Quinze minutos antes do programa Morning Edition ser transmitido para todo o país, a apresentadora Renee Montagne está pronta para gravar sua apresentação de um minuto. Para lembrá-la, o diretor aponta com o dedo indicador. “Bom dia. Foi a vez do presidente cortejar os eleitores latinos…”, diz ela – e sai do ar. No entanto, no estúdio à prova de som, do outro lado do país, “Boa noite” pareceria uma saudação mais apropriada. É apenas 1:45 da madrugada.
O Morning Edition, da rádio NPR tem um dos formatos mais peculiares de todos os programas matinais no rádio ou na televisão: é separado entre a Costa Leste, com o coapresentador Steve Inskeep, em Washington, e a Costa Oeste, com a outra coapresentadora Renee Montagne. O diretor, que fica na Costa Leste, fala com Renee através de um sistema de videoconferência e os co-apresentadores normalmente acrescentam o que chamam “aberturas” a seus roteiros, compartilhando a responsabilidade pelas introduções e entrevistas. “Do ponto de vista funcional, estamos sentados ao lado um do outro”, disse Renne. O fato de estarem a milhares de quilômetros de distância um do outros reflete a diversidade geográfica dos ouvintes.
O formato vem dando certo com Morning Edition, o noticiário de rádio de melhor audiência – especialmente em um momento em que as quedas são a norma num panorama de mídia fragmentada. O programa vem se adaptando à internet ao permitir que os ouvintes baixem episódios, por meio de aplicativos de música, e levando fotógrafos e cinegrafistas em suas viagens de reportagens. “Queremos replicar Morning Edition em todas as esferas que nossa audiência tenha possibilidade de acessar”, disse Madhulika Sikka, produtora-executiva do programa, que foi promovida na semana passada para supervisionar todos os repórteres e editores do setor de notícias do NPR, assim como ajudá-los a preparar as pautas. A organização irá procurar um substituto para o lugar de produtor em breve.
Audiência supera principais programas de TV
Tudo isto pode surpreender as pessoas que ainda associam Morning Edition com Bob Edwards, que apresentou o programa desde o início, em 1979, e foi demitido pelo NPR em 2004. A decisão foi amplamente criticada e havia quem dissesse que o programa seria um fracasso sem ele. Mas na realidade prosperou, em parte graças à opção pela coapresentação, que separou parte do trabalho e permitiu que Renee e Inskeep eventualmente levassem o programa para as ruas. “Nós queríamos pessoas que fossem repórteres, essencialmente repórteres”, disse Margaret Low Smith, vice-presidente do NPR para o setor de notícias. “É verdade que houve alguns momentos difíceis”, disse, referindo-se à saída de Edwards, “mas a ambição estava bem definida e o fato de a termos alcançado é muito gratificante.” Sobre a promoção de Madhulika para ser uma de suas assessoras, Margaret enfatizou “o rigor e o vigor que ela trouxe ao Morning Edition. Eu quero isso.”
No outono passado, Renee apresentou o programa a partir do Afeganistão, por ocasião do décimo aniversário da guerra. Neste verão, Inskeep apresentou-o da Tunísia, Líbia e Egito – na série Revolutionary Road – para informar sobre os efeitos da Primavera Árabe na região. Ele e Renee também levaram o Morning Edition aos estados em que a disputa eleitoral está acirrada, numa série de reportagens chamada First and Main. “Isso é uma coisa que você pode fazer no rádio e seria difícil em outro meio”, disse Inskeep.
No total, Morning Edition alcança 12,5 milhões de pessoas pelo menos por alguns minutos por semana, o mesmo número que alcançava Edwards nos últimos três meses em que esteve no programa. “Este meio muito antiquado tem um negócio muito moderno: você pode ouvi-lo enquanto empreende multitarefas”, disse Inskeep.” A audiência diária é de 6,6 milhões, um número que, se comparado ao dos dois principais programas matinais do canal ABC (Good Morning America) e do canal NBC (Today), lhe é favorável. Cada um desses dois programas tem uma média de 4 milhões de telespectadores por dia.
É importante levar em conta que a verificação dos índices de rádio é feita pela Arbitron e a dos índices de TV, pela Nielsen; portanto as informações não são equivalentes. Além disso, Morning Edition, de duas horas de duração, começa mais cedo (às 5 da manhã na Costa Leste) do que os programas matinais de TV e pode ser atualizado, quando se quiser, até o meio-dia, para que as emissoras o possam transmitir mais tarde. Em dias de noticiário quente, ficam no ar até sete horas. Daí os hábitos noturnos da equipe da Costa Oeste. Renee chega ao serviço à meia-noite (horário do Pacífico), vai para casa após o nascer do dia e dorme por volta das 3 da tarde. “Às vezes, você pensa ‘Que dia lindo!’, enquanto fecha as cortinas”, diz ela rindo.
Numa recente manhã de sexta-feira no estúdio do NPR, ela passou as duas horas que antecediam sua entrada no ar verificando fatos e revisando os roteiros. As manhãs, disse Renee, obedecem a determinado tom – “uma sensação de onde as pessoas estão em sua vida emotiva”. A frase “Você está ouvindo Morning Edition, das notícias do NPR” é sempre lida ao vivo e nunca gravada “porque você tem que dar o tom apropriado”, disse ela. O tom dado a uma matéria sobre um crime é diferente daquele dado a uma previsão da Bolsa de Valores.
“Meu programa termina antes que comece o deles”
Morning Edition beneficia-se indiretamente de dinheiro que o NPR recebe do governo federal, um subsídio que Mitt Romney criticou durante um debate presidencial este mês. Mas seu orçamento vem das cotas que as emissoras pagam pela programação e essas emissoras dependem, em grande parte, das doações de indivíduos ou grupos. O programa, assim como seu equivalente da parte da tarde All Things Considered, é essencial para o levantamento de fundos pelas emissoras.
No início deste ano, de olho na sucessão, o NPR nomeou David Greene como principal apresentador substituto para Morning Edition. Assim como os atuais apresentadores, Greene tem um currículo invejável: ex-repórter de jornal, cobriu a Casa Branca para o NPR e depois passou dois anos como correspondente em Moscou. Prepará-lo para o cargo “é uma atitude inteligente e madura”, disse Renee, embora nenhum dos apresentadores pense em sair do programa.
Às 4 horas da madrugada (horário do Pacífico), a edição do programa está pronta. Os dois coapresentadores trocam informações através de um telefone vermelho especial em seus estúdios e Renee torna a gravar o início de uma matéria para corrigir a pronúncia de um nome. Brincando com a diferença de fusos horários, ela fala sobre seus colegas em Washington: “Meu programa termina antes que comece o deles.” Informações de Brian Stelter [New York Times, 15/10/12].