Há poucas semanas circulou nas redes sociais uma calorosa entrevista de Gilberto Gil, Yamandu Costa e Roberta Sá, conduzida pelo jornalista Jorge Bastos Moreno, que morreu na madrugada de 14/06 aos 63 anos por conta de complicações cardiovasculares. Era uma versão em vídeo – um live, como se costuma dizer – do seu programa radiofônico na CBN – “Moreno no Rádio”. Fui atraído pela conversa principalmente pela forma como o jornalista sabia deixar os artistas à vontade, sem bajulação ou efeitos especiais.
Havia ali uma espécie de espontaneidade perdida que diz respeito a um certo lugar do jornalista como mediador social, tão bem representado pela trajetória de Jorge. Não se trata de discurso saudosista, mas de observar que a propagada crise do jornalismo diz respeito também a falta desses sujeitos que mantêm uma relação de empatia com a notícia. Em algum momento as faculdades de jornalismo ou o conjunto de dispositivos da vida moderna esfriou essas relações em torno do jornalismo. Na ordem da espetacularização, vivemos o culto das aparências.
Jorge veio da tradição do impresso, algo cada vez mais raro na vida contemporânea. Mas soube, como poucos, se adaptar ao cenário multimídia. Ocupou seu espaço no rádio, na televisão – ancorava o programa “Preto no Branco” no Canal Brasil – e estava atento aos movimentos participativos da internet. Prova disso é o último livro que lançou: “Ascensão e Queda de Dilma Rousseff: tuítes sobre os bastidores do Governo Petista e o Diário da Crise que levou à sua ruína”, lançado pela Editora Globo.
Um jornalista com faro para o furo. Venceu um prêmio Esso em 1999 antecipando a desvalorização do plano real a partir da queda do então presidente do Banco Central, Gustavo Franco. Foi dele ainda a informação de que o Fiat Elba do então Presidente Collor estava no nome do “fantasma” José Carlos Bonfim; o que acelerou o impeachment. Também partiu de Jorge a informação sobre a troca de generais na ditadura: João Batista Figueiredo como sucessor de Ernesto Geisel.Transitava com desenvoltura no mundo da política e da cultura. Dono de um estilo bonachão e de rara qualidade de perguntador. Foi um jornalista de seu tempo.