Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Diretor morre no Rio de Janeiro, aos 65 anos

Diretor de clássicos da TV Globo, como as novelas Saramandaia (1976) e Baila Comigo (1981) e as minisséries Anos Dourados(1986), Boca do Lixo (1990) e O Sorriso do Lagarto (1991), Roberto Talma morreu na madrugada desta quinta-feira, 23, no Rio, aos 65 anos. Talma, que estava internado desde março no Hospital Samaritano, teve falência múltipla dos órgãos. Ele tinha problemas renais e cardíacos e faria 66 anos nesta semana. O diretor tinha três filhos homens, um deles, Raphael, com a atriz Maria Zilda Bethlem. “Ele foi descansar merecidamente, estava sofrendo há muito tempo”, disse a atriz. “Como profissional, todo mundo viu o que o Talma fez. Começou praticamente quando a TV Globo começou. Inovou muito a linguagem nas telenovelas, principalmente nos musicais. Era uma pessoa muito talentosa. Brotavam na cabeça dele sem parar ideias boas”, afirmou.

Talma entrou na emissora em 1969, como operador de videoteipe doJornal Nacional. Nas novelas, começou como editor, virou assistente de direção e chegou a diretor e diretor executivo. Participou de vários projetos que se transformaram em marcos na história de 50 anos da Globo, como o seriado Armação Ilimitada e o programa musical Globo de Ouro.

Os números de sua trajetória são robustos: 33 novelas, 7 minisséries, 7 seriados, 4 programas de auditório, 6 de humor (entre eles, Casseta e Planeta), cinco infantojuvenis (como Sítio do Pica-pau-amarelo, versão dos anos 2000) e 37 musicais, incluindo Chico & Caetano (1986), especiais de Roberto Carlos e clipes para o Fantástico. A notícia da morte de Talma mobilizou a classe artística, uma vez que ele trabalhou com boa parte do elenco da Globo. Atores e diretores se manifestaram em entrevistas à emissora e pelas redes sociais.

Gilberto Braga, que trabalhou com Talma em Água Viva (1980) e Anos Dourados, lembrou o espírito leve nos bastidores. “Talma, além de diretor brilhante, foi um grande companheiro de trabalho, adorado pelos atores e por todos os que trabalharam com ele. Era uma pessoa alegre, para cima, o clima de trabalho com ele era ótimo. Vai fazer muita falta.”

O diretor Dennis Carvalho o lembrou como “maluco beleza”. “Era uma pessoa inovadora. O que acho mais legal é que ele era o único que conseguia trazer o Tim Maia para gravar”, brincou. Talma dirigiu um especial com o cantor em 1989.

Tony Ramos, que o conheceu na TV Tupi, em São Paulo, ressaltou a confiança que tinha nas apostas de Talma. “Era um profissional tão surpreendente que há muitos anos bastava me telefonar e dizer ‘pensei em você’ (para um papel), que eu estava com ele. É mais do que justo falarmos dele quando se comemoram 50 anos da Globo.”

Ao Estado, Silvio de Abreu disse que “a televisão fica menos criativa e muito menos audaciosa”. “Foi Roberto Talma quem me deu a primeira chance como autor, ainda na TV Tupi, de escrever Éramos Seis”, lembra o autor. Foi Roberto Talma, que depois de eu ter fracassado com Pecado Rasgado para instalar a minha maneira de fazer novelas, entendeu o meu estilo e me revelou com Jogo da Vida em 1981. Devo a ele muito mais do que a minha carreira, devo anos de amizade, inspiração e consideração”, concluiu.

Roberto Talma Vieira nasceu em 1949, em São Paulo, em uma família circense: mãe bailarina e pai de carreira televisiva. Ingressou na TV aos 9 anos, na Record, participando do programa A Grande Gincana Kibon. Trabalhou nas TVs Excelsior e Tupi antes de chegar à Globo, passou pela Band e pelo SBT.

Talma integrou a primeira equipe do Fantástico, em 1973, época em que começou nas novelas – a estreia foi na primeira versão de Selva de Pedra, na equipe de Daniel Filho e Walter Avancini. Trabalhou muito com Paulo Ubiratan como codiretor de vários sucessos, como Pai Herói (1979). Foi mentor de diretores como Guel Arraes e Jorge Fernando. Passou a diretor executivo, trabalhou na criação deMalhação, em 1995, e dirigiu também Casos Especiais e Você Decide.

Em depoimento dado em 2005 ao Memória Globo, Talma falou sobre os primórdios do chamado “padrão Globo de qualidade”. “Nas décadas de 1960 e 1970, a gente sempre se voltou para o nível de qualidade. Não era somente o bom enquadramento, a luz bonitinha, o áudio bonitinho, não. O conteúdo que a gente buscava sempre foi o de tentar melhorar, aprender mais. O tempo inteiro a gente ficava se cutucando com literatura brasileira, com o investimento de autores.”

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Roberta Pennafort, do Estado de S.Paulo