A morte precoce de Haroldo Palo Jr, causada por um infarto agudo do miocárdio, é um desses acontecimentos que nos tornam um pouco mais órfãos num momento tão carente de exemplos de integridade ética e estética. Um antigo texto do escritor argentino Jorge Luís Borges dizia que cada um que se vai leva consigo uma singularidade. Quem teve a oportunidade de conviver com Haroldo encontrou um homem raro, um misto de simplicidade, transparência e dedicação à causa ambiental que fez dele um dos maiores documentaristas e fotógrafos da natureza do Brasil, além de cientista-cartógrafo da nossa fauna.
De sua casa em São Carlos, interior de São Paulo, Haroldo só costumava sair para filmar e fotografar a vida natural, sendo um dos pioneiros em registrar a exuberância do pantanal. A perícia de suas imagens ficará como a marca de um olhar poético que desconfiava da pretensa superioridade do homem dito civilizado. Otimista na ação e pessimista na análise, Haroldo era descrente da capacidade da humanidade cuidar do planeta e, talvez, por isso fazia o seu trabalho com tanta dedicação e rigor. A qualidade das fotos era acrescida, nos seus últimos trabalhos, pela descrição minuciosa das espécies registradas. Essas singularidades sobrevivem no acervo que deixou e na lembrança dos que desfrutaram de sua convivência.
São 281 mil fotografias, resultado de expedições em vários territórios, como a Antártida, onde foi oito vezes. O seu material foi utilizado por instituições mundiais de preservação ambiental como: WWF, The Nature Conservancy, Conservation International, Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e SOS Mata Atlântica, entre outras. Chefiou uma das equipes na expedição que Jacques Cousteau realizou no Brasil nos anos 80. Na década seguinte, o National Geographic Channel exibiu um documentário sobre ele, intitulado Brave Brazilian. Um de seus trabalhos de maior destaque foi a produção da parte brasileira do documentário Planeta Terra para a BBC, que foi veiculado pelo canal Discovery Channel Brasil.
Em 2010, editou “O Guia de Identificação das Aves do Brasil” obra de autoria do ornitólogo Rolf Grantsau, considerado o mais completo guia já produzido sobre as aves brasileiras. O seu último trabalhado, lançado este ano, foi o guia “Borboletas do Brasil – Butterflies of Brazil“, livro em três volumes, que apresenta 4586 espécies e subespécies brasileiras em mais de 4 mil fotografias. Estava por finalizar o seu projeto mais recente, um livro sobre “Os Besouros do Brasil”. A exuberante natureza brasileira encontrou no engenheiro de formação que se fez fotógrafo e documentarista um dos seus tradutores e as obras inacabadas indicam as linhas de uma continuidade que não podemos perder.
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Pedro Varoni é jornalista e Editor do Observatório da Imprensa.