Christiane Amanpour voltou à CNN, sua “casa” por 27 anos até se mudar, em 2010, para a rede ABC. O objetivo da mudança era apresentar o programa dominical This Week. Dois anos depois, uma das mais conhecidas correspondentes de guerra da televisão americana passou a se dividir entre as duas emissoras: apresentará programas especiais na ABC, onde mantém o cargo de âncora de assuntos globais, e comanda um programa com seu nome, Amanpour, na CNN International.
Aos 54 anos, a veterana sabe como conciliar as coisas. Esta não é a primeira vez que ela se divide entre dois canais: de 1996 a 2005, a jornalista cobria conflitos pela CNN e fazia reportagens para o 60 Minutes, da CBS. Nascida em Londres e criada no Irã, Christiane foi para os EUA estudar – frequentou a Universidade de Rhode Island. No início da década de 80, estagiou na BBC Radio, e em 1983 entrou para a CNN.
A rede de notícias a cabo, que nos últimos anos ficou atrás dos rivais Fox News e MSNBC, comemora a volta da jornalista. “Me sinto energizada de poder me reconectar com uma audiência global”, afirma. O momento também é bom para ela. O This Week sob o comando de Christiane não teve o sucesso esperado pela ABC, que começou a perder público nas manhãs de domingo. O “perfil internacional” da jornalista pareceu não se encaixar bem em um programa voltado basicamente à política de Washington. “Apresentar o This Week é uma oportunidade incrível, e teria sido burrice não aceitar. Eu fui para lá com a compreensão de que daria [ao programa] uma perspectiva global. Mas quando a corrida presidencial entrou em ritmo acelerado, ele se tornou muito mais nacional do que eu havia me proposto a fazer, então esta foi a saída perfeita”, diz ela.
Perspectiva diferente
Em 1996, um perfil da revista Newsweek resumia a popularidade de Christiane: “Ela é uma mulher, ela é corajosa, e ela tem sotaque”. Mas ela é mais que isso, diz Hadley Freeman em artigo no jornal britânico Guardian. “Assim como acontece com os melhores âncoras da TV a cabo americana – Rachel Maddow na esquerda, Anderson Cooper no centro e Bill O’Reilly na direita –, não há a noção de enganação, e os telespectadores confiam nela”.
Christiane diz que sempre rejeitou a ideia de que o público americano não liga para “nada sério, nada estrangeiro”. O fato de ser estrangeira e sua larga experiência profissional – que inclui guerras como a da Bósnia e do Golfo e entrevistas com líderes como Yasser Arafat e Mahmoud Ahmadinejad – dão a ela uma perpectiva diferente. E é aí que ela discorda da cobertura política americana. Enquanto ainda ancorava o This Week, a jornalista ficou perplexa com a cobertura das primárias do Partido Republicano, por exemplo. “Tanto tempo foi gasto dando espaço a pessoas como Michele Bachmann e Donald Trump, quando para mim parecia óbvio que Mitt Romney iria ser o indicado [do partido]. Nunca entendi aquilo”, lembra.
É esta cobertura baseada em fococas e inclinação política, que ela abomina, que as emissoras rivais da CNN adotam: a Fox News na direita, e a MSNBC na esquerda. A CNN tenta permanecer “neutra” – ou, como define Christiane, “objetiva” –, mas críticos alegam que isso lhe custa a audiência. A jornalista discorda: “A Fox não tirou telespectadores da CNN; levou telespectadores que estavam insatisfeitos com todos os canais de notícias. Eles cultivaram uma base política. É o que [a Fox] faz e não deveria fingir que faz outra coisa. O problema é que ela colocou pressão sobre as outras estações a cabo para que assumissem um papel mais político”.
Apaixonada pelo que faz
A própria Christiane já foi criticada, acusada de parcialidade ao reportar da ex-Iugoslávia. Ela, no entanto, vê uma grande diferença entre ser “apaixonado” e “agir como defensor de um partido político, que não é o que eu faço”. “Não fico neutra entre uma vítima e um agressor”, completa.
O artigo do Guardian lembra que a jornalista tem laços com personagens do alto escalão do Partido Democrata. Christiane é casada com James Rubin, que foi porta-voz do Departamento de Estado durante o governo de Bill Clinton; um de seus melhores amigos era John Kennedy Jr, com quem dividiu um apartamento na época da faculdade; e ela diz que Jackie Kennedy Onassis foi uma grande mentora para sua vida. Em uma foto em seu escritório, a jornalista aparece junto a Nancy Pelosy, ex-presidente da Câmara dos Representantes.
“Eu tive muita sorte na minha carreira, sendo uma mulher em um mundo de homens, mas ainda existe muito preconceito, o antigo clubinho masculino. Nancy Pelosi me disse que levou 200 anos para que 17% do Congresso fosse formado por mulheres em um país cuja população é 50,8% feminina”, conta ela. “Neste ritmo, vamos precisar de mais 600 anos para ter igualdade no Congresso! Precisamos prestar muita atenção na participação das mulheres na América e Europa, assim como no Afeganistão e Arábia Saudita e nos suspeitos de sempre. E nós poderiamos, por favor, ter uma mulher chefiando uma emissora de TV nos EUA?”, diz Christiane. “Chegou a hora”. Informações de Hadley Freeman [Guardian.co.uk, 15/4/12].