Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Editoras de elite

Pesquisando e entrando em contato com um segmento menor da indústria de livros, as pequenas editoras, descobri que de pequenas elas só têm o nome e a não utilização do capital para investir em seu principal fornecedor: o autor.

A cada dia é mais difícil para um escritor desconhecido publicar sua obra sem recorrer às pequenas editoras independentes. Os editores que as conduzem não gostam que digam que elas servem como alternativa para autopublicação, pois mantêm uma pequena estrutura de capistas, diagramadores e (nem sempre) revisores de texto.

Apesar dos protestos contra qualificações que repudiam, a verdade é que, em última análise, parte dessas pequenas editoras se prestam, efetivamente, à autopublicação. Por via de regra, não promovem o livro na grande mídia, não distribuem, raramente possuem convênios com grandes livrarias e cobram do autor o serviço prestado. Em média, uma pequena editora mais em conta oferece um orçamento de 1.200 reais para produzir um livro; as mais generosas, que não cobram pela produção, cobram por uma tiragem mínima para a qual disponibilizam um preço nada generoso, em que o único canal de venda é o próprio autor ou algum site precário.

Enquanto as grandes editoras voltam seus holofotes para quem não precisa deles, iluminando autores globais como a atriz Fernanda Torres, lançando obras de cantores controversos como Lobão ou editando o YouTuber da vez, aos anônimos resta o risco de cair nas mãos dos minúsculos e ávidos empresários de livros. As editoras alternativas são de um corporativismo hostil, avessas a críticas sobre métodos de trabalho e muitas vezes optam por transformar o editor no protagonista e os autores em coadjuvantes, através de um marketing personalista e diário em Redes Sociais, com ocasionais aparições nos cadernos de cultura de jornais de maior circulação.

Com as grandes editoras buscando o caminho fácil do lucro pelo cultivo de um feudo de celebridades e pela exceção do mérito de uns poucos escritores, a segunda via para democratizar o painel literário seriam as editoras de menor porte. No entanto, tanto as grandes casas editoriais como as editoras de fundo de quintal convergem para a mesma prática ao produzir somente literatura de classe média, escrita e consumida pela classe média e alta, os que tiveram acesso a uma boa formação colegial e acadêmica. Ou seja, um mercado restrito. O livro no Brasil é um produto que chega com preços elevados ao leitor, os produzidos por pequenas editoras são ainda mais caros e fazem dos autores mascates para comercializá-los. Quando as editoras, de um modo geral, se desviam do padrão, pregam um rótulo desnecessário, é o exemplo da tal “literatura da periferia”. Um preconceito escancarado.

Em tempos de crise, para um autor desempregado ou com baixa capacidade financeira, a única opção permitida para se publicar são os e-books e a Amazon, mas e-books ainda não são bem aceitos, apesar dos preços mais acessíveis.

Prosseguimos então com uma literatura para poucos, com editores reclamando da falta de demanda, mas sem iniciativas para popularizar os valores de produção e venda dos livros. Os autores publicados por corporações editoriais e aqueles que se autopublicam pagando por isso continuam resumidos a castas sociais, que estão longe de representar a totalidade da dimensão cultural do Brasil. Além do nosso imenso analfabetismo, que é uma contradição comercial para as editoras que em nada colaboram para reduzi-lo, há uma nação de escritores e leitores alijados por uma política que faz da literatura o melhor retrato do nosso elitismo.

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Alexandre Coslei é jornalista.