A novela Julian Assange continua. Desde que, na semana passada, o governo do Equador anunciou que concederia asilo político ao ciberativista, ele continua refugiado na embaixada equatoriana em Londres. Se sair para tentar deixar a Inglaterra, pode ser preso. Assange vive na embaixada há dois meses, desde que a justiça britânica aprovou sua extradição para a Suécia, onde responde a processo por abuso sexual. Defensores do fundador do site WikiLeaks, no entanto, temem que o caso sueco seja apenas um pretexto para enviá-lo aos EUA, onde poderia responder criminalmente pelo vazamento de informações confidencias do governo.
Na segunda-feira (20/8), o governo do Reino Unido afirmou que continua disposto a chegar a uma solução diplomática com o Equador. Ainda assim, diplomatas britânicos em Quito deixaram claro que o premiê David Cameron não considera a possibilidade de conceder um salvo-conduto para que Assange deixe o país. “Não daremos o salvo-conduto ao senhor Assange. Sob nossa lei, tendo esgotado todas as opções de apelação, somos obrigados a extraditá-lo para a Suécia. É nossa intenção manter esta obrigação. Mas continuaremos debatendo com o governo equatoriano e com outros para tentar encontrar uma solução diplomática”, afirmou um porta-voz de Downing Street.
O Equador tenta manter a pressão sobre o Reino Unido, que na semana passada chegou a afirmar que poderia revogar o status diplomático de sua embaixada em Londres. Em uma reunião da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) no domingo (19/8), que reuniu chanceleres de países sul-americanos na cidade de Guayaquil, o alerta britânico foi criticado e foi redigido um documento em apoio ao Equador. Segundo o porta-voz do governo de David Cameron, diplomatas britânicos tentaram explicar aos membros da Unasul a decisão de manter a extradição de Assange. “Este homem enfrenta acusações graves na Suécia. O caso de extradição foi analisado em nossos tribunais. Passamos por este processo. Agora temos que continuar com nossa obrigação de extraditá-lo”, afirmou.
Discurso na sacada
No domingo (19/8), Assange discursou na sacada da embaixada equatoriana e declarou que é alvo de uma “caça às bruxas” comandada pelos EUA. “Os EUA devem acabar com a investigação do FBI. Devem prometer perante o mundo que não irão perseguir jornalistas por jogarem luz sobre os crimes secretos dos poderosos”, afirmou, fazendo um apelo para que o presidente Barack Obama “faça a coisa certa”. O ciberativista também pediu que as autoridades americanas libertem o ex-soldado Bradley Manning, acusado do vazamento de documentos sigilosos ao WikiLeaks. A Casa Branca não comentou as declarações de Assange.
Assange elogiou o Equador, afirmando que o país tomou uma decisão corajosa em nome da justiça, e agradeceu a seus defensores, que nos últimos dias fizeram uma vigília em frente à embaixada para tentar evitar sua prisão. Ele não fez, no entanto, menção às acusações de abuso sexual ou à extradição para a Suécia.
Até Chávez entrou na história
Em editorial intitulado “O guarda-costas latino de Assange”, o Wall Street Journal (18/8) afirma que a declaração do ministro do Exterior britânico, William Hague, de que o governo pode vir a usar uma lei de 1987 para entrar na embaixada equatoriana e prender Assange, é compreensível. “Os vazamentos do senhor Assange puseram vidas em risco, notavelmente as de afegãos que cooperavam com a Otan e tiveram suas identidades expostas ao Talibã pelo WikiLeaks”, dizia o texto.
O site fundado pelo jornalista e ciberativista australiano já divulgou milhares de documentos secretos das guerras do Afeganistão e Iraque e telegramas diplomáticos dos EUA, irritando as autoridades americanas e de outros países.
O Journal também chama o presidente equatoriano, Rafael Correa, de protégé do presidente venezuelano Hugo Chávez. “[Correa] afirma temer que Assange seja extraditado para os EUA em vez da Suécia. Mas, ainda que o Departamento de Justiça tenha investigado Assange, ele não foi indiciado. A verdadeira motivação de Correa é mostrar solidariedade a um camarada inimigo das democracias ocidentais. O consolo para o Ocidente é que Assange e seus protetores equatorianos talvez tenham que conviver uns com os outros por um longo tempo”, encerrou o jornal. Com informações de Nicholas Watt [Guardian.co.uk, 20/8/12], The Wall Street Journal [18/8/12] e Helen Warrell, Chris Cook e Andres Schipani [Financial Times, 20/8/12].