Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Saturação informativa vs. conhecimento

A cobertura dos jornais brasileiros foi imediata, intensa e não apenas no eixo Rio-São Paulo. De Porto Alegre (Correio do Povo) a Manaus (A Crítica), as edições de quinta-feira (11/11) foram atualizadas de madrugada com o comunicado oficial da morte de Yasser Arafat e do anúncio dos funerais no Cairo e em Ramalah.

Repórteres foram despachados do Brasil, acionados os correspondentes europeus e, na sexta-feira, dois dos jornalões (Estado e Folha) publicaram cadernos especiais (com 8 e 10 páginas), enquanto O Globo dedicou 5 páginas ao assunto.

Material de ótima qualidade, equilibrado, em grande parte oriundo da imprensa internacional, complementado no dia seguinte pela cobertura dos enviados especiais. A figura fascinante e controversa do primeiro líder palestino foi apresentada de forma eqüidistante e balanceada.

A cobertura encolheu drasticamente nos dias seguintes por culpa do feriadão, o que tornou ainda mais visível o contraste ‘grandes dias’ versus ‘dias comuns’.

Mais uma vez nossos jornais nos brindam com o modelo de cobertura ‘por saturação’ e, uma vez mais, somos obrigados a desconfiar da verdadeira dimensão do resíduo de conhecimento que sobra do jorro de informações nas edições ‘históricas’.

O que sabem agora os leitores e não sabiam antes sobre o mais antigo conflito internacional?

Começo, meio e fim

A Guerra da Palestina é a Guerra do Século 20 (considerando que o século começou em 1918). Deflagrada formalmente no fim da Primeira Guerra Mundial com a Declaração Balfour, incendiada pela tragédia do Holocausto, exacerbada pela Guerra Fria, pareceu declinar após a derrubada do Muro de Berlim para reacender-se novamente já no século 21, quando a al-Qaeda apropriou-se de um de seus instrumentos – o terrorismo de massa – e converteu-o em recurso da cruzada mundial contra o ocidente, o cristianismo e o judaísmo.

Não é aqui o lugar para estabelecer as 10 perguntas elementares capazes de esclarecer o leitor médio sobre o conflito da Palestina. Qualquer estudioso com alguma disposição de eqüidistância seria capaz de montar este questionário crucial, mesmo que cada questão exigisse duas respostas.

A controvérsia não confunde – o que confunde é a ausência de referências básicas. O leitor não se incomoda com a apresentação de duas versões antagônicas, mas irrita-se quando não lhe mostram as raízes de um conflito, qualquer conflito.

O gancho para uma remissão esclarecedora poderia ser o mês de novembro: Arafat morreu no dia 11/11/2004; a Declaração Balfour prometendo um lar nacional para os judeus na Palestina foi assinada no dia 2/11/1917; a decisão da ONU partilhando o território e criando as condições políticas para a criação de Israel foi tomada em 29/11/1947. Não importa o gancho, importa contar uma história com começo, meio e fim.

Aturdir o leitor com uma massa de informações pode ser um caminho para evitar a descartabilidade da mídia impressa. Mas também pode ser o caminho para agravá-la.