Com pouco mais de um mês no cargo, Margaret Sullivan vem transformando o tradicional papel do ouvidor do New York Times, ao atualizar seu blog quase todos os dias e usar as mídias sociais para acrescentar um misto de vozes e opiniões a seus posts. Seu novo papel, diz ela, lembrou-lhe o quanto gosta de escrever e responder ao noticiário do dia. “Quase todo dia, eu chego e digo ‘Hoje não vou usar o blog’. Mas sempre encontro algo que me parece irresistível e acabo escrevendo alguma coisa”, disse a ombudsman numa entrevista por telefone. “É assim que me sinto mais envolvida e mais satisfeita – quando trabalho em alguma coisa imediata e que consigo abordá-la diariamente – e isso tem tudo a ver comigo no tempo em que era repórter.”
A ouvidora disse que aborda a cobertura feita pelo NYTimes como se fosse uma repórter com uma opinião a partilhar. Escreveu sobre assuntos como a decisão do jornal de não abordar o 11º aniversário do 11 de setembro na primeira página, sua nova postura de aprovar citações de entrevistados e seus motivos para usar a expressão “imigrante ilegal”. Foi elogiada por suas respostas rápidas a tais questões e, nas palavras do New York Magazine, teve uma recepção entusiástica. Mas também foi criticada por ser “tímida demais” quando discorda das posições da equipe do jornal em seu blog.
Crítico externo e repórter interno
Margaret trabalha no andar principal da redação do NYTimes, o que lhe permite melhor acesso à equipe. “Fico na redação. Portanto, se alguém tem objeções a mim, encontra-me com facilidade. E posso procurar um colega e dizer-lhe: ‘Estou escrevendo sobre isto. Poderíamos conversar?’ Também insisti em dar um acompanhamento posterior às pessoas para ver se têm mais algumas opiniões sobre um assunto e, às vezes, volto ao assunto com essas novas opiniões.”
Embora a presença de Margaret na redação a torne mais acessível, também coloca um desafio: como é que a ouvidora mantém a distância necessária para emitir uma opinião? “Tenho consciência de que preciso manter uma certa distância”, diz ela, que assinou um compromisso de ser ouvidora por quatro anos com a opção de renová-lo por mais dois. “Parece-se um pouco como cobrir uma ronda policial a partir de uma mesa na delegacia. Você pode ser amigável, pode conhecer pessoas, mas provavelmente não conseguirá fazer amigos. Até agora, minha impressão é de que todos conseguem uma relação equilibrada.”
Eileen Murphy, porta-voz do NYTimes, disse que o publisher Arthur Sulzberger Jr. e a editora-executiva Jill Abramson queriam que a ouvidora ficasse no andar principal da redação. “Ambos acharam que era importante que Margaret ficasse onde fosse mais fácil interagir com editores e repórteres e próximo às decisões a serem tomadas”, disse Eileen Murphy num e-mail. “E isso era particularmente importante devido à natureza de seu blog diário.” Nem todos os ouvidores que a antecederam ficavam num local tão centrado. Arthur Brisbane, que a antecedeu, ficava em casa, no Estado de Massachusetts, mas passava uns dois dias por semana no NYTimes. Sua sala era um andar acima da de Margaret. “Acho que é uma vantagem ficar na redação”, disse Brisbane a seu colega Craig Silverman numa entrevista, quando se despediu. “É uma espécie de sensação instintiva.” Daniel Okrent, o primeiro ouvidor do NYTimes, disse que preferia ficar longe da redação. “Eu ficava bem longe, no andar térreo, com os editores e redatores da página de opinião, muitos andares abaixo da redação. Minha sala era no final do corredor, vindo de lugar algum para lugar nenhum”, disse Okrent, ao telefone. “Não queria ficar na redação talvez por ser covarde; queria ficar longe das pessoas que iria criticar.”
Margaret diz que, cada vez mais, percebe a importância de compartilhar sua opinião. “Acabei compreendendo que não basta simplesmente relatar alguma coisa e deixar ao leitor a decisão sobre o que você pensa das várias coisas que escreve”, diz ela. “Estou convencida que as pessoas esperam que o ouvidor tenha uma opinião e diga qual ela é.”
Envolvimento com leitores
Todo dia, a ouvidora recebe cerca de 200 e-mails de leitores. “Porém, esse número pode aumentar dramaticamente, dependendo da importância de um tema do noticiário ou de uma reação intensa a algo que eu tenha escrito”, disse ela. A ombudsman e seu assessor Joe Burgess leem as mensagens ao longo do dia e respondem pessoalmente às mais relevantes. Seu objetivo, diz, é “trazer muitas vozes diferentes e trechos de relatos” enquanto escreve no blog. Até agora, fez um bom trabalho; seus posts muitas vezes incluem links para blogs e sites e eventualmente ela os cita. Também usa mídias sociais (em sua entrevista de despedida, por seu lado, Arthur Brisbane disse que as mídias sociais são de um território estranho a ele e que o papel do ouvidor não é um bate-papo).
A ouvidora também ouviu leitores após o primeiro debate presidencial para saber o que pensavam dos esforços feitos pelo NYTimes para verificar informações – e depois, colocou alguns dos comentários a esse respeito num post do blog. “Os leitores do NYTimes são muito engajados; leem o jornal criticamente, têm opiniões, são inteligentes e têm muito a dizer”, disse ela. “Sabia disso quando assumi, mas ainda fico impressionada de como isso é verdade.”
Margaret manteve a coluna do ouvidor, que sai aos domingos, na edição impressa – em grande parte porque quer atender os leitores de ambas as edições. Também aprecia a oportunidade de poder escrever tanto textos curtos quanto longos. “Era importante porque sei que há muitas pessoas que não leem o NYTimes online”, disse. “A coluna é um texto mais burilado e completo. O blog pode ser imediato e não tem que ser a palavra final sobre um assunto.”
Como parte de sua independência da redação, ela escolhe o assunto sobre o qual quer escrever sem consultar um editor. Ela quer avaliar o que faz vendo como os leitores – e outros jornalistas – reagem a ele.
A primeira ombudsman mulher
Recentemente, Margaret Sullivan ganhou atenção por ter repreendido o freelancer Andrew Goldman depois que ele enviou um tuíte ofensivo sobre a escritora Jennifer Weiner. A coluna sobre a controvérsia envolvendo Goldman é o que você espera ver de um ouvidor – ela expôs a questão, coletou dados para fortalecer a matéria e tomou uma posição, dizendo que Goldman é “altamente substituível”. Essa atitude lembrou Mallary Jean Tenore [Poynter, 16/10/12] do texto que escreveu sobre a importância da primeira ouvidora mulher do NYTimes. No texto, dizia que as mulheres contribuem com outro tipo de sensibilidade para uma redação e que esperava que as experiências de Margaret, como mulher e como mãe, influíssem em seus textos.
Embora tenha escrito sobre alguns assuntos relacionados à questão de gênero, a ouvidora descarta a ideia de que os tenha escrito por ser mulher. Jill Abramson compartilhou de sentimentos semelhantes quando lhe era perguntado qual seria seu papel como primeira editora-executiva do NYTimes, dizendo: “A ideia de que jornalistas mulheres trazem um sabor, ou uma sensibilidade diferente às matérias, não é verdadeira”.
Margaret disse que, enquanto mulher, ela pode estar mais sintonizada com assuntos relacionados ao gênero. “É claro que você não tem que ser mulher para gostar de assuntos de gênero. Muitos homens são perspicazes e sensíveis a tudo isso – e algumas mulheres não são”, disse. “Todos nós trazemos nossas experiências e antecedentes para o que fazemos. Portanto, sendo a única mulher em salas de conferência cheias de homens, ou sendo a primeira mulher a ter vários papéis, como editora administrativa e editora, ajudou-me a ser o que sou. Mas, enquanto mãe de um menino, irmã de dois irmãos e bastante feliz por ter alguns amigos maravilhosos, também me preocupo com os homens.”