Referência em crítica gastronômica no país, a jornalista carioca Danusia Barbara morreu, na noite desta quarta-feira [27/5], aos 67 anos. Danusia sofria de doença neurológica degenerativa há dois anos. Ela estava internada e teve falência múltipla dos órgãos.
Formada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Direito pela Universidade do Estado da Guanabara (UEG), Danusia começou a escrever sobre comida em O GLOBO com o apoio do então diretor de redação, Evandro Carlos de Andrade. Também foi a responsável pela criação da página de gastronomia do “Jornal do Brasil” e esteve à frente do boletim CBN Sabores, na rádio CBN. Por anos, publicou o “Guia Danusia Barbara de restaurantes do Rio”, um dos mais respeitados do país.
Entre os vários livros publicados, a maioria sobre gastronomia, destaca-se a obra infantil “A borrachinha que queria ser lápis”, que fez sucesso nos anos 1970. Uma das paixões de Danusia, a literatura infantil foi tema da sua dissertação de mestrado na UFRJ.
“(Danusia) Viajou o mundo e conheceu os mais variados sabores, lugares e culturas. Numa época em que comida era assunto de dona de casa, despertou a atenção do público para a relevância da gastronomia como identidade cultural e valorizou o papel dos cozinheiros (…) tinha um estilo literário próprio, deixando sua marca na vida de milhares de garçons, maîtres, chefs, donos de restaurante e do público em geral”, lembrou um texto publicado na página da jornalista no Facebook.
Amigo de Danusia, o chef Claude Troisgros lamentou a morte da jornalista:
– Uma das maiores críticas de gastronomia do Brasil se foi. Amiga, parceira e grande profissional, Danusia contribui para a evolução da gastronomia carioca. Descansa em paz amiga.
O chef Danio Braga também manifestou seu pesar pela perda de Danusia:
– Velha companheira e parceira. Nos anos 1990, fizemos juntos uma coleção de livros sobre ingredientes nacionais envolvendo todos os restaurantes da Associação da Boa Lembrança, que saiu pelo Senac e é um primor. Foi precursora desse estilo de jornalismo e foi um começo de alto nível.
Assim como os chefs, a atual crítica de Gastronomia do GLOBO, Luciana Fróes relembra a importância de Danusia para a difusão da cultura gastronômica no Rio e no Brasil:
– Quando sequer havia gastronomia no Rio, um restaurante razoável aqui, outro acolá, Danusia Barbara, jornalista de cultura do Caderno B, do Jornal do Brasil, começou a ensaiar os seus primeiros textos gastronômicos. Juntamente com o Apicius, abriram caminho para esse tipo de jornalismo, até então inédito por aqui e hoje com enorme adesão.
Luciana também destaca o estilo inconfundível de Danusia, que mesmo “listando casas, escrevia com humor e elegância até em duas ou três linhas”:
– Ela imprimiu um estilo refinado e quase erudito em tudo que escrevia. Eram textos originais, elegantes, divertidos… – conta Luciana, relembrando o trecho abaixo, no qual Danusia discorria sobre uma batata:
“Ela é camaleoa: consegue ser clássica, barroca e moderna. Nem salgada, nem doce, nem amarga, nem ácida. É acolhedora, cadeira de balanço, colo de avó, carinho de mãe, presença de pai”.
Parceira do guia de restaurantes, editado de 1986 a 2011, a publisher Andrea d’Egmont lembra que Danusia foi quem incentivou os chefs a aparecer e frequentar o salão:
– Os cozinheiros se limitavam a ficar na cozinha. A Danusia teve a ideia de levá-los para junto dos clientes. Era o começo da alta gastronomia carioca.
Danusia deixa dois filhos, Ana Beatriz e Pedro Marcos, e os netos Letícia e Tiago. O velório acontece desde as 13h na Capela H do Cemitério São Francisco de Paula, no Catumbi. O enterro está previsto para as 15h30.
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