta cúpula da Igreja Católica, estendendo-a, igualmente, a toda a imensa comunidade católica brasileira, neste momento em que a memória de um dos seus mais célebres membros, Dom Ivo Lorscheiter, é vítima de vil ofensa, perpetrada pela revista Veja.
Ressaltando nossa condição de proximidade aos cristãos em nossa crença comum num Deus Único, Criador e Sustentador de todo o universo, destacamos que conhecemos o peso do noticiário de Veja, pois somos, sistematicamente, caluniados e difamados pela mesma publicação. Rara uma edição de Veja em que os muçulmanos não sejam retratados como violentos, fanáticos, terroristas.
Entendemos que o nobre trabalho de Comunicação Social é fundamental numa sociedade democrática. Temos, no entanto, a firme convicção de que este labor, tão caro à boa informação e formação do cidadão, tem de ser realizado de maneira responsável. Objurgações como a de Veja contra a memória de Dom Ivo Lorscheiter são um frontal atentado ao direito à informação e um exemplo de mau jornalismo.
(*) Presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná
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Respectivamente, cardeal-arcebispo de São Salvador (BA) e presidente da CNBB; bispo de Catanduva (SP) e vice-presidente da CNBB; bispo-auxiliar de São Paulo e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil