Luiz Paulo Horta tinha a delicadeza e a sofisticação dos realmente cultos. Lembro-me de quando veio para O Globo, como vibrávamos por ter conseguido tirar do rival Jornal do Brasil um de seus astros, especialmente para escrever críticas de música e os editoriais, duas atividades que exerceu até morrer com rara maestria. Ainda me recordo de sua participação, sempre atenta e com comentários sóbrios e certeiros, nas reuniões do Conselho Editorial do grupo.
A notícia de sua morte me surpreende, não apenas porque entrei em contato com ele por e-mail na noite de sexta-feira [2/8], confirmando que iria à sua missa de 70 anos na PUC. Com seu humor refinado, mandara dizer que fora “impossível resistir, cheguei aos 70 anos”.
Na quinta-feira (1), na Academia Brasileira de Letras, conversáramos sobre a situação política do país, e ele dissera que sentia “um cheiro de fim de governo no ar”.
Luiz Paulo teve a alegria de terminar seus dias escrevendo uma coluna diária no Globo sobre a participação do Papa na Jornada Mundial da Juventude no Rio. Estava feliz com a atuação do Papa Francisco, e a revigorada que estava dando à Igreja.
Além de especialista em música, sobretudo a clássica, Luiz Paulo era um católico estudioso da religião. Sabia a importância histórica do Vaticano, e em um de seus últimos artigos definiu: “Há mistérios no Vaticano, muito além do alcance de um Dan Brown”.
“Fios inumeráveis”
Na visão histórica sobre a Igreja de Roma, ele sabia que “houve de tudo”. “Há uma tradição forte dizendo que naquela colina foi martirizado o primeiro Papa, e que uma primeira igreja teria sido construída, ali, sobre a própria sepultura de São Pedro”.
Ao lado do que chamou de “os grandes Papas da Roma antiga” como São Leão, São Gregório, citou “os Papas posteriores a Carlos Magno, cujas histórias nos cobrem de vergonha (aquilo ainda era a Igreja de Cristo?)”. Para concluir: “É como se, pelas mãos do Papa, corressem os fios inumeráveis dessas histórias”.
Era assim Luiz Paulo Horta que conheci, um humanista.
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