Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Arquivos atraentes por mais tempo

Para comemorar seu nonagésimo aniversário no ano que vem, a revista mensal de música Gramophone digitalizou suas mil edições, abrangendo 110 mil páginas, para seu aplicativo e seus assinantes da web. Mais do que uma proeza tecnológica, a ressurreição e as possibilidades de arquivar as cópias digitais podem oferecer novas possibilidades de nicho para as revistas – na chamada “cauda longa”, segundo conceito do jornalista Chris Anderson.

O modelo lança luz para editores especializados em conteúdo, que podem estar sentados em cima de uma mina de ouro – se começarem a produzir hoje conteúdo digital à prova de futuro. “Se os leitores não pagam pela mais recente revista deste mês em tablet, pagariam por um arquivo com todas as suas edições anteriores?”, indaga Robert Andrews [PaidContent, 31/10/12].

Os benefícios de valor do consumidor são intrigantes. a Gramophone acabou de se lançar no iPad há um ano – atualmente, mil exemplares estão disponíveis para assinantes por £3,99 – aproximadamente R$ 12,80 – por mês, ou £39,99 – R$ 128,00 – por ano.

Conteúdo perene

Outras revistas mostraram interesse em dar uma segunda vida a seus arquivos. A Vogue tornou acessíveis os arquivos de seus 119 anos, uma história de 400 mil páginas. Os assinantes da New Yorker também podem ler todos os arquivos anteriores, desde 1925.

Porém, só porque o armazenamento das mídias modernas o permite, os editores devem avaliar se vale a pena recuperar conteúdos de dezenas de anos atrás. Isso depende se a audiência vai valorizar os arquivos; os da Vogue e da New Yorker são dirigidos à pesquisa histórica, por exemplo. Jamie Jouning, diretor do setor digital da Condé Nast no Reino Unido, disse, em fevereiro: “Dentro dos próximos cinco anos, imaginaria que a maioria de nossas revistas tenha um arquivo com cópias antigas. É um trabalho e tanto. Gostaríamos de fazê-lo de maneira a permitir uma busca e, portanto, é mais do que simplesmente salvá-las em PDF.”

Para alavancar um arquivo de 20 ou 50 anos atrás, outros editores poderiam querer conceber o conteúdo de uma maneira que seja indistintamente perene – válido, inclusive, no futuro. Os artigos da Gramophone são relativamente únicos. Já não são regidos pelo tempo – a maioria das músicas clássicas é antiga, por definição, e a revista sempre consegue a proeza de apresentá-las no presente. Outras revistas talvez tenham que trabalhar mais e mudar de rumo.

Banco de dados de conteúdo

Editores já se comportam dessa maneira nas bancas de revistas e jornais, que vêm sendo dominadas por livros-revista e revistas-livro bem paginados, publicados sem periodicidade fixa. Neles, o conteúdo educativo e comemorativo é excelente. Um exemplo poderia ser uma revista mensal de culinária que reconheça que hoje muitas de suas receitas continuarão relevantes para as gerações do futuro.

Se os editores conseguirem um valor semelhante no reino sem fundo do digital, poderiam terminar produzindo a noção de revista-como-serviço – um imenso arquivo de conteúdo que não seria apenas uma curiosidade histórica, mas algo com relevância duradoura – e uma contínua relação de pagamento com o leitor, como na TV a cabo. Em outras palavras, haverá um filão lucrativo a explorar ao tornar a editora em um banco de dados de conteúdo?