Deveriam fazer um minuto de silêncio todos que, de alguma forma, tentam entender o que acontece no âmbito da Comunicação Empresarial moderna, caracterizada pela mestiçagem – fusão de jornalistas, relações públicas, publicitários, administradores, sociólogos, entre outras origens profissionais, e de conhecimentos multidisciplinares. Morreu Peter Drucker, ‘um velho jornalista’, como ele gostava de ser chamado, que mestiçou a gestão organizacional com política, filosofia, economia e se transformou, para muitos, na grande referência da administração moderna.
O título é merecido. Drucker, como outros baluartes intelectuais do século 20 com passagem por Viena, entre eles Eric Hobsbawm, teve uma educação humanística na Áustria, Inglaterra e Alemanha (onde fez doutorado em Direito Internacional) que se reflete em seus ensaios, livros, artigos e palestras sempre recheadas de conteúdos oriundos da história e das artes, entre elas a música. Lições calcadas na melhor teoria e orientadas para transformar o mundo, em constante mudança. Palavras faladas e escritas sempre com muita densidade, alheias aos opúsculos de auto-ajuda. Faz parte também da biografia de Drucker a perseguição política. Em 1933, um dos seus textos jornalísticos foi censurado pelo regime nazista.
A militância de Drucker por uma nova Administração fez a cabeça dos maiores empresários dos últimos 50 anos. Por exemplo, Bill Gates (Microsoft) e Andrew Grove (Intel). Entre os seus livros destacam-se Conceito da Corporação, que escreveu com base em estudos que fez para General Motors, nos anos 1940, e As Novas Realidades, escrito nos anos 1970, no qual trata da nova sociedade instruída e na organização baseada na informação e no conhecimento.
Foi professor de Filosofia e Política em Vermont, e de Administração na Universidade de Nova York por quase 30 anos. A partir de 1971, fundou, na Califórnia, a Escola de Administração Peter Drucker.
Novo paradigma
A obra de Drucker tem como temas assuntos indigestos para os comunicadores empresariais tradicionais e mecanicistas (que não pensam a comunicação de forma integrada). Entre eles, destaco itens como liderança, motivação, marketing, inovação, envolvimento e comprometimento dos empregados com os objetivos de uma empresa – este, um fator de sucesso em qualquer organização.
Por falar em público interno, Drucker, nos anos 1960, chamou atenção para um novo trabalhador que surgia no âmbito das empresas e instituições: o trabalhador do conhecimento, que não tinha mais na força física o seu grande trunfo. O trabalhador do conhecimento, segundo o ‘velho jornalista’, tem as suas máquinas entre as duas orelhas e se destaca pela capacidade de transformar informações em valor para a sua organização.
É claro que esse novo empregado demanda da empresa também um novo tipo de comunicação: mais inteligente, mais interessante, profissional, democrática e com predominância do diálogo. Uma comunicação empresarial mais mestiça, que trabalha temas e problemas mais complexos, os quais podem gerar controvérsias, muitos pontos de vista, soluções multidisciplinares e de conhecimentos não só de comunicação. Em resumo, uma nova comunicação, longe de índole taylorista, geralmente baseada na famosa expressão ‘manda quem pode obedece quem tem juízo’.
Desses acontecimentos e desafios, descritos com acurácia por Peter Drucker, em mais de 30 livros e centenas de artigos, advêm a comunicação empresarial moderna.
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Jornalista, professor da ECA-USP e presidente executivo da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial