Nos dois anos e meio em que habitou o presídio Tiradentes, na avenida de mesmo nome em São Paulo, José Adolfo de Granville Ponce aplicou seu reconhecido talento gastronômico em reelaborar, já na cela, a insossa comida servida aos presos.
Os colegas faziam fila.
Nascido em Pirajuí, no interior de São Paulo, em 1933, Granva, como era conhecido, mudou-se para o Rio de Janeiro nos anos 1960 e trabalhou no “Correio da Manhã” e nos “Diários Associados”. Em São Paulo, integrou a lendária revista “Realidade”.
Ex-militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), se alistou na Aliança Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Mariguella (1911-1969), e foi preso em janeiro de 1969.
Dos tempos difíceis de chef do cárcere, surgiu o livro “Tiradentes, um Presídio da Ditadura” (ed. Scipione).
Impávido em suas posições políticas, abandonou organizações e partidos e investiu em projetos de vanguarda do chamado jornalismo underground: as publicações “Bondinho”, “Revista de Fotografia” e “Jornalivro”.
No mercado de livros, renovou a editora Ática ao abrir suas portas para a produção acadêmica brasileira, formando um conselho de intelectuais como Antônio Cândido, Florestan Fernandes e Aziz Ab’Saber.
Eram acadêmicos desse quilate que se juntavam a ex-militantes nos churrascos que Granva promovia no sobrado da Vila Previdência, em São Paulo, onde viveu com a mulher, Maria Aparecida Baccega, até o dia 19 de abril, depois de ver os filhos Valter e Fabiano ganharem o mundo.
Aos domingos, os convivas se preparavam não só para boa comida, mas para os debates do que Granva chamava de “política com P maiúsculo”.
Morreu aos 81, em decorrência de um enfisema pulmonar.