Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Joel dos Santos Filho
(28/6/2005)


A inquirição de Murad a Joel


O SR. JAMIL MURAD (PCdoB – SP) – Sr. Presidente, queria passar imediatamente a fazer as perguntas ao interrogado, Joel Santos Filho.


Joel Santos Filho disse, no depoimento à Polícia Federal, que conhecia o Sr. Arthur Wascheck desde 1992, quando ele, Joel, que está aqui como interrogado, como investigado, era coordenador do MEC. E, nessa época, o Sr. Arthur Wascheck, que se apresentou aqui como empresário, já estava preocupado com propina, e V. Sª, Joel, se associou ao Wascheck em investigações de propina. Quer dizer, em outras palavras, é um grupo que pelo menos há treze anos está associado ao submundo das licitações. Treze anos. E o Joel diz que recebeu carta branca de Arthur Wascheck mostrando a intimidade entre eles, o jogo de interesses entre eles para investigar licitações de compras de uniformes em São Paulo. E contratou o vereador de oposição, apresentado por alguém da USP.


Segundo seu depoimento na Polícia Federal, você contratou alguém da USP porque você achava que deveria contatar um vereador de oposição para detonar a licitação de uniforme. E quem ele procurou? O Sr. Marcos Zerbini, do PSDB de São Paulo, vereador de São Paulo, do PSDB. E falou que esteve em contato com outros políticos em São Paulo. A minha pergunta, está no seu depoimento na Polícia Federal, não adianta fazer sinalização que não, porque está aqui registrado, quero saber quem são esses outros políticos de São Paulo. Sou Deputado Federal de São Paulo, moro na Cidade de São Paulo e um já identificamos é o vereador Marcos Zerbini, do PSDB de São Paulo. Você falou que contatou outros políticos de São Paulo.


Bom, depois, no seu depoimento à Polícia Federal, sobre esse episódio atual, dos Correios, ele disse que o Arthur Wascheck deu carta branca para ele comprovar, registrar as irregularidades de Maurício Marinho. Muito bem, posteriormente, vocês estiveram reunidos, você esteve trabalhando nessa questão dos Correios com um agente chamado Jairo Martins, que foi cabo da Polícia Militar do Distrito Federal, foi soldado da PM do Distrito Federal, desde 89, em 93 foi da ABIN e trabalhou na ABIN até 2001. Depois teria vindo à Câmara de Deputados e saído e voltado à Polícia Militar em 2003, ou seja, o Sr. Jairo Martins que trabalhou com você nessa gravação em relação ao Sr. Maurício Marinho. Só que esse Jairo Martins é o mesmo contratado pelo Carlinhos Cachoeira para gravar aquelas irregularidades do Deputado recentemente cassado, chamado André Luiz.


Queria, inclusive, nesse caso, o Sr. Jairo Martins fala que ele já contatou logo o Sr. Policarpo; o Sr. Wascheck falou: será que tem algum jornal, isso daria imprensa. O Sr. Jairo Martins falou: dá imprensa e aí o próprio Jairo Martins que é o seu comparsa nesse jogo falou: dá imprensa e aí contatou o jornalista Policarpo da revista Veja e mostrou o DVD logo no dia seguinte, mostrando que o interesse, no meu entendimento, não era apenas comercial ou da bandidagem, mas tinha o interesse político nesse processo. E essa organização – que eu não ainda não descobri o nome, mas que é o Arthur Wascheck, o Joel, o Molina, o Jairo Martins – é contratada em determinados momentos para fazer um determinado jogo sujo. Então, eles têm algum proveito comercial nisso, mas o principal é que eles são especializados em gravação secreta etc. e que serve para uma determinada finalidade política.


Depois ele entregou a última fita de DVD também para o Sr. Policarpo, que era jornalista da revista Veja.


Eu queria saber esclarecimento seu – e esta é a oportunidade. Se você não ajudar a esclarecer, para o bem público, você vai ser condenado e vai sofrer as penas de membro de um grupo de criminosos contra o patrimônio público, criminosos contra as instituições. E você daria seqüência ao acobertamento disso.


Então, era isso. Desde 92, com Arthur Wascheck, foi investigar licitação de compra de uniforme em São Paulo e contatou um político do PSDB chamado Marcos Zerbini, que é vereador na cidade. Quero saber quais foram os outros políticos contatados e o que você sabe dessa investigação que o Carlinhos Cachoeira contratou junto ao Jairo Martins para investigar e que acabou resultando na cassação do André Luís. Se você participou também desse processo, já que não aparece o seu nome ali.


O SR. JOEL SANTOS FILHO – Deputado, objetivamente, quanto a Cepesp, eu já retifiquei de início. Na realidade, não foi o Arthur que delatou o esquema de corrupção na Cepesp, como eu pensava a princípio e declarei na Polícia Federal, até sob alguma pressão, porque foi para mim uma surpresa a prisão.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Você elogiou a Polícia Federal e disse que não foi pressionado. Está escrito, você assinou e, inclusive, você declarou hoje aqui.


O SR. JOEL SANTOS FILHO – Elogiei e ratifico o elogio quanto à Polícia Federal. Eles me trataram bem. Agora, eu fiquei assustado, realmente. Eu nunca fui preso, Deputado. Nunca fui preso. Só pensava na minha família naquele momento, por favor.


Agora, respondendo a sua pergunta do Arthur. Então, eu tomei o cuidado, quando vi o depoimento do Arthur, de perguntar para o meu chefe, na época, que era o Professor Abdala se, realmente, tinha sido o Arthur que disparou o esquema. Ele disse: não, Joel, não foi o Arthur. Foi o Razeira, que ele me falou, que entregou a fita aqui. O Arthur veio várias vezes comentar sobre isso, como todos os fornecedores.


Os pagamentos que eu indiquei para fazer para a empresa do Arthur, na realidade, foi um procedimento da própria secretaria, Deputado. Eles apresentaram os processos de que eles haviam fornecido. Nós examinamos a documentação. Não fui só eu; foi o pessoal todo de um departamento que analisa, isso é passado para o diretor, que manda para o financeiro, que paga, que é o ordenador de despesas.


Eu não vejo atitude ilícita nenhuma aí nem de quem é ré que entregou essa fita, porque estava delatando o esquema de corrupção na Cepesp.


Quanto a São Paulo, a mesma coisa. O que fiz em São Paulo? Eu não conheço outros políticos em São Paulo. Nem o Sr. Marcos Zerbini eu conhecia. Eu falei com um amigo meu da…


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Qual o nome da pessoa da USP que te apresentou?


O SR. JOEL SANTOS FILHO – Eu declarei, Paulo Hernandes. O Paulo disse: olha, Joel, tem um vereador, que é o Marcos Zerbini, mas ele também não o conhecia. E disse: eu vou ver um amigo meu que conhece e vou dar o telefone dele. Você entra em contato com ele.


E foi assim que aconteceu. Peguei, entrei em contato com ele, ele marcou comigo um local para almoçar. Eu mostrei e disse: olha, vereador, eu tenho essa documentação aqui, que um amigo meu mandou de Brasília, dizendo que houve superfaturamento lá em Brasília e tal. O modus operandi desse pessoal é o mesmo. Qual que era o interesse do Arthur em São Paulo? Ele queria participar da licitação de uniformes em São Paulo, com algumas empresas dele, sei lá, com alguns representados dele. Então, ele queria, efetivamente, travar essa licitação, para que pudesse entrar nessa licitação.


Bom, como minha atividade parava aí, o que eu podia fazer diante disso? Que poder eu tinha para parar uma licitação que estava em andamento, para parar uma licitação em que tinham declarado antes que os ganhadores seriam Rhodia, Du Pont e não sei o quê e mais uma empresa, a Alpargatas? Eu achei que o Vereador teria poder para isso. Entreguei para ele e fui embora. Na realidade, o que eu fiz foi isso.


Quem delatou o esquema da Prefeitura de São Paulo, dos uniformes, não fui eu não, foi o Vereador, com a documentação que eu forneci para ele. Foi somente, tão-somente isso. Tem um inquérito em São Paulo, os senhores podem requisitar, está tudo lá. Foi tão-somente isso. Existe toda uma documentação farta em São Paulo.


E a notícia que eu tive depois, através do próprio Arthur, foi que não adiantou nada, porque, na verdade, a Prefeitura de São Paulo continuou a comprar, etc e tal. Eu não sei. O que eu posso lhe falar é isso.


Quanto ao Jairo, eu não conheço o Jairo. Conheci o Jairo… Agora eu conheço, é lógico.


O SR. JAMIL MURAD (PCdoB – SP) – Quais outros políticos de São Paulo?


O SR. JOEL SANTOS FILHO – Nenhum.


O SR. JAMIL MURAD (PCdoB – SP) – Porque você declara aqui na Polícia Federal, está aqui…


O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral. PT-MS) – Deputado Jamil, eu só pediria para V. Exª acelerar no tempo, para concluir, em função de que há outros oradores, outros parlamentares inscritos.


O SR. JAMIL MURAD (PCdoB – SP) – Mas é importante isso, Sr. Presidente.


O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral. PT-MS) – Ok. Mas conclua, Deputado.


O SR. JOEL SANTOS FILHO – Eu não declaro aqui, Deputado. Se V. Exª puder me mostrar, se V. Exª puder me indicar… Eu não declaro que conheço outros políticos em São Paulo. Declaro que entreguei para o Vereador Marcos Zerbini, cujo Partido eu não me recordava até o senhor esclarecer que é o PSDB.


Quanto ao Jairo, concluindo, lembrei-me: conheci o Jairo pela apresentação que o Arthur me fez no escritório dele. A primeira vez, ainda pedi ao Jairo que não houvesse divulgação. Depois, novamente, encontramo-nos num restaurante aqui de Brasília que se chama Intervalo. Mesma coisa: no restaurante Intervalo, o Arthur pediu encarecidamente para esse Sr. Jairo, para esse rapaz, o Jairo, que não houvesse divulgação. E ele disse: não, Sr. Arthur, eu sou profissional nisso, estou acostumado a fazer isso, ninguém vai divulgar nada. Pronto. Esse é o meu conhecimento do Jairo.


O Molina eu conheço do churrasco na casa do Arthur, e depois vim tomar pé com ele no Rio de Janeiro e, conseqüentemente, depois, na Polícia Federal, lamentavelmente.


O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral. PT-MS) – Muito obrigado, Deputado Jamil Murad.


RODAPÉ


NOTAS


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ORDEM 006


CHAPÉU DEPOIMENTOS


TÍTULO Antonio Osório Menezes Batista (30/6/2005)


AUTOR


OLHO Trechos relativos à mídia da transcrição literal das notas taquigráficas da oitiva da depoente Antonio Osório Menezes Batista à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, criada com a finalidade de investigar as causas e conseqüências de denúncias e atos delituosos praticados por agentes públicos dos Correios, Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (30/06/2005)


TEXTO


A gravação


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Além de V. Sª, há mais alguém indicado pelo PTB nos Correios?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Não, não. Nos Correios, há um que veio, foi chamado por mim, e veio a convite meu entrar no PTB do Distrito Federal, que é Fernando Godoy. Mas, quando ele foi trabalhar comigo, ele não foi como petebista. Ele foi porque eu o conhecia aqui. Ele era amigo de outras pessoas, do Otávio, do Arruda, de pessoas daqui. Dez anos em Brasília. Para mim, uma pessoa como essa, que conhece Brasília e que conhece a administração, muito querida principalmente entre os carteiros, entende? Uma pessoa desse tipo…


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Essa pessoa que serviria desse elo entre o Partido e os recursos não poderia ter sido o Maurício Marinho, tal qual ele anunciou na gravação?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Olha, Doutor, eu não acredito nesse negócio do Maurício Marinho. Eu não estou aqui para fazer…Não quero ser leviano para dizer uma coisa desse tipo.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – A que V. S.ª atribui…


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Para o partido, para o Antônio Osório e para o Roberto Jefferson, acho muito difícil o que foi feito. Primeiro, porque tinha muito pouco contato com o Roberto Jefferson.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Muito pouco contato com…?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Com o Roberto Jefferson. Ele não tinha quase contato com o Roberto Jefferson. Ele foi indicado. Roberto Jefferson não o conhecia. Daí o motivo pelo qual fico a desconfiar. Porque, quando sai daqui, na sexta-feira de manhã, para São Paulo, quando estive na Diretoria Regional de São Paulo, encontrei com o Dr. Eduardo Medeiros, diretor de Tecnologia, conversei. Aí, começou o pessoal a dizer que estava faltando produto, e eu tomei as providências.


Quando eu cheguei às quatro horas da tarde no hotel que tem convênio com os Correios, eu recebi um telefonema do Dr. Fausto, que é o assessor de imprensa dos Correios. O Dr. Fausto me dizia o seguinte: ‘Osório, está havendo problema na sua área, e o Policarpo Júnior está com uma matéria para fechar da Veja. Eu gostaria se você pudesse falar com ele…’


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – O senhor pode, cronologicamente, dizer mais ou menos quando isso aconteceu?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Foi na sexta-feira. Dia 14. Foi sábado? Foi no dia 13 de maio.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Dois dias antes da…


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Um dia antes.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Um dia antes da publicação.


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Um dia antes, porque eu estava em São Paulo. Eu cheguei, peguei o telefone, ele me deu o número do telefone, e eu liguei para o Policarpo. Eu não conhecia o Policarpo. Ele chegou e disse:’Ah, Dr. Osório. Pelo menos alguém responde uma ligação’. Ele disse: ‘Dr. Osório, foi Roberto Jefferson’, veja bem como estava a coisa, ‘quem indicou o Dr. Marinho?’. Eu digo: ‘Não. Quem indicou o Marinho fui eu, até porque não podemos trazer ninguém de fora, tem que ser da própria empresa’. Ele chegou e disse: ‘Mas ele não é amigo de Roberto Jefferson?’. Eu digo: ‘Que eu saiba, não’.


O Marinho esteve com o Roberto Jefferson e comigo em duas oportunidades. Uma, no aniversário do Deputado Roberto Jefferson, em que eu convidei meus amigos, os assessores, os consultores, chefes de departamento. Alguns foram, outros não foram.


A outra vez foi quando o Roberto Jefferson foi aos Correios – foi a única vez em que ele foi aos Correios – ao gabinete do Presidente, me avisou, eu o acompanhei. Quando voltou, passou na Diretoria de Recursos Humanos – eu ainda era Diretor de Recursos Humanos – e quando lá chegou estava Marinho, estava o Godoy. Eu entrei na Diretoria Comercial que ficava junto. Foi nessas duas vezes.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – O Marinho não foi acompanhado de um parlamentar, não foi indicado por algum parlamentar?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Eu tinha transmitido ao senhor que havia um currículo que me foi encaminhado para os Correios pelo Deputado José Chaves. Mas lhe garanto: isso ajudou, mas não foi isso que determinou. O que determinou foi o que vi, a apresentação que eu vi, foi o histórico dele como diretor do departamento e outras informações que tivemos.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Eu admito isso, até porque há boas referências em relação a V. Sª. Mas esse foi um enfoque que, sob o seu juízo, ocorreu. Mas que o Maurício Marinho foi indicado ou, pelo menos, foi acompanhado e poderia ser essa cunha, tanto é que ele foi com um parlamentar do PTB para ser indicado a V. Sª, que era um…


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Não. Ele mandou um ofício, aliás, um currículo, como mandou de outros.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Sim. Ademais do currículo, houve a indicação de um parlamentar do PTB.


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – É isso que estou dizendo. O Deputado José Chaves mandou o currículo, como mandou de outros. Eu só escolhi o de Marinho depois que eu vi o histórico dele e o trabalho que ele fez no Departamento de Treinamento, que deu origem à Universidade.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Há uma divergência entre as informações de V. Sª com uma pessoa e as do Maurício Marinho com uma pessoa e essa pessoa – não quero já anunciar, mas na seqüência talvez eu lhe diga, para não aparentar que eu o estaria induzindo – referencia uma data muito anterior do conhecimento da gravação que V. Sª teria tido.


Aquele histórico do motoboy que levou a fita aos Correios, que V. Sª estaria viajando e que só teria recebido na semana seguinte. Há uma pessoa muito próxima a V. Sª ou ao Maurício que testemunha, na Polícia Federal, que foi recebida a fita e que estavam ali juntos V. Sª, o Maurício e, salvo engano, o Fernando Godoy; tiveram acesso, quiseram, a todo custo, saber que pessoa teria levado lá; soltaram o pessoal de segurança, entrada, tudo, para identificar quem entregara a famosa gravação. Isso muito antes do fato, da data em que se diz que V. Sª teria tomado conhecimento.


A pergunta é: exatamente qual é o primeiro momento em que V. Sª tomou ciência da gravação?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Eu assisti à fita no domingo, dia 15, na casa do Dr. Salmeron, juntamente com o Roberto Jefferson. A fita eu assisti aí.


Na quinta-feira, eu tinha dentista. Cancelei o dentista, porque eu estava com problema de lombalgia, um dor muito grande nas costas, quando chegou um envelope, que eu não saberia dizer se era a fita ou se não era a fita, acredito hoje que fosse, e me entregaram. Eu estava de saída, peguei, para Fernando Godoy, entreguei. ‘Fernando, eu estou viajando amanhã muito cedo, estou de saída, depois eu vejo… Veja isso aí.’ E saí. E viajei para São Paulo. Foi aí que recebi o telefonema do Policarpo.


Quando chegou no outro dia, eu vi a matéria na revista Veja. Tentei entrar em contato com o Presidente, não consegui, só fui entrar no sábado, e disse tudo aquilo que já falei com o senhor.


Quando voltei, na segunda-feira, tive uma reunião cedo, já subi direto para a diretoria e apresentei a minha carta de exoneração, e a diretoria achou por bem transformá-la em afastamento. Eu desci, convoquei todos os meus assessores e consultores, muito emocionado, e disse para eles: ‘Eu só peço a vocês que contem a verdade e a maneira como nós, sempre, nos entrosamos aqui, a maneira como sempre os tratei, a maneira como sempre eu procedi com vocês; que eu nunca pedi nada a ninguém, nunca fiz isso, etc. e tal.’ Pedi à secretária: ‘Arrume o que for meu.’ Tinha alguns livros meus. E saí, deixei aquilo ali. Desci o elevador e fui-me embora. Só vim a receber depois, parece que fui rapidamente, foi o Presidente que me mandou uma carta de Maurício Marinho aos ecetistas, etc.


Tive ímpeto até de procurar o Marinho. Mas, depois, cheguei e disse, eu vou procurar, os meus telefones estão grampeados e, conseqüentemente, vão pensar coisas que, na verdade, não estou querendo. Estou querendo é que se apure com isenção, esse foi o motivo pelo qual eu pedi meu afastamento.


Logo depois, saiu a entrevista de Roberto Jefferson na Folha de S. Paulo. Aí eu me senti em condições de continuar, digamos, afastado. Aí eu, novamente, e dessa vez de maneira irrevogável, irrestrita, pedi o meu afastamento, porque afinal de contas eu sou do PTB, o partido tomou essa posição. A minha indicação para lá foi do diretório da época de José Carlos Martinez e o Roberto era o chefe, era o líder do Partido.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PT – PR) – Há um depoimento que diz que no dia 5 de maio, não no dia 13, aproximadamente 10 dias antes da publicação da matéria da revista Veja,…


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Eu soube disso.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PT – PR) – V. Sª soube dessa versão?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Eu soube dessa versão, e inclusive ontem…


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PT – PR) – E que pessoa seria essa? Era um funcionário?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Não, eu soube que estavam dizendo que tinha chegado nessa data lá. E como ontem saiu uma matéria, uma nota, na Folha de S. Paulo – que eu estava deixando de ler, porque estava me aborrecendo muito -, dizendo que foi encaminhado não no dia 4, mas no dia 5, que foi pelo motoboy, e que essa fita teria saído do PTB. Ora…


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PT – PR) – Exato. E que, na verdade, não era…


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Eu garanto ao senhor o seguinte: eu vi a fita, no domingo, na casa do Dr. Salmeron, no dia 15. Foi aí que eu vi, com o Dr. Roberto Jefferson.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PT – PR) – V. Sª tem conhecimento sobre como o Dr. Salmeron teve conhecimento da fita?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Não tenho, senhor.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio.PT – PMDB – PR) – O senhor ouviu junto com ele?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Ouvi com ele e com o Roberto Jefferson.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – E ele não falou nada sobre como aquilo tinha chegado às mãos dele?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Não, também nem perguntei assim. Fiquei muito interessado em ver as imagens que me chocaram muito, enfim, procurei analisar: Por que surgiu isso? De onde veio? Comecei a fazer algumas conjecturas que todos nós somos levados a fazer.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – O senhor conhece Arthur Wascheck?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Conheci.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Que tipo de relacionamento? Comercial?


O SR. ANTÔNIO OSÓRIO MENEZES BATISTA – Ele esteve… vi duas vezes o Arthur. Uma vez ele pediu uma audiência, uma audiência na minha sala, lá no…


O SR. PRESIDENTE (Maguito Vilela. PMDB – GO) – Desculpe-me a interrupção, mas eu, como Presidente, tenho que ter responsabilidade aqui. Há ainda outro depoimento, 23 ou 24 inscritos para indagá-lo, outro depoimento, o depoimento do Deputado Roberto Jefferson. Temos que decidir: ou vamos ser objetivos nas perguntas e respostas, ou nós vamos ter que adiar ou prorrogar para outro horário o Deputado Roberto Jefferson. Não há como…


RODAPÉ


NOTAS


LEIA TAMBÉM


ORDEM 007


CHAPÉU DEPOIMENTOS


TÍTULO Arlindo Gerardo Molina Gonçalves (28/6/2005)


AUTOR


OLHO Trechos relativos à mídia da transcrição literal das notas taquigráficas da oitiva da depoente Arlindo Gerado Molina Gonçalves à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, criada com a finalidade de investigar as causas e conseqüências de denúncias e atos delituosos praticados por agentes públicos dos Correios, Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (28/06/2005)


TEXTO


O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral. PT-MS) – Reabrindo os trabalhos da CPMI, gostaria de convidar o Sr. Arlindo Gerardo Molina Gonçalves para que reiniciemos os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito.


Justifico que tivemos que interromper os nossos trabalhos porque o Senado e a Câmara estavam votando e porque houve solicitação, do plenário do Senado, para a suspensão dos trabalhos da CPMI, como determina o Regimento.


Pediria só um pouquinho de paciência a todos os Senadores, aos Deputados e à imprensa, pois estamos também votando. O nosso querido Relator, Osmar Serraglio, não chegou ainda, dado que estava votando na Câmara, mas já está retornando. Pediria só um pouco de paciência.


Com a palavra, o Sr. Arlindo Gerardo Molina Gonçalves.


O SR. ARLINDO GERARDO MOLINA GONÇALVES – Boa noite, Srs e Srªs Parlamentares, boa noite, Sr. Presidente, boa noite, Sr. Relator. Em função de um trabalho que eu vinha desenvolvendo na Prefeitura de Belém – praticamente por isso que acabou tendo toda uma seqüência, que culminou em eu estar aqui sentado na frente de vocês -, eu vinha fazendo um plano de viabilização de metas para a Prefeitura pela Fundação Getúlio Vargas. Eu soube que…


O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral. PT-MS) – Sr. Molina, eu só pediria a V. Sª que se qualificasse: nome, endereço, um relato rápido da formação de V. Sª, profissão, por favor.


O SR. ARLINDO GERARDO MOLINA GONÇALVES – Meu nome é Arlindo Gerardo Molina Gonçalves, moro na rua Prof. Pantoja Leite, nº 304, no Rio de Janeiro, e, como profissão, sou consultor ad hoc da Fundação Getúlio Vargas. Desenvolvo, paralelo a isso, a função de… Sou arrendatário de uma fazenda e presto consultoria para mais uma outra, duas outras empresas. Em função disso e em função da Fundação Getúlio Vargas, eu estava fazendo um trabalho em Belém. Esse trabalho em Belém, eu soube que o prefeito de Belém tinha ido conversar com o Senador Ney Suassuna. Fui ao Senador Ney Suassuna para saber o que eu poderia acrescentar no meu projeto de Belém, o que é um processo normal. A partir do momento em que você termina um plano de viabilização do plano de metas, você vai para um plano de censo econômico. Iso tudo acaba desaguando numa reforma administrativa. E em cima disso você tenta captar outros serviços para uma mesma prefeitura, o que é um processo normal de um consultor, você vai agregando valor.


Imaginando o que eu poderia agregar de valor a partir do Senado Federal, a partir da ajuda que pudesse vir do Senado, pedida pelo Prefeito Duciomar Costa, fui conversar com o Senador Ney Suassuna. Pedi ao Senador Ney Suassuna que me recebesse e ele me recebeu. Eu não o conhecia com intimidade, eu tinha dado aula num colégio do Senador Ney Suassuna há muito tempo atrás. Moro no mesmo bairro que o Senador Ney Suassuna, moro no Rio de Janeiro, freqüento a associação que o Senador Ney Suassuna já freqüentou, mas sem nenhuma intimidade maior. Como consultor da Fundação Getúlio Vargas, pedi uma audiência e o Senador Ney Suassuna me recebeu.


Comentando com o Senador Ney Suassuna, ao final da conversa, falando com ele se, por exemplo, na reforma administrativa, que eu poderia fazer uma reforma administrativa pequena e uma reforma administrativa maior, que essa reforma administrativa poderia, por exemplo, ser financiada pelo PNUD e que eu poderia precisar, por exemplo, da aprovação do Senado para determinados financiamentos externos para a Prefeitura de Belém. Ele se colocou à disposição, até por que disse que era um grande amigo do ex-Senador Duciomar Costa. Ao final da conversa, comentei com o Senador Ney Suassuna: Senador, é verdade que está havendo uma conversa entre o PT e o PMDB, numa aliança para o Governo do Estado do Pará no ano que vem?’ O Senador me confirmou, até porque estava na imprensa.


Eu cheguei ao Senador Ney Suassuna e falei: ‘O senhor não acha que o Prefeito da capital é um grande eleitor e que não pode se fazer um acordo desses sem passar por ele?’. O Senador concordou, disse que era muito amigo do Prefeito Duciomar e eu lembrei a ele que o Prefeito Duciomar é um homem de partido. Falei com ele que eu teria um encontro com o Deputado Roberto Jefferson e que, se ele quisesse, eu poderia falar com o Deputado. Ele falou: ‘Bem lembrado, fala com ele que a gente pode tomar um café-da-manhã, porque eu gostaria de conversar isso com ele’. Eu falei: ‘Senador, quem sou eu para marcar um encontro entre um Senador da República e o Presidente de um Partido? O senhor pelo menos ligue a ele dizendo que, quando eu for a ele, estou autorizado a marcar esse encontro, ao senhor falar, e se ele quiser eu adianto o assunto’. Por aí morreu.


Na sexta-feira daquela semana, depois, marquei com o Deputado Roberto Jefferson, pelo telefone, quem marcou foi eu, fiquei sabendo depois que o Senador Ney Suassuna também falou com ele, mas a marcação do encontro quem fez foi eu. Fiz um link com o Deputado, vim ao gabinete dele. Ele me disse que estava de carro no interior de São Paulo, não iria ao Rio de Janeiro naquele final de semana, iria a Belo Horizonte e de Belo Horizonte iria direto a Brasília, chegando a Brasília na terça-feira, dia 3, depois do meio-dia, e que a gente poderia se encontrar a partir das 17 horas, que eu confirmasse com o gabinete. Dessa forma que foi marcado o encontro.


No dia 3 de maio, fiquei sabendo dessa fita pelo Arthur, que me chamou, perguntando se eu teria condições de avisar ao Deputado Roberto Jefferson. Eu falei a ele: ‘Olha, eu hoje vou estar com o Deputado’. Não fui ao Deputado para falar sobre fita, eu fui ao Deputado para tratar de vários assuntos.


Quando eu ia para Belém, até porque o filho do Deputado está trabalhando em Belém como coordenador-adjunto da Belemtur, eu tentava entrar em contato com o Deputado. Já tinha havido outro encontro com o Deputado no gabinete dele, que, inclusive, foi tratado desse outro encontro no dia 3. Tratamos de um assunto referente a outro encontro no dia 3, com testemunha.


Passei no gabinete, entrei pelo Prodasen, por aquela entrada do Prodasen, fui, tentei achar o Vice-Presidente do Sindilegis, porque eu encaminhei uma proposta ao Sindilegis também de reforma administrativa. Não o encontrei, subi a escada que tem acima da biblioteca, ouvi duas pessoas comentando sobre uma bomba no Correio, um deles estava com um tripé na mão, deveria ser um jornalista. Nesse momento, vi a maior gravidade do assunto que já tinha tratado com o Arthur, porque ele tinha me mostrado uma parte da fita. Me dirigi ao gabinete do Senador Ney Suassuna, encontrei com um assessor do Senador, Sr. Henry, que se propôs, até para conhecer o Deputado, a me acompanhar. Fui ao gabinete do Deputado Roberto Jefferson acompanhado, com testemunha.


Ficamos esperando o Deputado por uns quinze minutos, entramos juntos, o Deputado falou que não poderia ter esse encontro matutino com o Senador, porque ele pratica canto lírico de manhã. O assessor do Senador, então, falou que ele receberia um telefonema do gabinete marcando outro dia, outra hora. Nesse momento, o Deputado Roberto Jefferson transcorreu sobre canto lírico, sobre que tinha parado de fumar, sobre as vantagens, exercícios de diafragmas, uma série de coisas, uma conversa normal, uma conversa tranqüila. Quando ele falou que parou de fumar, inclusive, eu perguntei, eu tinha dado uns charutos a ele e perguntei o que ele tinha feito com os charutos. Ele apontou a porta, eu quero até falar sobre esse assunto dos charutos, porque a porta estava aberta, um assessor dele estava na porta, ele apontou ao rapaz e falou: ‘Olha, quem vai se dar bem é ele’. Imagino que tenha sido ele que ficou com os charutos. Depois disso, falamos sobre o filho dele em Belém, da vontade dele de nomeá-lo Presidente da Belemtur, que seria o patrão do filho dele. Comentamos um assunto sobre Câmara e Senado, sobre as dificuldades do Governo na Câmara e as dificuldades no Senado. Essa conversa toda levou mais ou menos uns 15 minutos.


Nos despedimos, o Deputado deu a volta na mesa, me pegou por debaixo do braço, e, entre a porta do gabinete do Deputado e a porta que dá – não a porta de entrada do gabinete do Deputado, no anexo IV -, entre aquela primeira da saída do gabinete particular dele até a porta que dá para a salinha de espera, nesse pedaço, de pé, andando, em menos de dois minutos, eu participei ao Deputado sobre um boato. Falei com o Deputado o seguinte, um boato: ‘uma bomba atômica vai explodir nos Correios, acabei de escutar. Eu escutei que um tal de Marinho’ – não escutei isso, eu sabia da fita, falei que tinha escutado -, ‘que um tal de Marinho, diretor de contratação’…


Ele me cortou e falou: ‘diretor de contratação é o Osório’.


Eu falei: ‘um tal de Marinho, diretor de contratação, foi flagrado e gravado recebendo dinheiro dentro do gabinete dele nos Correios’.


Ele me falou: ‘não conheço nenhum Marinho’.


Eu falei: ‘Ótimo! Isso é bom sinal. Já estou mais tranqüilo.


‘Se isso aconteceu, é caso de demissão, não posso fazer nada’.


Mas eu falei: ‘mas ele disse que está pegando dinheiro para você, com teu genro, envolveu o nome do teu genro, do Partido.


E ele falou: ‘não posso fazer nada, Molina. Pode ter muita gente por aí que pega dinheiro e diz que é para mim. Não conheço nenhum Marinho.


Eu falei: ‘bom, se você não conhece nenhum Marinho., ótimo!


E assim nos despedimos.


Não houve expulsão de gabinete. Eu estava… O único momento que não tive a testemunha do seu Henry foi exatamente nesse pedaço, em pé, entre a porta do gabinete particular dele e a entrada da salinha de espera. Isso foi muito pouco tempo, porque, quando saí, ainda alcancei o Henry antes do elevador. Então, isso deve ter levado no máximo um minuto.


Então, vejam bem: ele alega que eu fiz uma extorsão, uma chantagem para obter benefícios para um tal de Sr. Fortuna. Eu fui preso, o Sr. Fortuna foi preso, a Polícia Federal fez todos os levantamentos do mundo, e se chegou à conclusão: eu não conheço nenhum Fortuna.


Então, eu pratiquei uma extorsão, uma pseudo-extorsão em menos de um minuto, de pé, num ambiente com mais três pessoas – que são as duas secretários mais um assessor -, andando, com uma notícia velha, porque a notícia que já estava divulgada para a revista desde abril. Isso foi no dia 3 de maio. Foi uma notícia velha, que depois pelo noticiário fiquei sabendo que além da revista Veja, a própria revista Veja fez checagem nos Correios ainda no mês de abril. Então, setores dos Correios também sabiam dessa fita, porque é normal que a revista faça essa checagem. Que a Abin, pelos noticiários, estou sabendo que também tinha notícia dessa fita desde abril; e também pela própria imprensa e jornalistas que me telefonaram. E a própria Polícia Federal poderia ter essa fita, já que a Veja, normalmente, numa situação dessa gravidade, não deixaria de avisar a Polícia Federal.


Então, eu pratiquei uma extorsão de pé, andando, em menos de um minuto, com uma notícia velha, para obter benefícios para uma pessoa que eu não conhecia, que nunca vi, que nunca me viu. Tudo isso foi levantado e investigado à exaustão pela Polícia Federal.


Então, esse é o assunto em pauta que me levou a ser preso e que me trouxe aqui. Os envolvimentos que tive nesse assunto foram muito maiores depois da gravação sair na revista do que antes. Até aquele momento, eu sabia da fita. No dia 3 de maio, eu soube do fita. No dia 3 de maio, eu escutei esse comentário no Senado. No dia 3 de maio, fiz o aviso ao Deputado Roberto Jefferson. Isso é uma cronologia que, nos outros depoimentos, eu vi que ficou muito perdida, porque, do dia 3 de maio, houve um final de semana inteiro pela frente, e só no dia 15 de maio é que houve a publicação na revista Veja. Então, entre o dia 3 de maio e o dia 15 de maio… E no dia 3 de maio, à noite, cheguei para o Arthur e falei: ‘Olha, o Deputado não conhece nenhum Marinho. Ele disse que isso é caso de demissão. Leve essas fitas para os Correios’. E ponto final. O dia que ele levou eu não sei. Como ele entregou eu não sei. Até aquele momento, eu não sabia quem tinha feito, eu não sabia o mecanismo que ele tinha usado. Eu não conversei com ele sobre esse assunto depois, até porque ele viajou.


Quando houve a publicação da fita, no dia 15, já no dia 14 se sabia, ainda tentei entrar em contato com o Deputado. Não consegui. No dia 16, de manhã, acordo e meu nome está no jornal. O Deputado Roberto Jefferson estava me acusando de tentar uma chantagem com ele. Se não me engano, o Jornal do Brasil dizia até que eu tinha pedido dinheiro. Tentei falar com o filho dele, não consegui. Tentei falar com ele, não consegui. Tentei falar com o Prefeito de Belém, não consegui. Nesse momento, a partir daquela notícia, eu já era um pária social, ou seja, já senti que foi feita toda uma barreira, e não conseguia chegar em ninguém. Vim para Brasília. Ainda tentei entrar em contato com ele. Ele não estava no gabinete. Não foi ao gabinete, ou pelo menos me disseram que foi direto para o plenário e deu o discurso, onde citou meu nome. E meu mundo, que tinha começado a ruir na segunda-feira, desabou na terça-feira com o discurso dele em plenário.


A partir daquele momento, a natural curiosidade do ser humano é, primeiro: quem é o tal do Fortuna, que não conheço e que me envolveram junto com ele. Tenho que perguntar para alguém, tenho que procurar saber. Fiquei em Brasília do dia 17 até o dia 20, fazendo um trabalho de gestão para mim mesmo, ou seja, comecei a focar, pedi um computador emprestado, inclusive para o próprio Arthur, peguei Internet, jornal, revista, tudo que podia, para me inteirar do que estava acontecendo, para me inteirar exatamente sobre os envolvimentos em que eu estava ‘involucrado’, ou seja, da forma como eu estava ‘involucrado’ nesse assunto.


Peguei um advogado amigo meu, que infelizmente não posso pagar porque é um excelente advogado, e fiz minhas indagações jurídicas sobre as implicações que aquilo poderia ter para mim. Perguntei se valia a pena eu ir ou não à Polícia Federal. Ele me respondeu: ‘Molina, volta para o Rio, volta para sua casa, atende todo mundo, seja jornalista, seja polícia, seja quem for, mostre que você não está fugindo, que você está num endereço fixo e que pode ser localizado por qualquer autoridade ou qualquer pessoa, na hora que quiserem’.


Voltei para casa no sábado. A situação em minha casa logicamente foi um burburinho total. Minha filha, minha mulher, todo mundo super nervoso, super constrangido. Amigos, vizinhos, todo mundo perguntando o que estava acontecendo, porque um Deputado falou meu nome no plenário, e numa situação bastante desagradável. Ou seja, é um desagravo muito grande à minha pessoa.


Um dos jornalistas que me ligou me fez a pergunta: ‘O senhor foi chamado na Polícia Federal?’ Minha resposta está no jornal, se não me engano, O Estado de S.Paulo. Eu falei: ‘Ainda não, estou esperando. Estou em minha casa. Da mesma maneira que você me localizou, a Polícia me localiza. Vou falar com ela à hora que ela quiser’.


Muito bem. A partir desse momento, quando digo que meu envolvimento com esse assunto foi posterior ao dia 3 de maio, até o dia 16, ou dia 17, porque foi a partir desse momento que pedi ao Arthur que me explicasse tudo. Ele voltou de uma viagem, ele estava, se não me engano, em Manaus, ele falou comigo, no dia em que a revista saiu, que estava em Manaus. Eu pedi para ele: ‘Nós precisamos nos encontrar, porque eu quero saber dessa história toda. Tudo direitinho, como é que foi, porque naquele dia você não me explicou a história toda’.


Ele marcou para terça-feira daquela semana, se não me engano, que ele viria ao Rio. Marcou no Hotel Glória. Eu pedi que ele levasse o Joel, porque ele tinha feito uma… Tinha conversado com o Joel, tinha dito que Joel tinha falado com ele e tinham falado em duas gravações. Eu falei: ‘Opa! Então o assunto, ou seja, existe o comprometimento maior do que você me contou até agora. Vamos fazer o seguinte? Vamos nos encontrar no Rio de Janeiro. Eu quero saber de tudo, como é que aconteceu, quem fez, quem não fez, como é que foi, como é que deixou de ser’.


Daquele dia, do dia 15 até… No dia 15 não, desculpe. Foi no dia em que eu voltei para o Rio, foi no dia 20, 21, 22… No dia 22. Do dia 22 em diante, o Arthur me disse que estava muito preocupado com o Joel, que esse assunto tinha fugido das mãos dele, que ele gostaria que eu realmente conversasse com o Joel, porque o Joel estava apavorado, que ele também estava apavorado. Eu falei: ‘Então, nada melhor que a gente se encontrar. Já que você vem para o Rio, então que venha o Joel, a gente se encontra no Rio de Janeiro. Toma todos os cuidados necessários, porque até agora a única pessoa envolvida neste assunto sou eu. Então vamos estudar, vamos ver como é que está essa situação. Está certo? Porque o meu mundo já caiu, vamos ver o que a gente pode preservar disso tudo’. E dessa forma foi que nós marcamos um encontro no Hotel Glória. A partir daí os fatos tomaram conta. Ou seja, a partir daí já houve, logo depois, a Polícia Federal entrando no assunto, a partir daí as pessoas que fizeram a gravação já foram descobertas, a partir daí veio busca e apreensão e o meu mandado de prisão e a partir daí os fatos tomaram conta da… Ou seja, já não houve mais controle de ação nenhuma. Ou seja, os fatos tomaram controle da ação e, em função disso, a seqüência foi o que é… Aí já é história, já foi manchete, já foi notícia.