Num 8 de março recente, Dia Internacional da Mulher, soube que esse era o dia de Hebe Camargo. Uma aniversariante que era uma gracinha. Gracinha. Está aí um adjetivo ouvido desde meus verdes anos. Não dirigido a mim, é claro. Aprendi o significado do tal elogio contemplando os programas de Hebe, cantora convertida a animadora de auditórios. Como Silvio Santos, um senhor apresentador, a apresentadora-senhora chegou a uma idade respeitável sem sair do ar. E jamais foi uma “fora do ar”, ao contrário. Sabia onde pisava, apesar do salto alto de seus críticos, tão passionais quanto o objeto da crítica.
Hebe Camargo debutou na vida artística nos primeiros anos da televisão pioneira do Brasil: a TV Tupi de São Paulo. Um dos prédios da emissora, hoje MTV Brasil, ainda está em pé, conservando um grande mural com motivos indígenas. A então morena cantora só não participou da transmissão pioneira da telinha brasileira por ter um encontro marcado com o namoradinho da vez. Transmissão que se mostrou um legítimo programa de índio.
Hoje os tempos são outros. A vocação nacionalista das nomenclaturas televisivas deu lugar a ambições mundiais, simbolizadas por certa esfera platinada e multicolorida. Os pioneiros da telinha se foram: uns ao ocaso terreno, outros ao limbo eterno. E a resistente Hebe Camargo prosseguiu enquanto pode, eternizada no coração de multidões anônimas, simples feito ela. Mas menos espertos que ela, que sobreviveu a cantadas de Jânio Quadros, dissociou sua imagem da de Paulo Maluf e chegou a uma idade avançada sem se humilhar nas filas dos aposentados.
Exemplo brasileiro
Uma das últimas aparições públicas marcantes da apresentadora, ainda na emissora de Silvio Santos, se deu na comemoração dos oitenta anos de vida. Paparicada por celebridades duradouras e outras nem tanto, socialites com sorrisos escancarados como os da aniversariante, políticos com pretensões presidenciais, cantores e artistas de variadas quilometragens. O brilho da vitória sobre o tempo conseguiu, ainda que por instantes, superar a irrelevância de grande porcentagem dos convidados da ocasião. A festa iria continuar na Disneyworld, onde só houve um aniversariante à altura da brasileira, ao menos em idade: Mickey Mouse.
Dona Hebe foi um exemplo brasileiro. Isso pode nos dizer algo sobre certos exemplos e sobre o Brasil. Outros Dias Internacionais da Mulher virão, agora sem uma de suas representantes mais singulares.
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[Érico San Juan é cartunista, radialista, designer gráfico e caricaturista]