Obituários, assim como biografias, recusam o ponto final, constantemente retocados, imperiosamente atualizados. Os textos publicados nos jornais sobre o cartunista Mauro Borja Lopes, falecido na semana passada, sugerem um complemento testemunhal.
No início de 1957 este Observador foi convidado por Nahum Sirotsky, recém-empossado como diretor de Manchete, a integrar o corpo de repórteres da revista. A Bloch comprara novas máquinas, Nahum estava envolvido numa reforma para enfrentar o imbatível O Cruzeiro, por isso converteu o repórter em assistente da Direção.
Foi nesta qualidade que surgiu um dos seus primeiros desafios editoriais: substituir o famoso cartunista Borjalo, âncora da última página, uma das maiores atrações da revista, que transferia-se para o concorrente.
Como substituir aquele artista, dono de um traço despojado e sutil, mineiríssimo na forma e no conteúdo? Situação de emergência, solução de emergência: comprar páginas de cartoons nas agências internacionais até que aparecesse um substituto à altura.
Choveram contribuições, mas a prudência recomendava examinar os candidatos antes de contratar o sucessor que, além da verve como satirista, por uma questão de continuidade, deveria ter um traço não muito diferente do de Mauro Borja Lopes.
Não havia tempo: os cartoons internacionais destoavam, os leitores reclamavam e então a prudência voltou a oferecer outra contribuição: experimentar um cartunista por semana. Entre os primeiros candidatos, logo chamaram a atenção Sergio Jaguaribe (Jaguar), Claudius Ceccon, Brandão e Marius (Bern).
Impossível escolher o melhor, ficaram os quatro, um por semana. Jaguar e Claudius logo transformaram-se em nomes nacionais. Com as bênçãos do antecessor.