Um cartunista à frente do seu tempo. Assim era Henfil. Na sexta-feira (4/1) completaram-se 20 anos de morte do profissional que criou personagens que tinha características tipicamente brasileiras. Fradim Baixim, Fradim Cumprido, Bode Francisco Orelana e Graúna são alguns dos personagens mais famosos.
Hemofílico, ele se tornou soropositivo numa transfusão de sangue depois de passar por uma cirurgia para a retirada de pedras no pâncreas. Henfil era cético, embora um de seus grandes amigos fosse o paranormal Thomas Green Morton. ‘Ele contou que estava no hospital se preparando para a operação quando Morton botou a mão sobre o corpo dele. Do nada surgiu uma pedra na mão do Morton’, conta Nilson, também cartunista, amigo e conterrâneo de Henfil, que era mineiro.
A doença nunca abatia Henfil, pelo menos aparentemente. Nilson lembra que o amigo detestava ir ao médico e poucas vezes o viu tomando remédios para evitar problemas decorrentes da hemofilia.
Nilson morou com ele por mais de dois anos em São Paulo, onde os dois acompanharam a fundação do PT. Henfil teve participação ativa na política brasileira. Engajou-se na luta contra a ditadura militar, pela democratização do país e pelas Diretas Já.
‘Henfil era solidário, carinhoso, mas era um provocador’, define Nilson.
Tanto Nilson como Aroeira e Ique destacam o perfil criativo e analítico de Henfil e de seus trabalhos. Ique, chargista do Jornal do Brasil e da revista A Semana (Abril), fez sua monografia de final de curso baseada nos traços de Henfil. ‘Ele me influenciou profundamente, principalmente na maneira de pensar. A maioria dos profissionais não quer pensar, fica na comodidade de fazer o que foi dito para ser feito. O Henfil buscava uma solução diferente. Ele estava à frente daquele tempo. Tanto que muita coisa que ele criou foi aperfeiçoada ao longo dos anos. As soluções deles eram as mais simples e chegar à simplicidade é um longo caminho’.
A carreira de Henfil
Uma passagem rápida pela vida e carreira de Henrique de Souza Filho mostra que o mineiro de Ribeirão das Neves, irmão de Betinho e Francisco Mário, também hemofílicos, se especializou em ilustração e produção de histórias em quadrinhos no início dos anos 1960. Colaborou para o Pasquim, através do qual lançou a revista Os Fradinhos. Fez caricatura política para o Diário de Minas, charges esportivas para o Jornal dos Sports, além de colaborações para as revistas Visão, Realidade, entre outras.
Entre os livros que publicou estão Henfil na China e Diário de um cucaracha.
Henfil morreu no dia 4 de janeiro de 1988, aos 43 anos. Seus desenhos são, atualmente, republicados em O Globo.