Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Liberdade de imprensa sob ameaça da influência chinesa

O secretário para Assuntos Internos de Hong Kong, Tsang Tak-sing, pediu a membros do Conselho Legislativo, em novembro do ano passado, que votassem contra uma moção defendendo a liberdade de imprensa no território, aberta pela deputada Emily Lau, do Partido Democrático, em meio à preocupação sobre a influência da China na mídia de Hong Kong. “Hong Kong tem um grau maior de liberdade de imprensa do que antes da entrega da cidade à China, em 1997, semelhante a lugares mais desenvolvidos no mundo”, disse.

Na realidade, ele mais parecia um funcionário do governo chinês citando exemplos de “boas ações”, em resposta às críticas do registro de violações de direitos humanos da China. Tais declarações contrastam duramente com a realidade de Hong Kong, ex-colônia britânica onde o livre fluxo e acesso à informação vêm sendo gradualmente e de maneira constante restringidos após seu retorno à soberania da China. Embora a liberdade de imprensa esteja garantida na constituição de Hong Kong, a censura está cada vez mais semelhante à da China, onde há um controle grande sobre a mídia e qualquer debate público.

Número alto, diversidade pequena

Em Hong Kong, que é uma Região Administrativa Especial da China, a proliferação de veículos de mídia é grande. Em 2010, a cidade-estado – que tem sete milhões de habitantes – consumiu 46 jornais diários e 642 periódicos, segundo o Hong Kong Yearbook. O número alto, entretanto, não garante uma diversidade de vozes, parte fundamental para a manutenção da liberdade de expressão.

Segundo uma pesquisa conduzida pela Associação de Jornalistas de Hong Kong (HKJA), em abril, quase 87% dos 663 jornalistas entrevistados disseram que a liberdade de expressão piorou desde 2005, quando Donald Tsang assumiu o cargo de executivo-chefe (posto que ocupou até junho deste ano). Os números seguem a mesma tendência de uma pesquisa realizada pela HKJA em 2007, na qual 58,4% dos jornalistas afirmaram que a liberdade de expressão erodiu desde a entrega da cidade, em 1997. Os resultados confirmam a preocupação da indústria midiática. Mais de 92% dos entrevistados na última pesquisa consideraram que a atitude do governo em relação ao fluxo de informação ultrapassou a autocensura como principal modo de erosão da liberdade de expressão.

Censura e autocensura

De muitos modos, o governo agora controla qual informação pode ser reportada e quais imagens e sons podem ser divulgados. A mídia é impedida de atuar em muitas coberturas e é forçada, muitas vezes, a veicular apenas material oficial – além disso, na maioria das vezes as fontes não são identificadas. O controle das informações de fontes pelo governo é mais prejudicial em Hong Kong do que em qualquer outro lugar porque não há um sistema multipartidário na região. O partido do governo é a única fonte de informação oficial.

Também preocupantes são os relatos do tratamento agressivo recebido por repórteres em campo. Na passeata de 1º de julho do ano passado – uma manifestação de indignação pública contra a destruição da democracia –, pelo menos 19 repórteres foram atingidos por spray de pimenta e um foi preso sem motivo.

Em agosto, o acesso da mídia aos três dias de visita do vice-premiê chinês Li Keqiang foi negado para a maioria dos jornalistas, que ficaram longe da cerimônia oficial. Mais danoso à liberdade de imprensa é o aumento da autocensura entre jornalistas. Na pesquisa do HKJA realizada em abril, 79,2% dos participantes disseram que a autocensura agora é mais grave do que no começo da administração de Tsang, em 2005.

Manipulação

Observadores em Hong Kong alegam que o escritório de ligação com Pequim fez um esforço tremendo para ajudar o novo executivo-chefe, Leung Chun-yin, a ganhar votos nas eleições em abril. Três dias antes da votação, o jornal Sing Pao distorceu a coluna de opinião do veterano comentarista Johhny Lau, para passar a impressão de que ele apoiava a candidatura de Leung. Na verdade, Lau rejeitava ambos os candidatos no artigo, que foi alterado sem seu consentimento para “dos dois, eu escolheria Leung Chun-ying”. O editor-chefe do Sing Pao, Ng Kai-kong, admitiu que a alteração foi feita para ficar em consonância com a cobertura de capa de apoio a Leung. Logo depois, após um artigo sobre a morte do dissidente chinês Fang Lizhi no exílio americano, a coluna de Lau foi cancelada em definitivo.

Os fatores estruturais da autocensura são reforçados pelo fato de os veículos de Hong Kong serem de propriedade de empresas que estão de olho no mercado chinês. Mais da metade dos proprietários e grandes acionistas são apontados como delegados do Congresso do Partido Nacional ou da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Há também conflitos de interesse com grandes conglomerados com forte influência na publicidade. Informações de Mak Yinting [CNN, 5/7/12].