No dia 10/7, às 4h30, uma explosão danificou a fachada de um dos escritórios de Monterrey doEl Norte, segundo jornal mais importante do México, mas ninguém ficou ferido. No mesmo dia, à tarde, alguém ligou para a redação, sem se identificar, e disse que mandaria seu guarda-costas enviar uma mensagem ao diário – e, 15 minutos depois, um atirador abriu fogo contra outro escritório na mesma cidade, usando uma AK-47. Em seguida, o criminoso lançou duas granadas calibre 40; uma explodiu do lado de fora do prédio, a outra milagrosamente não disparou, no segundo andar da redação, com pessoas trabalhando. Investigadores encontraram sete cápsulas de bala da AK-47 no local.
A violência continuou: 19 dias depois, um outro escritório doEl Norte, em San Pedro, sofreu um terceiro ataque. Dessa vez, três criminosos encapuzados munidos de rifles automáticos renderam o segurança, derramaram gasolina na recepção e atearam fogo no local. Até agora, ninguém ficou ferido nos ataques, mas não houve presos e nem progresso nas investigações.
O que chama atenção é a escolha dos dias dos ataques. Nas vésperas do primeiro ataque, 9/7, o El Norte denunciou uma suposta ligação entre o departamento de veículos motorizados, conhecido como ICV, no estado de Nuevo León, e carros roubados. Segundo a matéria, 175 mil pares de placas haviam desaparecido do inventário do ICV e que fontes de dentro do órgão disseram que “muitas delas foram usadas para legalizar carros roubados ou importados ilegalmente dos EUA”.
Se a acusação for verdadeira, o jornal estava perigosamente perto de expor uma associação criminosa lucrativa. O número de carros roubados no estado subiu 50% em 2011, comparado ao ano anterior, e o esquema da placa pode ser apenas uma parte de um modus operandi ainda maior. Segundo o El Norte, a diferença entre vender um carro roubado no México e vendê-lo como uma placa legal é de R$ 28 mil.
Cinco anos e meio depois que o presidente mexicano Felipe Calderón iniciou uma guerra contra cartéis que vendem drogas a consumidores americanos, o crime organizado intensifica-se no país – e não está limitado a tráfico de drogas. Quando a imprensa ousa em denunciá-lo, recebe tratamento igual ou pior ao dado ao El Norte. De acordo com o jornal, 47 jornalistas foram mortos no país desde 2006, 13 desapareceram e houve 40 ataques contra propriedades de mídia.
O Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Criminal (CCSPJP, sigla em inglês), organização não governamental que monitora estatísticas de homicídios, descobriu que cinco das 10 cidades mais letais no mundo no ano passado, 40 estão na América Latina. No ano passado, pela primeira vez, Monterrey juntou-se à lista, na medida em que a violência explodiu. Informações de Mary Anastasia O'Grady [The Wall Street Journal, 27/8/12].
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