A página no Facebook do Gaston Memorial Hospital oferece conteúdo típico para um hospital de uma cidade pequena na Carolina do Norte, nos EUA: receita de salada de frango para encorajar hábitos saudáveis de alimentação, dicas para evitar acidentes em aulas de Zumba e fotos da equipe vestida para festa de Halloween. No mês passado, entretanto, outra página do hospital foi criada, com denúncias ao presidente Barack Obama e críticas ao “Obamacare”, sistema de saúde pública de seu governo. Rapidamente, a página conquistou centenas de seguidores. Funcionários do hospital, tentando tirar a página do ar, recorreram à real para tentar controlar os danos. “Pedimos desculpas por qualquer confusão e agradecemos o apoio de nossos seguidores”, postaram no dia 8/10. A página falsa saiu do ar 11 dias depois de ser criada, tão misteriosamente quanto surgiu.
Esse é só mais um caso da falsidade que invade a web. No Twitter, que permite pseudônimos, é comum a disseminação de boatos – como foi observado durante o furacão Sandy. Críticas falsas também são um problema constante em sites de direitos de consumidores. No caso do Gaston Memorial, trata-se de um problema grave para a maior rede social do mundo, porque questiona sua premissa básica. O Facebook buscou distinguir-se como um local para identidade verdadeira na web, como diz a seus usuários: “o Facebook é uma comunidade na qual as pessoas usam suas identidades reais. O nome que você deve usar deve ser o seu real, como consta no seu cartão de crédito ou carteira de estudante”. Opções de “curtir” falsas prejudicam a confiança de anunciantes, que querem cliques de pessoas reais para quem possam vender. A falsidade também prejudica a ferramenta de busca que a rede social está construindo.
Problema levado a sério
O Facebook diz que intensificou recentemente esforços para retirar páginas falsas do site. “É uma das prioridades da empresa”, informou Joe Sullivan, responsável pela segurança no Facebook. Atualmente, é muito fácil criar falsos perfis; muitos são criados inclusive com a ajuda de robôs. Também é comum a venda de “amigos” e “curtidas”. Cupons falsos de desconto também podem aparecer na timeline, com o objetivo de fazer com que as pessoas compartilhem informações pessoais. De maneira mais benigna, alguns universitários criam perfis falsos em um esforço para proteger o conteúdo de seu perfil dos olhos de futuros empregadores.
O Facebook quantificou o problema em junho, ao responder um inquérito da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA. Na época, a empresa admitiu que 8,7% dos seus 855 milhões de usuários ativos, ou 83 milhões, eram duplicados, falsos ou “indesejados”, criados para enviar spam ou outro conteúdo para usuários da rede social. Desde agosto, Sullivan informou que o Facebook já colocou um novo sistema automático para remover falsas opções de “curtir”.
Há, atualmente, de 150 a 300 funcionários destinados a detectar e remover fraudes. Se um usuário envia centenas de pedidos de amizades de uma vez só ou curte centenas de páginas ao mesmo tempo, por exemplo, ele recebe um alerta. Dependendo do caso, a conta pode ser suspensa. Em outubro, a rede social anunciou novas parcerias com empresas antivírus. Usuários do Facebook podem fazer o download gratuito ou pago de cobertura contra vírus.
Eleições aumentaram casos falsos
No Estado de Washington, dois grupos com opiniões diferentes sobre o referendo do casamento gay disputaram número de “curtidas” no Facebook. Um deles acusou o outro de estar comprando opções de “curtir”, pois muitas delas vieram de estados que não se importariam com referendo sobre o tema em Washington. Subitamente após a denúncia, o número de “curtir” caiu.
A empresa de pesquisa Gartner estima que menos de 4% das interações em todas as redes sociais são falsas, mas esse número pode subir para 10% em 2014. Na opinião de Shuman Ghosemajumder, ex-engenheiro do Google cuja empresa, Shape Security, foca na falsidade automática na internet, o Facebook deve combater os casos falsos de maneira agressiva se quiser expandir sua função de busca. Informações de Somini Sengupta [The New York Times, 13/11/12].
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