O governo chinês bloqueou por um breve período na manhã de sexta-feira (26/10) o acesso aos sites do New York Times em inglês e chinês no país, em resposta à decisão do jornal de divulgar um artigo em ambas as línguas descrevendo a riqueza acumulada pela família do primeiro-ministro Wen Jiabao. Autoridades também bloquearam tentativas de mencionar o NYTimes ou o primeiro-ministro em posts no Sina Weibo, um serviço de microblog extremamente popular na China que se parece com o Twitter.
A China mantém o mais amplo e sofisticado sistema de censura à internet do mundo, empregando dezenas de milhares de pessoas para monitorarem o que é dito, apagarem mensagens que se oponham às extensas e não publicadas normas de regulamentação e até postarem novas mensagens favoráveis ao governo.
O ex-presidente da China Jiang Zemin havia determinado o fim do bloqueio ao site do NYTimes após um encontro com jornalistas do diário em agosto de 2011. Os sites da empresa, assim como os da grande maioria das organizações de mídia estrangeiras, não têm sofrido bloqueios desde então, com eventuais exceções, temporárias. Às 7 horas da manhã de sexta-feira, entretanto, o acesso aos sites em inglês e chinês foram bloqueados nas 31 cidades chinesas em que foi feito o teste. O NYTimes postara o artigo em inglês às 16:34 em Nova York (4:34 em Pequim) e terminou o envio do artigo em chinês três horas depois, após a tradução da edição final em inglês. O artigo informava que a família de Wen controlava bens no valor de US$ 2,7 bilhões (em torno de R$ 5,4 bilhões).
A publicação do artigo sobre Wen Jiabao e sua família ocorre num momento delicado da política chinesa, num ano em que facções adversárias e as vidas privadas dos líderes chineses têm vindo a público mais do que o costume, despertando um interesse internacional sem precedentes. O Congresso do Partido Comunista será realizado no dia 8/11 e deverá escolher uma nova leva de pessoas que irão liderar a China nos próximos 10 anos.
O comunicado divulgado pelo NYTimes chamou o país “uma sociedade cada vez mais aberta, com uma mídia cada vez mais sofisticada”. “A resposta a nosso site sugere que o NYTimes pode desempenhar um papel importante nos esforços do governo para elevar a qualidade do jornalismo a que povo chinês tem acesso”, informou. O artigo foi o mais popular do site, sendo responsável por 1/3 de visualizações de páginas, enquanto a home foi responsável por 1/3. As estatísticas do site mostram que muitos usuários usaram redes privadas virtuais para conseguir ultrapassar as barreiras dos censores.
Bloomberg enfrenta problemas na China
O NYTimes não é a primeira organização de mídia a ter problemas com os censores chineses. Em janeiro de 2010, o Google decidiu transferir seus provedores para o mercado chinês para Hong Kong – um território semiautônomo fora das barreiras de censura do país – depois que a empresa não conseguiu chegar a um acordo com as autoridades chinesas que permitisse buscas irrestritas na internet.
No dia 29/6, a Bloomberg publicou um artigo descrevendo a riqueza acumulada pela família do vice-presidente Xi Jinping, que possivelmente virá a ser eleito secretário-geral do Partido Comunista no próximo congresso. A partir dessa data, a Bloomberg enfrentou uma série de problemas na China, inclusive o bloqueio de seu site, que é em inglês.
Esforços para elevar a qualidade do jornalismo
Rebecca MacKinnon, professora especializada em liberdade de expressão e questões de privacidade na internet na Fundação New America – um grupo não-partidário com sede em Washington –, disse que a interrupção de acesso à internet na China era uma resposta típica a uma informação que ofendesse os líderes políticos. “É isso que eles fazem. Irritam-se e bloqueiam o acesso”, disse ela. Os sites doNYTimes em inglês e chinês estão hospedados num provedor fora da China.
Eileen Murphy, porta-voz do NYTimes, manifestou sua decepção com o bloqueio de acesso à internet e destacou que o site em língua chinesa tinha atraído “muito interesse” na China. “Esperamos que o acesso seja restabelecido rapidamente e pediremos às autoridades chinesas que garantam aos nossos leitores na China que continuem apreciando o jornalismo do NYTimes”, disse Eileen num comunicado. “Continuaremos divulgando a traduzindo matérias de acordo com os mesmos padrões jornalísticos usados no NYTimes”. Informações de Keith Bradsher [New York Times, 26 e 27/10/12].